DR JUDIVAN VIEIRA

25 DE JULHO, DIA NACIONAL DO ESCRITOR: QUE VALOR TEM? (Final)

Direto de Brasília-DF.

Com a nova mudança de cenário comercial em que as editoras estão, passo a passo eliminando estoques e adotando o “book on demand”, ou seja, imprimem o livro à contra pedido do consumidor, outra vez o escritor tende a ser prejudicado, na medida em que não tem controle direto sobre as plataformas remotas que recebem os pedidos.

Por fim, necessito tocar em outro ponto sensível. Os escritores, tal qual ocorre com inúmeras outras categorias profissionais, são desunidos, não cooperam, nem demonstram prazer com o êxito de outro escritor.

Já que estamos falando de escritores e venda de livros…

Como tenho livros publicados em Portugal, Espanha, França, Estados Unidos, e brevemente no Reino Unido e em mais de dez países de língua espanhola, posso dizer, por experiência própria, que nenhum país tem tanto respeito por seus escritores, quanto os EUA.

Quando o escritor submete seus originais, se as editoras gostam da qualidade do produto, oferecem, como regra, o que chamam de “advanced”(adiantamento) ao escritor, como se fossem as “luvas” pagas ao jogador de futebol. Esse “advanced” é, apenas, um bônus para que o escritor permita que seu livro seja publicado por tal e qual editora.

Talvez, analisando o descaso com o escritor nacional, foi que o jornal The New York Times(NYT) publicou certa vez uma extensa matéria dizendo que é “ridículo ser escritor no Brasil”.

Quando um escritor quer presentear alguém com seu livro, ele sempre o faz de coração e com muita alegra. Mas, o hábito latino-americano de pedir livros de presente, nos EUA é um pecado capital.

Lembro que ninguém entra em um consultório médico e pede uma consulta grátis; ninguém vai ao escritório de um advogado e pede consultoria grátis; ninguém pede a um arquiteto que desenhe projeto grátis; ninguém pede a um engenheiro que  coordene e fiscalize obra gratuitamente; ninguém pede a uma costureira que faça a barra de sua calças grátis, como ninguém pede a um pedreiro que construa um muro grátis. Por que pedir a um escritor que dê um livro grátis, se o livro é fruto de uma cadeia esgotante de trabalho?

Um escritor, para chegar a materializar a inspiração, paga um preço alto. Dependendo do escritor, lê muito, pesquisa bastante, viaja para encontrar locações para seus personagens, escreve manhã, tarde, noite, ou pelas madrugadas, e, com exceção rara de quem faz algum “best-seller”, no Brasil é praticamente impossível viver somente da renda de escritor.

Essa cadeia de esforço gera dores nas costas, possibilidades de trombose nas pernas por ficar muito tempo sentado, tal qual em longas viagens intercontinentais de avião.

Mas, não é só isto. Após terminar de escrever começa outra jornada por uma espécie de “caminho de Compostela”, em que o escritor tem de enviar os originais se seu livro para várias editoras, e receber 99% de “nãos”, até que um editor se interesse por publicá-lo. Às vezes, é esse editor que vai enriquecer por ter descoberto o “ouro¨.

Como a economia precisa ser educada, a política precisa ser educada, a religião precisa ser educada, insisto em escrever sobre o processo de educação e ensino, porque é ele que constrói, ou implode as pontes pelas quais um povo caminha em direção ao desenvolvimento.

O que fazer para valorizar mais o escritor?

A seguir, apresento oito medidas que podem e devem ser praticadas para enaltecer a literatura, por conseguinte, a cultura nacional e de qualquer país, que assim o deseje:

1 — escolas devem realizar solenidades e outros eventos, de preferência adquirindo uma cota de livros do convidado. É uma excelente ocasião para enaltecer a cultura nacional, divulgando informações sobre autores(as) e suas obras. Podem escrever aos sindicatos, academias e instituições vinculadas à literatura, solicitando a presença de algum escritor(a) para discutir sua obra com os presentes;

2 — bibliotecas devem realizar solenidades e convidar escritores(as) para palestrarem, de preferência adquirindo uma cota de livros do convidado. Podem escrever aos sindicatos, academias e instituições vinculadas à literatura, solicitando a presença de algum escritor(a) para discutir sua obra com os presentes;

3 — Academias, sindicatos e entidades ligadas à literatura devem lançar concursos para escolha e premiação de escritores(as) que tenham produzido obras, nos gêneros literários diversos que seus editais indicarem. Isto pode ser trabalhado com antecedência ao dia nacional ou internacional do escritor.

Tais instituições representativas da categoria podem conceder prêmios em dinheiro, ou bancar a publicação da obra, como meio de premiação, além de concessão de selos de qualidade e medalhas, sem que o escritor(a) tenha que pagar por isto. Tanto oferecer quanto receber prêmios pelos quais se tem de pagar, é prática abominável e assemelha-se ao “jabá”, cobrados de músicos, por emissoras de rádio e TV;

4 — prefeitos, governadores, câmaras de vereadores, câmaras legislativas devem convidar escritores(as) de relevo para homenagear. Podem solicitar ao convidado que profira conferência sobre tema relevante, nas datas comemorativas da literatura nacional;

5 — emissoras de rádio e TV devem, não apenas mencionar a data comemorativa, como escolher dois escritores(as) nacionais clássicos, e três contemporâneos, citando o nome do livro e/ou exibindo a capa deles, em seus comerciais;

6 — bibliotecas devem instituir a SEMANA DO ESCRITOR NACIONAL. Colocando estantes em seu “hall” de entrada, disponibilizando livros de escritores nacionais clássicos e contemporâneos, e promovendo oficinas interpretativas da obra. Podem, inclusive, escrever aos sindicatos, academias e instituições vinculadas à literatura, solicitando a presença de algum escritor(a) para discutir sua obra com os presentes;

7 — livrarias  devem instituir a SEMANA DO ESCRITOR NACIONAL, colocando em local de destaque e durante toda a semana, estante somente com livros de escritores contemporâneos na metade de cima, e livros de autores clássicos na metade de baixo. Devem abrir espaço próprio em suas vitrines para este fim, inclusive promovendo oficinas interpretativas da obra. Podem escrever aos sindicatos, academias e instituições vinculadas à literatura, solicitando a presença de algum escritor(a) para discutir sua obra com os presentes;

8 — editoras devem instituir a SEMANA DO ESCRITOR NACIONAL, colocando em seus catálogos e incentivando que livrarias coloquem durante toda a semana, estantes somente com livros de escritores nacionais clássicos e contemporâneos;

FIM

Siga-me: Instagram  – judivan j vieira

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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