Direto de Brasília-DF.
Nos episódios anteriores abordei a mentira do ex-ministro da educação, que, contrariando a lei da gravidade, caiu sem haver subido. Provavelmente, um exemplo para a física quântica, ou mais uma das “crises nas infinitas terras” politicas do Brasil, o multiverso dominado por supervilões, cultuados por superfãs “acabrestados” feito cavalos de hípica.
Abordei a mentira secular na advocacia brasileira, que por extrema vaidade insiste em propalar que advogado é “Doutor/PhD”, apenas por concluir um bacharelado, sem jamais haver cursado doutorado.
Finalizei os dois episódios anteriores, com os seguintes comentários:
1 — Fez bem o professor Carlos Alberto Decotelli em pedir exoneração! Seria improducente, em todos os aspectos, atuar como agente público, sob o manto da mentira. O mesmo, deveriam fazer todos os deputados, senadores, membros do Poder Judiciário, e do Poder Executivo, que mentem à Nação brasileira, cotidianamente!
2 — Acrescento que ADVOGADOS e OAB deveriam “colocar a viola no saco”, parar de fingir que tocam, e se unirem para corrigir essa mentira gravíssima que perpetuam, sob a vaidosa explicação que advogado é “doutor por tradição e por direito”. Não é uma coisa nem outra!
Quer ser Doutor/PhD, além de seus 5 anos de bacharelato, curse uma especialização, ou vá direto para mais 5 anos de pesquisa doutoral, sendo 2 anos para cursar créditos e 3 para, ainda mais pesquisa, e defesa da tese. Depois que defender a tese, se for aprovado, aí, sim, seja chamado(a), com justiça, de “Doutor”. Do contrário assuma que o título que possui é de advogado e não de “doutor”, como querem e até exigem serem tratados.
Então, a pergunta que fica é: vocês, advogados e OAB, terão a mesma coragem que o ex-ministro teve, ou seguirão perpetuando essa gravíssima e cotidiana mentira?
Resta abordar, em resumo, a cultura do engano na sociedade brasileira.
Toda cultura é carregada de linguagem, mas para compreendê-la bem, é necessário mais diligência, em ouvir, ler, e prestar atenção, que no falar.
O silêncio de um olhar pode gritar, o tamborilar dos dedos numa mesa podem expressar mais que palavras, o levantar dos ombros diante de uma afirmação qualquer, pode demonstrar um “não”. Há signos e significados, línguas e linguagens culturais, pelas quais as pessoas e sociedades se expressam e formam seu caráter.
A evolução, por meio da Teoria do Conhecimento e da necessária adaptação das espécies, esculpe de forma constante no espírito humano a cultura de cada grupo social, seus interesses e também suas preocupações principais e secundárias.
Charles Robert Darwin, no livro “Origem das espécies”, opinando sobre o grau de progresso da evolução organizacional da sociedade e da natureza diz:
“A seleção natural trabalha exclusivamente através da conservação e acumulação de variações benéficas, nas condições orgânicas e inorgânicas às quais cada ser vivo é submetido em todos os períodos de sua vida. O resultado é que todo ser tende a se aperfeiçoar cada vez mais em relação às condições. Essa melhoria inevitavelmente leva ao progresso gradual da organização do maior número de seres vivos em todo o mundo. Mas aqui entramos em um assunto muito complicado, uma vez que os naturalistas não definiram, para satisfação de todos, o que se entende por progresso na organização.”
Para que esse “Ser” consiga se aperfeiçoar é necessária uma força de vontade extraordinária em se deixar educar e, contra isto, militam, além da negligência individual, forças múltiplas responsáveis pela formação social como família, Estado, e sociedade.
Uma Nação se constrói “espiritualmente”, a partir de características como linguagem, religião, culinária, hábitos sociais, costumes e manifestações intelectuais e artísticas. A este conjunto de elementos denominamos, cultura.
Nação, originariamente, é o designativo do conjunto de seres humanos unidos pela mesma cultura. Quando nômades, pouco importava ter ou não um território para nele viver e se multiplicar. Mas, a evolução fez cada Nação migrar do nomadismo ao sedentarismo e concentrar forças em um território para cuidar, cultivar e dele extrair sua subsistência. Essa nova dinâmica sócio-econômica abriria portas para o estágio seguinte da evolução, a entrada em cena do “animal cívico”.
Assim, tribos, clãs, vilas e cidades são designações empregadas para enfeixar ou descrever o grupamento de pessoas em uma mesma circunscrição territorial.
A Nação deve ser olhada com a complexidade e beleza que merece. Uma Nação é subjetiva porque formada por pessoas. É cultural porque todas as pessoas que a compõem estão vinculadas por linguagem, hábitos sociais, costumes e manifestações intelectuais e artísticas em comum.
Nação é, também, um conceito espiritual porque a cultura cria um inconsciente e consciente coletivo que, estranhamente unifica toda a multilateralidade e multiplicidade do individual que a compõe, e distingue das demais.
Em meio a essa quantidade de informação que temos sobre o mosaico indígena, português e negro, que nos constitui, nesses cinco séculos de formação como “povo brasileiro”, parecemos longe de ser uma Nação que ama a si.
O Estado mente cotidianamente para cada nova geração que é formada nas salas de aulas presenciais, ou virtuais, das escolas do país, nas quais, se alguma ética lhes é ensinada, esta é assassinada diuturnamente pelas classes políticas que brigam entre esquerda, direito e centrão, todas querendo o poder pelo poder, e não pelo bem da Nação.
A imprensa cobra ética dos políticos, mas se une em consórcios ideológicos para trabalhar contra quem não a privilegia com altas somas de patrocínio e, assim, o bem do povo, é o último de seus interesses.
O setor privado mente todos os dias “empanturrando” o consumidor de dezenas de propagandas mentirosas, de dezenas de produtos “milagrosos”, como “shampoos” que fazem nascer cabelo no careca, ou que restauram a ponta quebrada, ou danificada e a transforma no fio da perfeição.
As autoridades mentem sobre tudo. Sobre a quantidade de leitos nos hospitais, sobre os números que compõem mais a “insegurança” que a segurança pública. Permitem, com a legislação que “protege” o consumidor contra a propaganda enganosa, que 90% das propagandas, nos enganem; permitem que no “reino” do setor privado, a composição dos preços permita produtores, industriais e comerciantes, nos venderem produtos que não passam de “porcarias”, com preços astronômicos.
A sociedade, cotidiana, mente, com a cultura do “jeitinho”, do “levar vantagem sobre tudo e todos”. No útero da cultura do engano, em que propositalmente educar e ensinar se confundem, o Estado gera o ser humano-massa, dominado e conduzido como “gado” aos currais da esquerda, da direita e do centrão político. Nestes currais, todos, imbecilizadamente são treinados a defender seus “guetos”, nos quais se tornam animais irracionais, e não os “animais cívicos”, com os quais sonhou Aristóteles, o pai da democracia substancial.
Quem aprende o que é democracia substancial, e vê o que os Estados democráticos de direitos e suas classes politicas estão oferecendo, percebe facilmente que a cultura do engano venceu.
Desconstruir a cultura do engano requer deixar-se educar, e não apenas ensinar ou ser ensinado, já que em matéria de mera informação o Google lançou professores, alunos e o resta da humanidade no poço sem fundo da ignorância.
Quem, hoje, consegue absorver a enorme quantidade de informação circulante? Inclua-se, aí, a informação burra, que, qual nascente, está formando uma imensa massa d’água(lembre-se que o humano é mais de 2/3, composto de água), com novas moléculas. Essa água que jorra cotidianamente das fontes dos “sábios”, “brothers” and “sisters” formadores de opinião, ao invés de hidrogênio e oxigênio, está composta somente de CO₂.
Este primeiro quinto do século XXI, a mim, sinaliza que a grande busca futura será por seres humanos que tenham alma dentro do corpo e, que entendam que humanizar coisas e coisificar humanos, é o caminho mais curto para sua autodestruição.
Obrigado por sua companhia!
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