Direto de Brasília-DF.
Como vimos dizendo, o renascimento quis um “novo nascimento para o homem”. No seio deste desejo está o humanismo italiano esculpindo um novo corpo e espírito para a humanidade, ao ressuscitar o pensamento antropológico do filósofo pré-clássico, Tales de Mileto e de filósofos clássicos como Epicuro e Aristóteles.
A idade moderna que se inicia, segundo a teoria mais aceita, no início da segunda metade do século XV, representa uma dádiva para a humanidade porque implicará nessa revolução “mais do mesmo”, ou seja, mais um resgate do pensamento grego antigo para o homem, do que verdadeira mudança de paradigmas. Todavia, que mal há em se reinventar a partir de uma cópia melhorada de si mesmo?
Foi assim que a Itália, creio de forma consciente, contribuiu para um novo despertar com o humanismo, por seu poeta maior, Dante Alighieri e por Petrarca e Boccaccio. Daí em diante, com o humanismo cívico introduzido pelo escritor Pedro Paulo Vergério, em sua obra “Sobre a Educação do Cavalheiro”, dedicada ao Príncipe da cidade de Pádua, Itália, e o humanismo da corte, sendo que o mais famoso livro desta fase foi “O Príncipe”, de Nicolau Maquiavel.
Conveniente recordar que apesar de a busca do humanismo cívico ser pelo “bom cidadão”, os escritos da época enfatizavam que todos os cidadãos deviam obediência irrestrita aos príncipes que governavam as cidades e que o programa educacional de Paulo Vergério não passava do resgate do programa educacional de Quintiliano.
Vergério traçou o papel do processo educacional e de ensino desde a infância até os estudos superiores. Organizou e sistematizou esse processo nos padrões de Quintiliano, mas também nos padrões aristotélicos, pois os pilares do sistema eram a família, o mestre, o aluno e o conteúdo programático.
A sociedade moderna do século XV não aceitava “coitadinhos” nem tampouco permitia a vitimização de fracassados!
As famílias tinham a obrigação de ser a primeira célula educadora e de ensino dos jovens. Cada novo membro deveria crescer com a consciência moral de que era responsável por seu próprio destino. Filho ruim deveria ser castigado ao estilo de cada família, que também se incumbia de autorizar os professores e mestres a castigarem seus filhos, ainda que nesta fase os castigos físicos violentos houvessem sido abolidos. Fato é que na escola Renascentista não havia espaço para aluno medíocre.
Os mestres deveriam ser sábios e proibidos de seguir a filosofia de Platão e Santo Agostinho, para os quais um mestre tinha como função despertar conhecimento, como reminiscências pré-existentes na alma do aluno. O homem antropocêntrico e renascido deveria ser aristotélico e seus mestres deveriam ser encarados como facilitadores, provocadores de discussões, estimuladores da curiosidade de seus pupilos.
Os alunos, portanto, tinham a obrigação de absorver o ensino, se esforçarem com todas as suas forças, e produzirem a transformação da realidade, tirando a “Lição” do campo abstrato e aplicando-a à realidade física.
O conteúdo programático deveria ser introduzido em pequenas dosagens e o professor não podia avançar ao conteúdo posterior antes que o anterior estivesse dominado.
Para encerrar esta pequena recapitulação do que venho dizendo sobre família, mestre, aluno e conteúdo programático do século XV, faço questão de recordar que em cada aluno deveria ser inculcada a disciplina moral. Eles tinham obrigação de aprender a ser moderados em seus comportamentos. Não podiam consumir bebida alcoólica, deveriam reverenciar idosos, costumes e tradições da sociedade culta. Alunos “vagabundos” seriam expulsos das escolas sem dó nem piedade, porque a concepção era a de que o teste final quem aplica é a vida. Se não mereciam serem aprovados pela vida, não seriam notas dadas por professores que os aprovaria para o bem viver.
Se o aluno não arcava com suas responsabilidades pessoais, se não honrava o esforço financeiro dos pais nem intelectual de seus mestres, não merecia a tola piedade que nossas escolas e governos contemporâneos exercem, aprovando-os para as estatísticas estatais e reprovando-os para o mercado de trabalho e para a vida.
O aluno era ensinado a desafiar a si mesmo e não a pais e profissionais da educação e do ensino, como fazem hoje, para ao final serem vitimizados pela sociedade como “coitados” que não resistiram a mil e um traumas de infância.
Esse absolutismo da vitimização tem sido responsável pela criação do exército de monstros que aumenta as fileiras do homem-massa, que alimenta o sistema de dominação estatal contemporâneo e perpetua a imbecilidade e termina por socializar a miséria sócio-econômica.
Foi cobrando responsabilidade pessoal e chamando o ser humano à consciência do exercício de seu livre arbítrio que a humanidade deu saltos evolutivos. A sociedade do século XV não tolerava preguiçosos nem “vagabundos”, como tolamente fazemos hoje. Vitimizamos agressores e incriminamos vítimas. A sociedade da Idade Moderna, há mais de quinhentos anos, não coisificava humanos e humanizava coisas. Quando isto começou a acontecer, principiou seu declínio.
Até breve.
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