DR JUDIVAN VIEIRA

O PROCESSO EDUCATIVO E DE ENSINO, E ALGUMAS MUDANÇAS QUE A PANDEMIA DO CORONAVÍRUS/COVID-19 APONTA (Fim da trilogia)

Direto de Brasília-DF.

 

O QUE FAREMOS COM A GLOBALIZAÇÃO ECONÔMICA AO PASSAR ESTA PANDEMIA?

Dentro da linha de raciocínio que vimos desenvolvendo é possível dizer que não há, no mundo, um consumidor que não goste de comprar produtos bons e baratos.

Confesso que achava muito difícil ser possível conjugar essas duas qualidades em um só produto. Akio Morita, co-fundador da Sony Corporation também pensava assim quando saiu do Japão de terceiro mundo, na década de 60, e foi instalar sua primeira fábrica de rádio de pilha nos EUA.

A biografia de Morita é de uma leitura agradabilíssima. Em Made in Japan ele conta que ao desembarcar na terra de Tio Sam, se viu obrigado a fazer o exercício mental que, particularmente, chamo de “ESAON”: “E” de estacione, “S” de sente-se, “A” de avalie, “O” de oriente-se e “N” de navegue. Porque o senhor Morita teve de fazer essa reflexão? Creio que por três razões, pelo menos. Ele necessitava:

1 – Compreender cenários e atores dentro do qual queria ser um player(jogador);

2 – Avaliar/Julgar cenários e atores dentro do qual queria ser um player(jogador); e

3 – Decidir. O processo de decisão requer compreensão e avaliação prévias.

Compreender, avaliar e decidir são três ações importantíssimas em qualquer planejamento sério para a vida. Não importa se o projeto é para montar um carrinho para vender cachorro quente ou uma multinacional, não importa se a intenção é preparar um plano de aula ou uma exposição sobre os riscos que corre um país ou o mundo em situação de pandemia. Compreender, avaliar e decidir são procedimentos, ou seja, partes ou elementos de um processo que pode determinar o acerto ou o erro que culminarão na eficiência e eficácia ou falência de um projeto.

No Brasil e em países subdesenvolvidos ou não hegemônicos(não são mais chamados de países de terceiro mundo), entre os quais estava incluído o Japão daqueles dias do senhor Morita, pensar em um produto bom e barato parecia uma contradição.

Akio Morita conta que sua primeira atitude foi a de dar uma estacionada, de parar para compreender o mercado americano e avaliar alguns porquês. Após sentar para avaliar, foi que lhe veio a orientação.

Sabe quando o senhor Morita se sentiu seguro para navegar? Quando descobriu que a sociedade americana dos produtos Made in US tinha sido educada para consumir “o de melhor qualidade pelo menor preço”. Em seu livro ele diz claramente que isto foi um tremendo choque cultural em seu modo de pensar, já que em seu Japão se produzia o pior para se vender pelo maior preço. Isto não parece com a mentalidade brasileira?

Akio Morita mudou sua forma de pensar e com ele mudou a Nação japonesa e, na vez seguinte mudou o Estado japonês(apesar de ser um império, considere-o técnica e juridicamente como um Estado). O resto, sobre o progresso da SONY CORPORATION e do JAPÃO, você já sabe. Então, vou voltar ao Brasil.

Não tenho dúvida que o sonho de todo consumidor é o produto bom e barato. Por exemplo, quando posso gosto de ir à Nova Iorque e comprar a mesma camiseta boa e barata de 5 ou 7 dólares, como tenho feito nos últimos 15 anos. Chega a ser um exercício de prazer. Penso: O quê? 5 a 7 dólares mantidos por 15 anos?!? Que relação diferente com o dinheiro e com a relação de consumo! Mas, quando penso nos preços nos países latino americanos e do continente africano nos quais já estive, minha percepção do pior produto pelo maior preço me faz voltar à triste e dura realidade cultural da ganância.

Para entender melhor o que estou dizendo você precisa pensar que quando comerciantes e industriais te dizem que houve aumento da matéria prima e por isto o preço final da mercadoria tem que aumentar, isto é em parte verdadeiro e em parte falso! A verdade da história é que a qualidade ruim e a carestia dos produtos Made in Brazil, Made in Paraguai, Made in China, Made in India, etc, etc, etc.,  decorrem da ganância da cadeia produtiva na qual ninguém se contenta em ganhar 100% de lucro.

A coisa ocorre mais ou menos assim: logo que a demanda por um produto aumenta, os preços são aumentados indiscriminada e sucessivamente até que os 100% de lucro se tornam 300, 400, 500 ou 1000% em dias ou semanas. Quando um industrial ou comerciante percebe que seu concorrente passou a ganhar mais segue o mesmo caminho de ganância. A qualidade ruim do produto é a mesma, só aumentou o preço e, como o consumidor não foi, não é, nem se deixa educar, segue sendo uma espécie de “rato de laboratório” que gira sem parar a rodinha do mercado de consumo e do lucro exacerbado.

Vamos a exemplos de abuso de poder econômica, nesta pandemia. Todos estamos sentindo no bolso o efeito da ganância de estabelecimentos comerciais e industriais ao manipularem preços. Acontece que arroz, batata, tomate, suco, iogurte, carne, pão, manteiga, não sofreram qualquer desabastecimento, mas mesmo assim tudo foi remarcado com lucro de 300, 400, 500%. Porventura aqueles produtos foram banhados em ouro, durante a pandemia? Sua essência se alterou e no processo produtivo a colheitadeira de ferro foi substituída por uma com pás de diamante que veio do solo rochoso de Marte com propriedades vivificadoras dos lagos congelados da superfície do Planeta Vermelho, cujos efeitos em nós consumidores é de nos tornar super seres humanos? Não! Nada disto ocorreu!!!

Permita citar um exemplo um pouco mais chique, porque pode ser que exemplos com arroz, feijão e farinha não sejam tão interessantes. Pois bem, aqui em Brasília-DF há um restaurante famoso que vende um prato chamado “camarão internacional” (tem muito arroz e pouco camarão, mas ainda assim é bom). Alimenta 4 pessoas. O preço fora da crise é de R$240,00 (duzentos e quarenta reais), o mesmo valor de um salário mínimo em algumas províncias de Índia.

No dia 28 de março o mesmo prato estava oferecido pelo valor de R$139,90 e, era gentil e humildemente entregue ao cliente em seu próprio veículo. Por que isto está ocorrendo? Porque são dias em que restaurantes estão fechados e os consumidores andam sumidos.

Porque essa humildade e gentileza não existe em tempos normais? E se vende na crise o prato por R$139,90 significa que lucra, no mínimo, 100% com este valor menor. Portanto, o preço com a margem ideal de lucro e já embutindo aí a tradicional ganância do comerciante e industrial é R$139,90. Então, por que fora da crise o prato custa R$100,00 à mais? Por que passa a vender por R$240,00 o que realmente vale R$139,90? A razão é a falta de educação, de quem vende por um valor falso ou a falta de educação, de quem compra a coisa por um falso real? Todos sabemos que há um valor agregado naquele prato, mas qual é o valor real, dentre aqueles que citamos? Agora imagine isto disseminado por todos os demais produtos no mercado brasileiro.

Vi anunciado, também, um prato de Sushi de outro restaurante famoso cujo preço fora da crise é de R$ 82,60 e agora está custando R$59,00. Vale o mesmo raciocínio anterior, que pode ser aplicado a toda a relação comercial no Brasil, na qual fica evidente a ganância e o preço abusivo. Todos querem ganhar mais, e mais, e mais, numa escala em que não há qualquer justiça nos preços em relação ao custo real do produto, valor do dinheiro ou respeito pelo consumidor. Esse espírito ganancioso acaba por formar o ESPÍRITO DA NAÇÃO que, para não pensarem que estou espiritualizando, vou mudar o nome para CULTURA DA NAÇÃO. Todos se tratam sem respeito, ninguém valoriza o dinheiro, por não entenderem que relações de consumo são, também, relações humanas e, ao final, humanizamos coisas e coisificamos os humanos, todos regidos pela batuta da superficialidade e da ignorância.

Então, se aqueles produtos não sofreram qualquer alteração na sua essência e se também não correm sequer o risco de desabastecimento, porque aumentam de preço indiscriminadamente? Vou te apontar três razões simples:

1 – Porque nós consumidores não nos educamos nem nos permitimos educar para rejeitar o abuso econômico;

2 – Porque o Estado brasileiro nunca respeitou a Nação brasileira e segue sem respeitá-la ao deixar de notificar, fiscalizar e fechar as portas de empresários que insistem em manipular a fé pública, assim como em abusar de seu poder econômico; e

3 – Porque nós, povo brasileiro, não nos educamos nem nos permitimos educar.

Mas a terceira razão está repetida, professor!!! Não está, não!!! Usei inclusive de dupla negativa para ser mais enfático. Observe que no item 3 cito “povo” e no item 1 cito “consumidor”. O item 3 trata de continente e o item 1 trata de conteúdo. Continente é maior que conteúdo e, sei que você sabe disto. É como falar de um campo inteirinho de arroz, no qual um, dois, três ou 100 pés de arroz representam apenas uma parte do todo.

Se nós, enquanto Nação, fizermos um ESAON durante e após esta pandemia podemos sair dela melhores do que fomos nos últimos 520 anos de nossa existência. Seguiremos sendo pertencentes à “raça dos humanos”, mas podemos nos tornar uma etnia com essência, dentro do bolo de carne andante, da máquina de carne e osso biológica que todos somos, com cérebro que às vezes não dá qualquer sinal de racionalidade, principalmente quando se deixa programar por partidos políticos, por políticos sem partido, pelo mercado de consumo, por influenciadores, alguns tão estúpidos que ficariam na fila escaldante da caatinga para disputar com jumentos, a sombra de um mandacaru. De um cesto de laranjas estragadas não se retira laranja boa. A consequência é que uma sociedade estragada pela ganância, falta de solidariedade e falta de ética produz vereador, prefeito, governador, deputado, senador, garis, presidentes da república, serventes de pedreiro, pedreiros, mecânicos e vendedores de feira sem ética!

Ao final o consumidor ingênuo paga mais por tudo numa espiral infinita cujo benefício é real para quem vende e ilusório para quem compra, porque o dinheiro que o consumidor ganha na batalha sofrida da vida e o dinheiro que o fabricante, industrial ou comerciante ganha, apesar de ter o mesmo valor real, não tem o mesmo valor racional e educacional. Sim, porque o dinheiro deveria ter um valor educacional para cada um de nós, já que nenhuma de suas cédulas possui o valor de face que expressa. Dinheiro, no fundo, é só papel, apenas mais uma commoddity. Já notou que você pode comprar dinheiro com dinheiro?!? Pois é, com dinheiro você compra dinheiro, exatamente como compra arroz, feijão, farinha ou uma Barbie! Neste jogo de quem induz e de quem é induzido, um manobra e dirige a razão enquanto a massa manobrada e induzida é tangida como boi ao matadouro. Só a educação abrirá os olhos de nossa razão.

Como último exemplo peço que observe que o Estado brasileiro autorizou a produção de medicamentos genéricos para quebrar um pouco a ganância da cadeia produtiva farmacêutica. Entretanto, os produtores genéricos disputam entre si quem é o mais ganancioso e aumentam indiscriminadamente o preço da faixa específica dos genéricos e com isto criam, “espertamente”, uma segunda linha de preços que não param de subir. Você tem visto e sentido na pele a ganância dos donos de supermercados, farmácias, vendedores de gás de cozinha, etc., neste momento de pandemia, de dor e sofrimento da população, não tem?!?

Ou você pensa que os funcionários dos supermercados e farmácias aumentam voluntariamente os preços? Não! A ordem para aumentar os preços vêm das matrizes destes estabelecimentos nacionais e internacionais. O dono ordena ao gerente nacional, que ordena o regional, que ordena o local, que ordena os “orelhas secas” que, empunham suas “metralhadoras” de preços, mesmo com o coração ardendo de raiva, porque ao final quem hoje aumenta os preços, amanhã os há de consumir. Mas, é isto ou perder o emprego.

O Estado, o que faz ou deveria fazer em tais circunstâncias? Deveria deixar de ser frouxo e irresponsável e fiscalizar, notificar, multar e até cassar as autorizações, permissões e concessões de quem abusa do poder e manipula o mercado e o povo! E, só para me fazer mais claro, informo que há inúmeras leis que autorizam o Estado proceder assim. (Lei nº 1.521/1951, Lei 8.137/190, Lei 8.176/1990, etc, etc).

Entenda que, no capitalismo, fechar um estabelecimento qualquer por cometer crime contra a economia popular não implica em desabastecimento e perda de postos de empregos não renováveis por muito tempo. Outros empresários tomam o lugar imediatamente porque quem estuda política e estratégia ou simplesmente observa o mercado sabe que não há espaço de poder vazio. Um vazio de poder tende invariavelmente a ser preenchido.

O que não dá para seguir aceitando culturalmente é que nesse ritmo ganancioso de aumento de preços perde-se o respeito pelo valor da moeda e daí pra frente você tem que andar com notas de 10, 20, 50, 100, 500 reais no bolso, sem que nenhuma delas tenha valor real, como já ocorreu com o Brasil da era Sarney e como há muito ocorre com a Venezuela, onde uma pessoa necessita de um carrinho de mão cheio de dinheiro para comprar uma barra de sabão.

Finalizando com a questão da Índia e China, quem consegue deixar de lado a ingênua espiritualidade da cura da alma pelos banhos em rios de esgoto carregados de bactérias e quem deixa de lado a estúpida admiração abstrata nos poderes salvíficos do comunismo, inclusive do chinês, recebe de presente do supremo criador das bactérias uma cuspida bem grande, que será misturada com terra e esfregado em seus olhos cegos para que veja e de repente possa gritar: – Eureka!!! Eu vejo!!! (leia essa história em João 9:11),

Tão logo volte a enxergar esse cego verá que os quase DOIS BILHÕES de trabalhadores dos países demográfico-bilionários (billion-demographic countries) como Índia e China, comandados por uma elite super rica impõe àqueles trabalhadores comunistas e socialistas viver em situação de extrema pobreza e miséria. É esta pobreza e miséria que China e India estão exportando com a quebra dos mercados mundiais e, se o resto do mundo não tratar de aceitar imediatamente em seus olhos a cusparada do supremo criador das bactérias, nossas “crenças” serão alimentadas com águas como as do Ganges, nossas camas serão de pregos e nossa fé será em algum partido comunista multitotalitário e estúpido qualquer que impõe a nossos povos o risco de ser enviados a uma senzala multiétnica.

Se você deseja entender outras especificidades de China e Índia, aguarde porque acabo de fechar contrato e em breve será lançada a 2ª edição em português e 3ª edição em espanhol do livro “A mulher e sua luta épica contra o machismo”, um estudo no qual lanço um olhar sobre o viés antropológico, humanista e científico sobre os dez maiores impérios mundiais e também sobre China, Índia e Rússia.

Até breve.

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Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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