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Carlos da Burra, o homem que dá vida aos bonecos gigantes de Olinda

O Brasil inteiro conhece o Homem da Meia-Noite, o gigante que ganha as ladeiras de Olinda na madrugada entre o sábado de Zé Pereira e o domingo de carnaval. Mas e o manipulador do calunga, a pessoa responsável por dar vida e movimento ao majestoso, você sabe quem é? A reportagem foi até a sede do bloco, na Estrada do Bonsucesso, em Olinda, para conhecer a história de Carlos Alberto Fernando da Silva, 50 anos, o Carlos da Burra. Ele é o carregador oficial do Homem da Meia-Noite e um dos manipuladores mais conhecidos da cidade histórica. Ele conduz ainda o Garoto de Vassoura, Galiça, Pagodeiro Bolado, Simpático de Ouro Preto, Garoto da Noite, entre outros. Também conduziu por 25 anos o gigante John Travolta. A história de paixão pelos bonecos gigantes vem desde criança. “Quando eu tinha uns 8 anos, a minha brincadeira preferida era pegar uma caixa de maçã e fingir que eu estava carregando um boneco. Como minha família era muito humilde, eu não podia ter os brinquedos que as crianças tinham. O que entrava lá em casa de dinheiro era para comprar comida. Hoje eu tenho a responsabilidade de levar o gigante mais respeitado de Pernambuco”, afirma.

De família humilde, Carlos precisou amadurecer muito cedo. “Quando criança, precisava ajudar a minha mãe, dona Maria Helena da Cruz, que era lavadeira, a transportar as trouxasde roupas do terminal da PE- 15, onde a gente morava, até o alto do Santuário Mãe Rainha, em Ouro Preto. Para economizar viagem, ao invés de levar só uma trouxa, eu levava três na cabeça em uma ida só. No mínimo, pesava uns 30 quilos”, conta. “À tarde, eu ia buscar o restante. E quando faltava água? Tinha que ir até a cacimba várias vezes para minha mãe lavar. Eu fico pensando se tudo o que eu passei naquele tempo foi um ensaio para o que eu iria passar hoje em dia”, diz Carlos, que hoje também faz trabalhos como padeiro e pedreiro.

Demorou um pouco para Carlos da Burra pegar confiança entre os carnavalescos na responsabilidade de conduzir os gigantes. “No começo, o pessoal não acreditou muito. E eu sempre pedindo uma chance para levar. Até que surgiu a chance de carregar o Menino da Tarde. Foi tão bom que depois me chamaram para o John Travolta, o Chorão, o Menino Rosado e o Garoto de Vassoura. Depois disso, não parei mais. Hoje em dia, me falta tempo para carregar. Se eu pudesse levava tudinho”.
Carlos da Burra conta que receber o convite para conduzir o Homem da Meia-Noite foi a realização de um sonho. Ele sucedeu o manipulador Pedro Garrido, que carregou o místico da madrugada por 30 anos. “Em tudo o que fazia, eu focava no calunga. Sempre dizia: ‘Um dia eu chego lá’. Daí, sem esperar, um Carlos da Burra conta que receber o convite para conduzir o Homem da Meia-Noite foi a realização de um sonho. Ele sucedeu o manipulador Pedro Garrido, que carregou o místico da madrugada por 30 anos. “Em tudo o que fazia, eu focava no calunga. Sempre dizia: ‘Um dia eu chego lá’. Daí, sem esperar, um amigo me indicou para participar da equipe. Cogitaram até a fazer teste, mas Seu Adolpho (Luiz Adolpho, presidente da agremiação) disse que não precisava e eu estou aqui até hoje.” “O pessoal pergunta se carregar boneco é fácil. Eu digo que sim, mas para aqueles que amam o que fazem. Antes de levar, é preciso estudar a identidade de cada gigante. Eu coloco um estilo em cada um. Tem um que eu saio mais contente, tem outro que eu mostro mais calma. O Homem da Meia-Noite, por exemplo, eu faço questão de andar majestoso e elegante, como ele é. Quando eu boto o boneco na cabeça, boto porque eu gosto de fazer. Pode me dar qualquer boneco e eu conduzo.” Carlos também já precisou lidar com muitos perrengues. “Uma vez eu estava com o Garoto de Vassoura e, no meio de uma reportagem, o punho do gigante soltou. Preguei uma tampinha de refrigerante e levei assim mesmo. A gente tem que se virar e o show tem que continuar. As pessoas estão ali para ver o gigante brilhar. Eu só vou parar de carregar boneco quando eu morrer. Eu amo isso.”
Da Burra se emociona ao falar sobre a trajetória, principalmente ao lembrar da mãe, que faleceu no ano passado. “Ela geralmente ficava na varanda esperando eu passar com o boneco. Eu fazia questão de fazer o gigante cumprimentá-la. Durante as prévias deste ano, no momento em que eu passei no local onde ela ficava, chorei bastante. Senti a presença dela lá e lembrei do quão abençoado eu fui em ter tido Dona Helena como mãe. Enquanto vida eu tiver, ela estará sempre no meu coração.”
Fonte: Diário de Pernambuco
Foto: Leandro de Santana/Esp.DP

Sobre o autor

A oposição é necessária para avaliar a gestão, mas é importante distinguir entre oposição legítima e politicagem, que busca causar problemas e confundir a população. É preciso ficar atento para não cair nesse jogo manipulador.

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