A servidora pública Roseana Tavares, 35, ficou surpresa ao encontrar as carnes que costumava comprar em um supermercado da Zona Norte do Recife presas em telas de proteção e com alarmes de segurança presos aos pacotes. Os cortes protegidos eram de carnes cujos preços do quilo variam entre R$ 39,90 e R$ 69,90. Clientes do estabelecimento contam que a medida foi tomada há cerca de 15 dias, quando antenas antifurto foram instaladas nas portas.
A medida não é isolada e revela o aumento na segurança nos supermercados da Região Metropolitana do Recife (RMR), impulsionada pela disparada no valor de alguns produtos, como a carne. Os preços da carne bovina dispararam no Brasil em novembro do ano passado. No atacado, o corte traseiro passou de R$ 13,90 para R$ 14,50 por quilo. A ponta de agulha subiu de R$ 10,30 para R$ 11,20 por quilo. Já o corte dianteiro foi de R$ 10,80 para R$ 11 por quilo.
“Achei curioso, mas, como cliente, não vejo problemas nessas medidas. Vi as carnes com os alarmes e não comprei, pois o valor está muito alto. Temos consumido mais frango nesses últimos meses em nossa casa”, disse Roseana. “Desde o fim do ano passado, também diminuímos a quantidade de carne vermelha nos churrascos que costumamos fazer nos fins de semana por causa do preço”, completou o marido de Roseana, o professor Paulo Lima, 38.
Em supermercados do Recife, itens como carnes, pacotes grandes de leite em pó e barras de chocolate têm recebido os dispositivos de segurança. O rol de produtos protegidos, que já contava com barbeadores, desodorantes e bebidas alcoólicas como uísque, aumentou. O Diario procurou as redes Extrabom e Big Bompreço, que preferiram não comentar o assunto por questões de segurança. O Extra não respondeu.
A Associação Pernambucana de Supermercados (Apes) ressaltou que, atualmente, as empresas estão buscando soluções tecnológicas que possam auxiliar na redução das perdas. “Enquanto alguns segmentos, como moda, calçados e perfumarias avançaram, o segmento supermercadista demorou muito a virar a chave começar a fazer gestão de suas perdas – muitos ainda nem começaram”, destacou a entidade.
Em nota, a Apes informou que, há alguns anos, já existem algumas soluções como antenas e etiquetas para controlar produtos de alto risco. “Hoje, temos muitos supermercadistas utilizando para controlar bebidas alcoólicas, cortes de carne (principalmente os de alto valor agregado), queijos, azeites, chocolates, energéticos, entre outros”, pontuou.
A última pesquisa sobre perdas da Associação Brasileira de Prevenção de Perdas (Abrappe) mostrou que o varejo perdeu R,6 bilhões e, dentre os doze segmentos da pesquisa, o que se destaca é o supermercadista, com o maior índice de perdas: 2,05% calculado pelo faturamento liquido da empresa (valor de vendas – impostos). O levantamento mais recente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras) mostrou que a região Nordeste tem o segundo maior índice de perdas (2,14%), atrás apenas da região Centro-Oeste, com um índice de 2,33%.
De acordo com a Apes, as principais fraudes nos supermercados são o subscaneamento (não registro de mercadorias); fraudes no recebimento de mercadorias; cancelamentos no checkout; inversão de código de produtos de maior valor por produtos de menor valor. “A primeira ação que o supermercadista deve tomar é identificar quais os produtos que mais geram falta entre seu estoque físico e sistêmico. Apenas com essas informações poderá saber quais produtos precisam de monitoramento”, informou a Apes.
“A busca por soluções devem ser equivalentes a busca por respostas das não conformidades, ou seja, mais importante que sair colocando antena, etiquetas, software de monitoramento de checkout e recebimento de mercadoria as empresas devem aprender a fazer gestão dos dados que serão extraídos dessas ferramentas, assim o supermercadista conseguirá ser assertivo na gestão de suas perdas”, enfatizou a Associação Pernambucana de Supermercados.
Fonte: Diário de Pernambuco
Foto: Anamaria Nascimento/DP