Uma década depois de ter sido projetada para ser um dos mais modernos equipamentos de travessia de pedestre na Zona Sul do Recife, a passarela do Pina, construída sobre o Túnel Josué de Castro, na Avenida Herculano Bandeira, é o retrato do abandono. Ela está interditada há três anos. O equipamento, com dois elevadores e quatro escadas rolantes, custou cerca de R$ 3,5 milhões, mas se transformou numa dor de cabeça para a Autarquia da Empresa de Manutenção e Limpeza Urbana (Emlurb) por causa das constantes quebras em razão do vandalismo.
Sem uso, a degradação do espaço foi acelerada. Os tapumes não foram suficientes para proteger a estrutura. Toda a engrenagem das escadas rolantes foi saqueada, parte do gradil no entorno da pracinha também foi retirado e o espaço onde ficam os elevadores também apresenta sinais de saque das peças. A falta de uso também resultou na ocupação do vão. A equipe do Diario registrou no interior da passarela, além de muito lixo, um sofá e calçados. Mas não havia ninguém no início da tarde de ontem quando as imagens foram feitas.
A passarela está interditada desde 2016. O fechamento, segundo a Emlurb, ocorreu após “recorrentes ações de vandalismo que danificaram diversas vezes os elevadores e demais componentes da passarela”. Os vândalos furtaram as luminárias e a fiação da passarela, cujo último contrato de manutenção, vigente até 2016, previa um gasto anual de R$ 24.181,44 somente nos elevadores. Isso daria uma média de R$ 2.015,12 por mês, sem considerar outros gastos e serviços.
Segundo a Emlurb, o município está analisando uma proposta da iniciativa privada para a adoção da passarela do Pina em contrapartida ao uso do local como espaço publicitário. A adoção prevê a recuperação do equipamento e dos elevadores, além da ocupação do espaço antes pertencente às escadas rolantes.
“Essas parcerias são importantes por permitir que a gestão municipal invista o dinheiro pago pelo contribuinte em outras atividades e serviços na cidade voltados para quem mais necessita, uma vez que a manutenção do equipamento demanda um volume razoável de recursos”, afirma o comunicado. Exemplo disso, complementa a autarquia, ocorre na Avenida Conde da Boa Vista, onde haverá uma ação similar no trecho já entregue da via
Sem alternativa, os pedestres fazem a travessia por baixo e aproveitam quando o semáforo do início da Herculano Bandeira fecha para reduzir o fluxo de veículos. O casal Rosita Silva, 82, e Osvaldo Ribeiro, 79, mora no Pina e há muito tempo não usa a passarela para fazer a travessia da avenida. “A gente espera o sinal fechar para poder passar. Mesmo antes da passarela ser interditada, as escadas rolantes e os elevadores já não funcionavam, aliás sempre estavam quebrados”, relatou Osvaldo.
Além da difícil travessia, a aposentada Rosita reclama da segurança. “É inseguro passar por aqui à noite. Eles fazem muita bagunça e há risco de assalto”, contou.
Projetada em estrutura metálica revestida em alumínio, a passarela foi implantada por cima do túnel da Via Mangue. Além das escadas rolantes e elevadores, o equipamento conta com duas torres de apoio em concreto armado. A passarela mede 59 metros de comprimento, sendo 28 metros do vão livre, e 9,75 metros de altura. Do chão até o piso, a altura é de 5,40 metros.
Com a passarela, a ideia na época era dar mais velocidade ao tráfego com a eliminação de dois semáforos, mas não deu certo. O semáforo na frente da igreja do Pina não chegou a ser desativado por pressão dos moradores e o semáforo localizado logo após a Ponte Paulo Guerra, na Herculano Bandeira, também não foi eliminado.
Fonte: Folha PE
Foto: Tarciso Augusto/Esp.DP