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EDUCAÇÃO E ENSINO NA ANTIGUIDADE. EPISÓDIO DE HOJE: Roma e o processo educativo na República (Parte 8)

Direto de Brasília-DF.

A organização e sistematização da educação do ensino

Nestas incursões que vimos fazendo pela história da educação e do ensino cabe registrar que por volta de 140 a.C., já havia mais de duas dezenas de escolas para o ensino da gramática grega e latina, somente na cidade de Roma.

O Espírito do povo romano tendia sempre para o pragmatismo e assim a educação e ensino necessitavam ser organizados de modo a seguir um sistema em que o aprendizado fosse aplicável ao dia a dia e os alunos, porque a finalidade desse processo era produzir cidadãos úteis à República Romana. Ensino bom, portanto, era aquele que contribuía para transformar a realidade física do povo romano. A abstração intelectual eras pouco prezada.

Por essa razão o método de ensino grego, importado pelos romanos teve de sofrer adaptações. Com esse viés de pragmatismo, filosofia, estética e literatura não tinham grande importância porque a cultura da Nação era voltada para as coisas práticas. O máximo de abstração que valoravam era a ciência do Direito e isto ocorria porque o Direito Romano era a chave para solução de inúmeros conflitos que envolviam disputas por coisas materiais, como o direito da terra, o direito de vizinhança, os conflitos penais, etc, e, daí, o elo, que esse modo de pensar cria com o apreço de disciplinas como Gramática, Filologia e Retórica, tudo para que os consultores, advogados e magistrados tivessem maior êxito na solução das muitas disputas entre cidadãos romanos e entre estes es os povos conquistados, já que os romanos diferentes dos impérios anteriores ao invés de conquistar e destruir, anexava. 

Outra questão importante na organização e sistematização da educação e ensino romano era o papel do PEDAGOGO. Este era, por opção das famílias, um escravo grego ou até mesmo o cidadão grego livre, cuja exigência era ser fluente no idioma grego.

O papel desse pedagogo na educação e ensino divergia da que exercia em sua terra natal. Em Roma, ao invés de instruir a criança, seu papel era de guardião, “companheiro e censor moral”, como ensina Thomas Giles. Educar cabia à família e instruir ao professor.

Se compararmos com o papel do pedagogo moderno, principalmente com o papel previsto pela para o Pedagogo Orientador Educacional brasileiro veremos, como ensina a Pedagoga Orientadora Lucy Lores, na cidade de Taguatinga-DF,  que este atua com base em conhecimentos das áreas de Sociologia, Filosofia, Psicologia, Educação. Além disto, em meu ciclo voluntário de palestras para o corpo docente, discente e para pais de alunos, por escolas públicas do DF nestes 19 meses tenho notado que o mais grave no processo educativo e de ensino brasileiro é que as famílias “abandonaram” o papel de protagonistas na educação de seus filhos e o transferiram por completo para a Escola, ignorando que Escola não é agência de educação e sim de ensino.

Nessa relação citada, insisto que o mundo é um vasto cenário educacional no qual a Escola deve contribuir com o ensino. Por óbvio que sendo o mundo, cenário de educação, a escola faz parte desse mundo, mas com a obrigação de ensinar e não de ser substituta da família, em suas múltiplas formas admitidas pelo Direito, inclusive.

 

A República Romana e o Processo de Ensino e Aprendizagem distribuído por faixa etária

O ensino romano foi estruturado seguindo o que se fazia no mundo helênico, por faixas etárias nos seguintes moldes:

  • Até 7 anos: Ensinavam, os pais, a babá e o tutor.
  • De 7 aos 11 anos: Inicia-se numa escola com a exigência de aprender a ler, escrever e contar. O livro texto de leitura era a “Odisseia” e obrigatoriamente “A Lei das Doze Tábuas”.
  • De 12 aos 16 anos: A escola gramatical exigia o domínio do grego e do latim, para gerar o mínimo de instrução necessária para encarar os estudos superiores e os alunos eram exclusivamente do sexo masculino, fato que reforçava o machismo com o qual a mulher é tratada nos milênios conhecidos da existência humana.
  • De 16 a 21 anos: Os estudos superiores baseavam-se na leitura e domínio da Hermenêutica, para a correta interpretação de textos de Virgílio, Horácio, Cícero, Públio Terêncio, Dionísio e ainda estudava-se matemática, geografia, geometria, astronomia, música.

Alguns alunos destacavam-se aos estudos, outros não. Alguns esgotavam os níveis de estudo, outros não. A permanência ou evasão escolar dependia do poder econômico da família e do querer do aluno. Mas, já naquela época quem tinha mais estudo também tinha mais chances de ascensão social dentro da República Romana.  Você nota alguma semelhança com os dias de hoje?

Thomas Ransom Giles diz que “As aulas começavam bem cedo e estendiam-se até o pôr-do-sol, e o aluno declamava a Lição em voz alta… a vara e o chicote faziam parte essencial do processo didático.” Felizmente o tempo em que “os alunos aprendiam com as costas” foi-se no tempo, mas será que a ausência de disciplina privilegia o aprendizado? Será que o ser humano entregue aos “braços” da anarquia(ausência de disciplina e ordem) produz com excelência? Há sempre mais perguntas que respostas na vida, não è mesmo?!?

No período final da República as escolas que mais prosperam são as de Retórica e quem nelas se destacava podia fundar sua própria escola privada sem qualquer interferência do Estado. O aluno que desejasse ir além do aprendizado da Retórica, normalmente partia para estudar em Atenas, Alexandria, Rodes, Antióquia, na cidade de Tarso (onde nasceu o apóstolo Paulo) e em outras cidades.

Como se vê, estudar no exterior não deve ser visto somente com o “charme” que agrega ao currículo, já que em certos casos esta era uma necessidade de quem queria um estudo de qualidade e de maior alcance. O processo educativo e de ensino romano possuía vazios de poder e como sabemos pelo estudo da política e da estratégia, não há vazio de poder que não venha a ser preenchido…

Continua na próxima quarta-feira.

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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