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EDUCAÇÃO E ENSINO NA ANTIGUIDADE. EPISÓDIO DE HOJE: Roma, o processo educativo e de ensino na República (Parte 4)

Direto de Brasília-DF.

A forte influência do Helenismo na formação de uma nova cultura romana

Para bem compreender o processo educativo e de ensino segundo a tradição romana é indispensável entender que esta civilização começa a formar-se, muito antes do Império Romano, o recorte histórico mais marcante a identificá-los. Importa, ainda, saber que tanto os gregos quantos os romanos da antiguidade pouquíssimo têm a ver com a Grécia e a Itália moderna.

Outro fator importante para você seguir apreciando estes artigos sobre o processo de educação e ensino na cultura romana é lembrar que a Antropologia como ciência que investiga de forma profunda a existência e vivência humana, possui um subcompartimento chamado Etnografia, que trata dos estudo da cultura dos povos, de suas línguas, de etnias, religiões que professam, hábitos e costumes que são transmitidos de pais para filhos por gerações e gerações. Pois bem, é a isto que chamamos de tradição, ou seja, a assimilação desse modo de viver baseado na observação, na crença dogmática, mas não científica.

Mudança de mentalidade é de todas as mudanças a mais profunda que alguém ou uma civilização pode sofrer ou se permitir. Digo sofrer porque a mudança pode ser imposta por fatores externos como o Estado, a Educação, o Ensino, mas o verdadeiro fator, o verdadeiro “gatilho” da mudança é o interno, simplesmente porque apesar de a vida ser vivida no coletivo social, a decisão que transforma a realidade física e psíquica de uma pessoa ocorre no individual.

Quando usamos os adjetivos gentílicos “egípcios”, “caldeus”, “gregos”, “romanos”, “judeus”, “brasileiros”, estamos fazendo referência a um  coletivo cuja “mentalidade”, que podemos chamar de “consciente” e “inconsciente”, é moldada primeiramente pela tradição.

Uma criança não nasce sabendo falar, andar, ler, escrever, nem tampouco interpretar as percepções que recebe dos sentidos(olfato, visão, audição, etc). Tudo vai aprendendo por imitação, conforme o que recebe do mundo adulto. Assim, apesar de toda criança já ser um adulto em potencial por trazer consigo todos os órgãos de um adulto, seu desenvolvimento será influenciado por inúmeros fatores que o rodeiam e sobretudo pelas escolhas que faz, ante o livre arbítrio.

Os romanos da antiguidade estavam mais para bárbaros(povos rudes e guerreiros) que para filósofos, mais para o dogma que para a ciência, mais para fazer, do que para pensar em como fazer.

Esse processo de construção de uma identidade própria também levou centenas de anos para se completar, assim como os brasileiros, um dia, hão de ser estudados como um povo que levou centenas ou milhares de anos para se livrar da tradição passada por nossos antepassados que nos leva a cultuar o tal “jeitinho brasileiro”, o levar vantagem sobre as outras pessoas a qualquer custo, o “olhar benevolente” com a corrupção com dinheiros públicos e com pequenas vivências do dia a dia.

Não se constrói uma “nacionalidade” ou, como prefiro chamar, um “espírito de Nação” de um dia para o outro. É preciso investir de forma racional em um processo mais científico que dogmático, mais democrático que ditatorial, mais investigativo que repetidor de fórmulas prontas, porque livrar-se de certas tradições é difícil, bem difícil.

Nós brasileiros, por exemplo, a cada novo governo encerramos mais um ciclo de perda da chance de nos transformar para melhor, de evoluir, de atendermos à vocação para uma Nação e um Estado hegemônico no mundo, principalmente em razão de sermos uma sociedade carregada das amarras que os dogmas político e religiosos usam para acorrentar a evolução pessoal e nacional e para atravancar o processo educacional e de ensino.

Nesta semana li uma entrevista do inteligente empresário Carlos Augusto Montenegro, falando sobre o estrangulamento econômico-financeiro do Botafogo Futebol e Regatas, clube de futebol de seu coração, em que dentre outros fatores aponta o “culto” à tradição como causa, dizendo: –  Se ficar pensando na tradição, vamos continuar sucumbindo, vivendo de passado e cada vez mais fraco. Ou você resolve, é uma decisão séria, para sobreviver e tentar disputar com dignidade, ou fica como está.

Acho interessante como somos capazes de enxergar soluções e tão pouco corajosos para implementar as soluções para os problemas que nós ou nossos antepassados criaram para nós. Por que isto ocorre? Será que o medo da mudança nos rouba a coragem? Talvez seja mais confortável não mudarmos, já que ser lagarta vivendo em um casulo pode parecer mais seguro…

Asseguro, todavia, que nos transformar em borboleta e voar pelo mundo do conhecimento diversificado agrega mais! Mudar abre portais de comunicação com o universo que mostram que a diferença, e não a igualdade é que comanda o universo. Os planetas são diferentes, as pessoas são diferentes, os animais são diferentes, a natureza é regida pela diferença, os minerais(ouro, prata, calcita, esmeralda, berilo…) são diferentes. Talvez, tenha sido isto que fez com que os romanos se refletissem, observassem a civilização grega que se formou ao longo de centenas de anos e também quisesse voar e, voou…

Roma foi primeiramente um estado tribal, por volta do ano 800 a.C. Em 509 a.C., torna-se politicamente uma República cujo formato dura até  45 a.C., com a morte de Júlio César, assassinado no salão principal do Senado romano, por onze de seus membros que sentiam a ameaça da perda de poder por parte do Legislativo. (Ao final do artigo, vide fotos de uma de minhas viagens de pesquisa com vista do Foro Romano e da Sala do Senado, local do assassinato de Júlio César).

Em muitos aspectos a civilização romana era parecida com a Espartana. Era um povo que valorizava o Estado como sendo o início e o fim da existência humana. O homem romano valoriza:

  • As tradições ancestrais;
  • A dignidade;
  • A autossuficiência;
  • A ordem social; e
  • A Lei.

Era uma sociedade cujo ideal era a virilidade do guerreiro, a excelência da agricultura, do comércio e da guerra. Este homem viril vai criar uma mentalidade orgulhosa e cruel. Um homem para o qual a filosofia dos gregos era, de início, completamente desprezível.

Havia entre os romanos uma divisão de classes bem acentuada entre aristocratas(nobres e ricos que governam) e latifundiários(donos de terras). O restante eram PLEBEUS, que inclui: agricultores, artesãos e comerciantes.

Nada era mais importante que a guerra e a agricultura. Esta produz alimentos e aquela conduz ao domínio. Logo, não se poderia esperar que o processo educativo romano, de início, valorizasse a escrita, a leitura, música, filosofia ou matemática, porque para os romanos a sobrevivência, o aqui e o agora era o mais importante. Por isto ficaram conhecidos na História como um povo pragmático.

O pensamento não estava em entender o cosmo ou a natureza humana ou física, mas em sobreviver a esses elementos tendo o que comer, beber, vestir, morar e um exército pronto para guerrear e conquistar territórios novos.

O romano não gostava de perder tempo pensando e criando. Ele imitava! Pegava os deuses gregos e para não ter que criar outros os rebatizava com outro nome: Zeus virou Júpiter, Athena virou Minerva, Afrodite virou Vênus(a deusa do amor), Poseidon virou Netuno e por aí vai…

No seio da família o Pai desempenhava poderes absolutos, inclusive para decidir quem vivia e, literalmente, quem morreria, já que ao mesmo tempo ele era sacerdote e magistrado(os juízes assenhorearam da palavra magistrado no Brasil, mas em sua origem magistrado é qualquer um que tenha poder de mando).

O Pai de família representava o elo de ligação com os deuses romanos, por isto os filhos, a mulher e os escravos deveriam prestar obediência total e irrestrita, sob pena de morrer. A família era regida ditatorialmente e a ela cabia educar seus filhos para servir ao Estado romano. Você vê alguma semelhança com a história moderna de alguns ditadores políticos e como trataram a Nação que governaram, tais como Hitler, Mussolini, Joseph Stalin, etc.?

A figura do Pai representava a educação severa e a da mãe a educação mais branda, mas ambos eram igualmente responsáveis pela educação dos primeiros anos de vida dos filhos. Será que este quadro persiste ou mudou? Pais ainda são responsáveis pela educação de seus filhos ou transferiram essa responsabilidade para a escola?

Jardim dos Imperadores.

Sala do Senado. Local do assassinato de Júlio César.

Sala do Senado. Local do assassinato de Júlio César.

Foro romano.

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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