Direto de Brasília-DF.
O poder transformador da filosofia grega para a cultura romana: Hedonismo, Epicurismo e Estoicismo.
Hedonismo deriva do vocábulo grego hedonê, que se traduz por “prazer, vontade” e, por isto, coloca prazer e vontade como bem maior da vida e fórmula da felicidade individual.
Aristipo de Cirene (435 a 356 a.C.) foi o fundador do hedonismo, que tinha por princípios basilares:
1) O prazer como motor das ações humanas; e
2) O prazer como valor supremo da vida.
Infelizmente, a ambiguidade do conceito de “prazer” levou a inúmeras interpretações distintas da totalidade do que Aristipo queria fazer compreender.
Aristipo de Cirene cria que a alma humana se movia de duas formas diferentes. Um era o movimento suave quando tomada pelo prazer e outro o movimento áspero quando a alma estava tomado pela dor.
Esse modo de pensar o levou a concluir que o prazer do corpo era o único meio de sufocar a dor e, portanto, a fórmula da felicidade. Seu pensamento foi seguido por Teodoro e Hegesias, ambos cireneus.
Epicurismo – Epicureus – Epicuristas ou, simplesmente… “Os do Jardim”
Epicurismo é doutrina filosófica criada por Epicuro (341-271 a.C.), nascido na Ilha de Samos na costa da atual Turquia, território grego da antiguidade, razão porque ficou conhecido como Epicuro de Samos.
Aos 32 anos o mestre Epicuro realiza um grande desejo. Adquire nos arredores de Atenas uma casa com um grande jardim e o transforma em sua escola filosófica. Nela reúnem-se pessoas que se sentem ligadas por laços de forte amizade. Ele, seus alunos e discípulos passam a ser conhecidos como: “Os do Jardim”.
Na escola de Epicuro eram admitidos tanto escravos quanto mulheres. Esse respeito pelas diferenças era um referencial que o destacava da Academia de Platão e do Liceu de Aristóteles, pois ambos discriminavam mulheres e escravos. No “Jardim”, ele e seus discípulos viviam vida moderada, todos espelhando o caráter afável e generoso de Epicuro. Seu sistema filosófico foi divulgada por vários discípulos, sendo Lucrécio, o poeta latino (98-55 a.C.), um dos mais famosos.
O epicurismo era um sistema! Não era a busca desenfreada pelo prazer carnal, como interpretam os que ouvem falar e o estudam mal. No epicurismo estudava-se o atomismo, na Física (Lembre-se de Albert Einstein), assim como a moral e a prática da virtude para cultivo do espírito honesto, no campo da Ética. Você percebe quão atual são tais temas? Por isto o estudo da História é tão importante. Quem não conhece o passado histórico mal conhece a si e o mundo em que vive e quem só sabe uma coisa, pouquíssimo sabe para compreender quão sistêmico é o conhecimento e o mundo. Procure ler, saber tudo que estiver ao seu alcance. Absorva o que for capaz e quanto ao restante, selecione…
É verdade sim, que Epicuro substitui o bem pelo prazer e o mal pela dor, e que ensinou que a felicidade consiste em assegurar-se do máximo de prazer e do mínimo de dores, por meio da saúde do corpo e do espírito. Esta mesma fórmula é usada por filósofos modernos como Baruch de Spinoza, no século XVII d.C. Mas, quem negará que na busca da felicidade individual, todos procuramos evitar aquilo que nos inflige dor? Quem negará que entre dor e prazer escolheremos o último? A questão do egoísmo envolvido nesta questão faz parte de um estudo que este resumo não permite aprofundar, mas você o pode fazer, se desejar.
Talvez a confusão que se faz até hoje com os ensinamentos epicuristas tenha raiz no fato de que seus conceitos estavam fundidos com os conceitos do hedonismo, que o precedeu como pensamento filosófico. Um dos grandes problemas é que quem estuda mal o epicurismo, esquece que neste o prazer há de passar pelo filtro da razão e do útil, no que se configura numa dupla concepção de felicidade: felicidade é o prazer racional e o prazer útil. Há, aí, epicurismo e utilitarismo que seguirão sendo estudados até hoje, ambos regendo a vida de milhões de pessoas no mundo. Você, por exemplo, em qual desses pensamentos filosóficos se sente mais “encaixado”?
O Epicurismo evoluiu ao hedonismo e ao mesmo tempo em que se construía era bombardeado pela corrente filosófica do estoicismo, que lhe era contemporânea. O Estoicismo via a Virtude como um fim em si mesmo, os epicuristas não! O que significa Virtude, para você? O que você pensa ser Virtude é a mesma Virtude para a filosofia ou sua concepção de virtude é somente aquela que as pessoas te contaram ao longo da vida?
O epicurismo ensinava que o homem devia cultivar a virtude para aumentar a sua própria felicidade e, sofisticada e inteligentemente negava a existência de uma justiça absoluta, acrescendo que toda e qualquer Instituição humana somente poderia ser tida por boa e honesta, na medida em que contribuía para a felicidade do indivíduo. Não é isto que nossas leis dizem no papel? Que o Estado e suas Instituições devem existir para servir o povo, provendo-lhe o mínimo de dignidade? Não terá o Estado “extorquido” de nós o direito à felicidade individual, principalmente à partir do século XVIII d.C., quando cria o conceito de “bem comum” ou felicidade coletiva? Qualquer um de nós pode fazer em sociedade o que realmente quer, ou para onde quer que formos estaremos de alguma forma acorrentados ao Poder do Estado moderno?
Em um mundo que ainda não era tão rígido, Epicuro ensinava que a ansiedade era a principal fonte para os desejos extremos e irracionalismos, e não o medo da morte. Dizia que a morte, por ser inevitável, não deve ser temida. Apenas aceita e assim, quando conseguirmos eliminar nossos medos causados pelas ansiedades conseguiremos dedicar-nos ao que realmente deve nos guiar, que é a busca pelo prazer físico e mental, pois para eles é que somos naturalmente atraídos. Todos esses ensinamentos começaram a ser absorvidos pela sociedade romana, que antes de serem republicanos ou imperialistas, camponeses ou aristocrats, artesãos ou juristas, eram seres humanos, cada um à procura de seus pedacinhos de felicidades individuais.
A filosofia epicurista está dividida por seu próprio fundador em três áreas que se interligam: Lógica, Física e Ética. Quando pensava em Ética, ou seja, na ciência daquilo que é justo, Epicuro dizia que o verdadeiro conhecimento, obtido por meio dessas três áreas poderia levar o homem a seu objetivo natural: o prazer. Uma lástima que a maior parte de sua obra não tenha sobrevivido ao tempo e sorte que os escritores e filósofos Lucrécio e Diógenes Laércio tenham reproduzido algumas de suas cartas e aforismos.
Sobre a lógica dizia que qualquer pessoa pode obter o conhecimento verdadeiro sobre o que é a realidade e qual seu papel nela e sobre a Física dizia que aqueles que conhecem a estrutura da realidade tornam-se livres de falsas opiniões e sobre a Ética ensinava que era o prazer ao qual o homem chega pela ausência de perturbação da mente e de dor.
A teoria do conhecimento desenvolvida por Epicuro ficou conhecida como “canônica”, por estabelecer cânones ou normas que constituem um método, a que ele chamava de “prolepsis”, sendo este a explicação do como realizar ou fazer alguma coisa, do caminho a ser seguido para atingimento de um fim determinado.
A “prolepsi” ou método da antecipação que Epicuro criou, dizia ele existir para reger e orientar as formas de conhecer aquilo que nossos sentidos captam do mundo real. Exemplificava dizendo que quando alguém ouve a palavra “cavalo” sabe exatamente do que se trata porque as experiências sensíveis, armazenadas na memória, indicam-lhe o que é um cavalo. Dava a esse fenômeno o nome de “antecipação” ou “prolepsi”, explicando que a pessoa que ouvia a palavra “cavalo” anteciparia sua presença porque, embora o animal não estivesse sendo apreendido pelos sentidos, naquele mesmo instante sua Imagem estava guardada na memória.
Uma grande quantidade de antecipações permite a formação de juízos, dizia ele. Para saber se esse juízo é verdadeiro ou falso, os epicuristas utilizavam dois tipos de verificação: 1) Um juízo é verdadeiro quando corresponda ao que é captado pelos sentidos; 2) Um juízo é falso quando não houver possibilidade de observação sensível, pois é necessário verificar a possível contradição entre o juízo e as experiências guardadas na memória.
Sobre os desejos e suas diferenças, Epicuro ensina que são:
- Naturais e necessários: Os que eliminam a dor, como a bebida e a comida.
- Naturais, mas não necessários: Os que somente dão cor ao prazer, mas não extirpam a dor, como os alimentos refinados.
- Nem naturais nem necessários: As coroas e as estátuas, por exemplo.
Da escolha entre os desejos é que virá a serenidade da alma (a que chamou de Ataroxia). Saber atender ao desejo de forma equilibrada é privilegiar a autarquia(ou autonomia… mesma coisa) e autossuficiência do ser humano.
Ensinava que a Ética deve nos conduzir a uma interpretação do mundo e das forças que o governam e que os deuses, se é que existem, não se preocupam com os seres humanos. Vivem, se é que vivem, em um mundo sem qualquer ligação com o nosso! Por esta razão devem os seres humanos livrarem-se de todo e qualquer misticismo, porque o aqui e o agora em que o corpo habita deve ser a medida de todas as coisas. Tal ensinamento era oposto ao que ensinavam Sócrates e Platão. Quem prevaleceu? Ambos, em círculos distintos de pessoas com perspectivas distintas…
Continua…