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EDUCAÇÃO E ENSINO NA GRÉCIA. EPISÓDIO DE HOJE: O Processo educativo em Aristóteles, para quem a razão é a medida de todas as coisas (Parte 2)

Direto de Brasília-DF.

Segundo Thomas Giles, Aristóteles ensinava que “o caminho que leva à vida de excelência intelectual e moral é o caminho da educação (…) Quanto ao processo educativo como tal, os homens aprendem algumas coisas por hábito e outras por instrução”.

Para o mestre estagirita, a missão do processo educativo era conservar e transmitir os valores criados e ditados pela cidade-estado, já que esta era precedente e transcendente ao ser humano.

Aristóteles lança vários fundamentos para sedimentar sua doutrina de um processo educativo eficaz. Sob a perspectiva subjetiva ele parte do pressuposto de que sendo o homem a razão de todas as coisas, o conhecimento flui dele e para ele por meio da matéria e das ideias.

Sua teoria do conhecimento (gnosiologia) requer a existência dos objetos que se pretende conhecer e da adequação destes com a razão ou intelecto humano.

Desde antes da fundação de sua escola “O Liceu”, Aristóteles já havia estabelecido critérios bio-psicológicos para o processo educativo, baseado na idade cronológica e cerebral de seus alunos. Eis os cinco critérios ou fases bio-psicológicas para um processo educativo completo, segundo entendia:

1 – Primeira fase: do nascimento aos cinco anos de idade: época em que nenhuma aula ou estudo organizado deve ser ministrado. Somente alguns exercícios físicos que se adequem;

2 – Segunda fase: dos cinco aos sete anos. A criança deve ser educada e ensinada pela família, mas fiscalizada pela cidade-estado para que acompanhe se os pais cumprem seus deveres de ser espelho e bom exemplo, já que as crianças aprendem por imitação;

3 – Terceira fase: dos sete anos até a puberdade, em que deve ser enfatizada a ginástica para um corpo saudável;

4 – Quarta fase: dos quatorze aos dezoito anos em que o jovem deve frequentar obrigatoriamente a uma escola da cidade-estado e deverá cursar as seguintes disciplinas: Ginástica, Música, Leitura, Escrita, Desenho, Aritmética. O processo educativo nesta fase possui três objetivos definidos por Aristóteles: formar um bom cidadão. Formar um bom caráter nos alunos, tornar o aluno útil economicamente à cidade-estado.

5 – Quinta fase: estende-se dos dezoito até os vinte e um anos de idade, em que são ministrados treinamento físico para formação da saúde corporal e o serviço militar para preparação do cidadão-guerreiro.

Estas cinco fases correspondem ao ensino fundamental e médio de hoje. Para os estudos de nível superior, Aristóteles fundou sua própria escola, chamada Liceu, cujo currículo abrangia as seguintes matérias:

– Ciências naturais;

– Ciências normativas;

– Filosofia (a ciência da contemplação)

Possível excogitar que, para Aristóteles a sabedoria estava numa espécie de “escaninho” alto na prateleira da existência e, para alcançá-la o homem teria de escalar degraus que exigiriam esforço físico e mental.

A dedicação ao corpo seguia um pensamento estético vinculado ao “belo”, sendo este “belo” a saúde física do cidadão e do guerreiro, ambos úteis à cidade-estado.

Solidificado o critério biológico e ultrapassadas as fases do necessário desenvolvimento corporal e do aprendizado de Ginástica, Música, Leitura, Escrita, Desenho e Aritmética, o aluno poderia matricular-se em seus estudos de ensino superior, principiando por estudar Lógica e Ciências Naturais. Estas disciplinas propiciariam observar e conhecer sistêmica ou contextualmente as similaridades entre substâncias, coisas e seres distintos para que o saber pudesse circular evolutivamente do conhecimento para a verdade e desta para certeza. Esse era o realismo aristotélico: conhecimento – verdade – certeza…

Em Aristóteles o processo educativo está alicerçado no fato de que o conhecimento que adquirimos nada mais é que o modelo intelectual que traçamos dos fenômenos que ocorrem no nosso mundo. A chuva é um fenômeno, a fome é um fenômeno, a escravidão é um fenômeno, a servidão é um fenômeno, a riqueza e a pobreza, as plantas e os pássaros, etc, etc, etc.

Por fim, com as Ciências Normativas, o processo educativo abrangeria o conhecimento sobre Ética, Retórica e Política. Note que as disciplinas que ele considerou como fundamentais para a formação física e intelectual dos alunos, ainda hoje seguem nos currículos dos diversos níveis de ensino, ainda que com nome distinto. As que não não obrigatórios, são oferecidas como optativas.

No próximo artigo abordaremos em resumo o processo educativo sob a perspectiva do ideal helenista, que se estabelece à partir da morte do Imperador Alexandre em 323 a.C., momento em que a Grécia se desintegra geograficamente, enquanto suas partículas culturais se espalham pelo mundo de forma a inspirar e amalgamar o processo educativo e de ensino do novo Poder dominante, o Império Romano.

Até breve!

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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