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EDUCAÇÃO E ENSINO NA GRÉCIA ANTIGA. EPISÓDIO DE HOJE: O Processo educativo em Aristóteles, para quem a razão é a medida de todas as coisas (Parte 1)

Direto de Brasília-DF.

Entenda de início que apesar de algumas discordâncias com outros filósofos clássicos de renome e de falhas de interpretação e, até de erros cometidos, Aristóteles é reconhecido como o “pai de todas as ciências” do mundo antigo.

Analisando seu trabalho no contexto temporal e espacial em que viveu não havia a física, a física quântica, a biomedicina e inúmeras outras ciências que hoje se estuda. Mas, tenha por certo ao estudá-lo que apesar de seu machismo e dos erros decorrentes de sua tentativa em acertar, você está diante do cientista que fez do HOMEM o centro do universo e do pragmatismo e da verdade positiva e objetiva, o ponto de partida para a forma como encaramos ciência e evolução no mundo de hoje e pelos séculos que ainda virão.

Aristóteles era amigo de Platão e teve em Sócrates o mesmo mestre. A pesar disto, seguiu caminho diferente de seus antepassados e contemporâneos. Ele não fecundou nem polinizou o conhecimento científico sozinho, mas se pudéssemos compará-lo aos mais de 300 milhões de espermatozóides que fecundam um óvulo, certamente ele seria aquele que chega na frente; que não sucumbe no caminho.

Inegável que perpetuou formas de pensar, de classificar e conceituar coisas inanimadas e seres animados. Inúmeras de suas formas de conceituar e classificar objetos do conhecimento, até hoje são adotadas academicamente, a exemplo da ciência do Direito com suas classificações múltiplas de atos jurídicos, da biologia e da própria filosofia.

 Aristóteles, nascido na cidade de Estagira,  na mesma Macedônia que foi terra de Alexandre “O Grande”, gostava de coisas simples e profundas, por mais paradoxal que isto possa parecer. Foi ele que conceituou uma cidade como um conjunto de cidadãos. Veja quanta simplicidade e quanta profundidade! Ao longo de sua vida e obra provou ser possível conciliar os dois conceitos na prática, o de simplicidade com profundidade, o de sabedoria com humildade .

O “pai de todas as ciências” do mundo antigo não tinha o gosto pela observação e classificação das coisas e pessoas, apenas como um hábito. Para ele observar uma coisa, o comportamento ou o pensar de uma pessoa, observar o funcionamento do planeta Terra ou o funcionamento do Universo deveria ser o prazer de todo ser pensante. Afinal, se a razão é a medida de todas as coisas e se fomos feitos seres racionais, por que não gastar tempo meditando? Era esta a encarnação do significado de filosofia, palavra grega formada por dois vocábulos com significado lindo e próprio: philos ou philia que quer dizer amor ou amizade; e sophia, que significa sabedoria, tudo traduzindo-se por amor ou amizade pela sabedoria.

Foram tantos os campos de pesquisa de Aristóteles, que a frase que cunhou “o ser se expressa de múltiplas formas” era totalmente aplicável a si. Poderia ser chamado de o filósofo da “verdade”, da “virtude”, da “busca da felicidade” (teoria que chamou de Eudemonística). Tantas outras adjetivações podem ser feitas sobre ele e sobre seu trabalho que o vocábulo “aristotelismo” passou a ser sinônimo de pensar investigativamente a vida ou, pensar lógica e criticamente.

Aristóteles iniciou sua vida de pesquisador como discípulo de Sócrates e como uma espécie de estagiário de Platão. Mas, sua capacidade de raciocínio terminou por superar a todos aos quais serviu e com quem conviveu. Por certo, despertou invejas, despeito e perseguições.

Afinal, não é comum que o sucesso alheio incomode à maioria da humanidade? Observe ao seu redor! Até hoje, se um aluno se destaca dos demais vira objeto de bullying em sala de aula de todos os níveis de ensino, do fundamental ao doutorado e pós-doutorado. Por que isto acontece? Baruch de Spinoza, filósofo holandês e autor do livro “A ética segundo os geômetras” diz que isto ocorre literalmente porque o ser humano é invejoso e carregado de despeito contra quem imagina poder superá-lo de alguma forma e diz, ainda, que o justo seria o aplauso e a união de forças para que o benefício do progresso seja repartido entre todos e a sociedade possa desenvolver-se em bases sustentáveis.

Inicialmente,  para Platão e Aristóteles o processo educativo estava absolutamente vinculado á cidade-estado. Assim, ensinavam abertamente que uma cidade-estado (entenda-se hoje “um Estado”) só poderia ser virtuosa se seus cidadãos fossem virtuosos. Para Aristóteles havia uma simbiose tão perfeita entre o cidadão e a cidade-estado, que dizia que o homem nasce para esta e esta existe para realizar ao cidadão que nela habita. Quem leu seu livro “A Política” deve ter percebido que para ele a Cidade era precedente e transcendente ao próprio homem.

Dizia também que, sendo o homem um ser que nasceu para viver em sociedade deveria ser considerado como um animal político por natureza. Eis que, como Homem, devota todos os seus esforços à busca da “felicidade”. A esta sua teoria chamou de “Eudemonística”.

Para o Estagirita, a busca pela felicidade deveria ser vista como uma eterna procura por uma vida de excelência e esta se conquista por meio do exercício da virtude. Mas, em tal caso, como e onde encontrar essa tal virtude? No domínio da dimensão racional, dizia o grande mestre! Afinal, é a capacidade de raciocinar que nos distingue dos demais animais. Eis porque para ele o processo educativo depende inteiramente do exercício de nossas capacidades mentais, empregadas na busca da verdade objetiva e pragmática solucionadora dos problemas que a razão cria.

Entendamos, todavia, que para Aristóteles “verdade” não é a antítese da mentira, mas a negação da essência de uma coisa, do Ser, da informação. Verdade é a máxima completude possível do exercício dos sentidos que nos leva à percepção sensorial mais próxima daquilo que o “SER” ou uma  coisa realmente é!

Portanto, o que o processo educativo e de ensino aristotélico buscava a sabedoria que pudesse situar o ser humano no equilíbrio entre a omissão e o exagero de qualquer ação humana. Nem a falta nem o excesso, dizia Aristóteles. Vivamos em equilíbrio quanto a nossos desejos. Nem o ascetismo (negação de todo e qualquer desejo) nem o hedonismo (a realização de todos os desejos). Aqui, tenho que registrar que quando criticou o hedonismo, assim como muitos estudiosos de todos os tempos, inclusive o apóstolo Paulo, o fez por mal compreensão sobre o que Epicuro ensinou verdadeira e completamente.

Na perspectiva aristotélica o homem é um ser perfeito. Não por não possuir defeitos e sim por ser possuidor da razão. Em seu livro “A Política” (Livro Primeiro, Capítulo I, § 11) deixa esta ideia clara ao dizer: “A natureza compele assim todos os homens a se associarem. Àquele que primeiro estabeleceu isso se deve maior bem; porque se o homem, tendo atingido a sua perfeição, é o mais excelente de todos os animais, também é o pior quando vive isolado, sem leis e sem justiça. Terrível calamidade é a injustiça que tem armas na mão. As armas que a natureza dá ao homem são a prudência e a virtude”.

Cria firmemente que um ser humano sem virtude  vivia na injustiça e que assim deveria ser considerado como o mais ímpio e feroz dentre todos os seres vivos, já que para ele a justiça deve ser o fundamento de toda sociedade.

É bom que você saiba que o processo de educação e de ensino aristotélico está fundamentado nessa busca da “verdade” essencial das coisas e dos seres, na busca da virtude à qual ele chama de JUSTIÇA.

Continua…

 

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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