Direto der Brasília-DF.
Como dissemos no artigo anterior, o fato inseparável do momento histórico em que surgem as primeiras escolas, e a escrita e leitura passam a ser o fundamento da Educação e do Ensino, é que a obediência por parte do aluno passa a ser vista como o caminho para o êxito social e econômico em sociedade. Aluno não ousava discutir nem tampouco desrespeitar quem lhe educava ou ensinava. Os pais não aceitavam tal postura, a cidade-estado não aceitava tal postura e a sociedade não aceitava tal postura por parte do aluno.
Na vida e nos dicionários encontramos inúmeras palavras polissêmicas, que possuem vários significados e outras cujo significado parece não variar no tempo e no espaço. Em qualquer época e em qualquer lugar do mundo o vocábulo “obediência” é traduzido como o ato de se atender a uma ordem ou comando. Por vezes, palavras assim inspiram a criação de Princípios Universais para o ser humano. Obediência inspirou a criação de um princípio universal multiconhecido e chamado de “Hierarquia”.
Hierarquia é, pois, uma relação de subordinação e coordenação. Ela sempre esteve e estará presente no mundo dos seres viventes, desde os animais ditos irracionais, por seu mínimo do mínimo de uso do raciocínio, ao mundo dos seres humanos, também com seu mínimo de raciocínio. Afinal, quem muito usa de nosso cérebro usa 10%. A natureza nos concedeu apenas o dízimo do poder de raciocinar. Até onde iria a ciência se usássemos 100%?
No quesito obediência observe que os filhotes de todos os animais são criados sob os cuidados e ordens das matrizes que os geram. Os lobinhos obedecem aos lobões, as hieninhas obedecem às hienas matrizes, os ratos bebês obedecem aos ratos que os geram e, por aí vai…
A obediência estendeu sua abrangência até nossos dias e a hierarquia tornou-se alicerce, fundamento, princípio que segue aplicado nas casas das famílias, nas carreiras militar, na Ciência da Administração, no Direito Administrativo, etc. Talvez porque tanto quanto o questionar lógico e crítico é importante para o avanço, o obedecer crítico e lógico é importante para a ordem que o Universo necessita para que as mudanças se processem de modo lógico, crítico e verdadeiro.
Ao falar de “verdade” nestes artigos estarei, salvo na exceção, falando da verdade aristotélica, ou seja, a que trata fa forma substancial das coisas e dos seres. Aristóteles, como nenhum outro filósofo criou a teoria da mudança e nela explicou que não é o que você vê que se traduz pela verdade, mas o que não vemos nas coisas e nos seres. Trataremos, resumidamente, desta teoria em artigos próximos em que falaremos do “pai de todas as ciências”.
A ordem da vida também requer obediência lógica e crítica e os povos antigos parecem haver compreendido isto, dentro do limite evolutivo de sua época. Talvez por isto os egípicios antigos, os povos mesopotâmicos (caldeus como os babilônicos e sumérios, por exemplo) fizeram seu sistema educacional e de ensino girar sobre o eixo da obediência ferrenha, inclusive cultuada por meio de castigos físicos totalmente apoiados pelos Faraós, Imperadores, sacerdotes escribas e pelos próprios pais (como já expliquei nos artigos anteriores).
Segundo Thomas Giles “este sistema vigora desde o período dos sumérios, passando pelos babilônios, assírios, caldeus, até os persas”.
Na época dos caldeus as escolas abrem suas portas aos filhos das classes altas não sacerdotais, que são os comerciantes, fazendeiros, juízes, artesãos. Não ainda para a classe dos servos e dos escravos.
A estratificação socioeconômica dava-se na seguinte ordem:
- Faraó/Imperador;
- Sacerdote escriba;
- Classe média (fazendeiros, comerciantes, juízes e artesãos);
- Servos; e
- Escravos.
Era a época em que o ensino das crianças iniciava aos sete e estendia até os vinte e quatro anos de idade e as classes que não estavam destinadas à carreira burocrática ou militar, como os servos e escravos, seguiam seu ensino tribal e oral, que aos poucos deixa de ser chancelado pelas cidades-estados. Em relação à ascensão o sistema era o mesmo usado pela Índia até hoje, ou seja, quem nasceu em uma casta inferior(sudra) jamais será de uma castra superior(brâmane). Sudra será sempre Sudra e Brâmane será sempre Brâmane, porque quem nasceu dos pés do deus Brahma, como servos e camponeses, não pode nascer da cabeça do deus Brahma, como os sacerdotes e as pessoas intelectuais. Pois é, na Índia é assim e não vejo ninguém questionando essa discriminação da religião veda. Antes, o que vejo são pessoas a louvando e, quase sempre pelas mesmas razões que os ditos “comunistas e socialistas” brasileiros, ou seja, porque nunca foram submetidos à realidade cruel de tais sistemas.
A grande exceção do mundo antigo, àquele sistema que valorizava a tradição oral e impedia mudanças de castas ou classes sócio-econômicas deu-se no Egito Antigo(cuidado para não confundir o Egito Antigo com o Egito Atual porque em muitos aspectos aquele representa a evolução e este o atraso).
No Egito Antigo saber ler e escrever abria portas para a ascensão social e econômica, um modelo similar ao que os Estados Modernos de Direito vão adotar no recente século XVIII, como ensina Quentin Skinner, em seu excepcional livro “As fundações do pensamento político moderno”.
Naquele Egito Antigo, já por volta de 3.000 a.C., serão instituídos três tipos diferentes de escolas:
1- Escolas do Templo;
2- Escolas da Corte; e
3- Escolas das Províncias( como se fossem nossas escolas municipais e estaduais de hoje).
O Professor Thomas Giles diz que “desde as primeiras povoações (18.000 a.C.), passando pela época pré-dinástica (a partir de 3.100 a.C.), até as invasões assíria e persa, e chegando à dinastia Ptolomaica (323-322 a.C), o elemento mais marcante no processo educativo egípcio é a presença da religião (…) o faraó sendo ao mesmo tempo sumo sacerdote dos cultos oficiais e chefe de Estado”. Importante, então, não desprezar a contribuição que a religião deu ao surgimento do processo de conhecimento como o conhecemos hoje. Mas, evoluir não é pecado!
Sendo certo que o faraó era ao mesmo tempo sumo sacerdote dos cultos oficiais e chefe de Estado, como o Presidente do Brasil hoje é ao mesmo tempo Chefe de Estado , Comandante das Forças Armadas, Chefe da Administração Pública e, ainda, Chefe de Governo, a diferença dos faraós, enquanto sacerdotes egípcios para os demais sacerdotes do mundo antigo é que o sistema de castas sociais e econômicas no Egito Antigo não era tão rígido(como era naquele mundo antigo e na Índia até hoje). Por exemplo, no Egito Antigo ser escriba já era uma profissão aberta a qualquer garoto que conseguisse provar sua habilidade com a leitura e a escrita.
Historiadores e arqueólogos já possuem material acadêmico suficiente para dizer que os Escribas eram também os tesoureiros e contadores reais e que junto à cada Tesouraria havia uma escola de formação de escribas para formar as próximas gerações de funcionários públicos do império.
Outro tipo de escola comum no mundo antigo era a escola militar, que ocupava-se dos filhos dos nobres e outros que queriam se enfileirar nos exércitos reais. Lembremos que nessa época o exército pertencia ao faraó, imperador, etc. Não era como hoje em que a Nação possui um Exército, porque em muitos lugares do mundo antigo, assim como no Egito Atual, era o exército que possuía a Nação e seu mundo era tão militarizado que mal se sabia o que era uma sociedade civil.
Portanto, há uma diferença muito em grande entre uma nação com um exército e um exército que possui uma nação (se deseja entender melhor essa relação busque a série anterior de artigos que escrevi aqui no Pernambuco em Foco, denominada: “O dilema da lealdade dividida entre Nação e Estado”).
No próximo artigo, não deixe de ler o episódio final sobre “Símbolos e Escrita dentro do processo educativo”.
Até breve!