Os geossintéticos, quando bem projetados e aplicados nas obras de proteção costeira se apresentam como uma solução eficaz na contenção da erosão costeira.
O uso de geossintéticos em obras de proteção costeira teve um crescimento bastante significativo nos últimos 20 anos. A aplicação de geossintéticos em obras de proteção costeira pode desempenhar um papel fundamental na substituição de materiais tradicionais, podendo ser utilizado como espigões, quebra-mares e revestimentos para controle da erosão costeira.
Dependendo da forma como são utilizados, eles apresentam vantagens pelo baixo custo de implantação, simplicidade na colocação e uma maior eficácia nos resultados, devido ao baixo impacto ambiental na praia.
Existem diversos tipos de geossintéticos para proteção costeira, podendo ser utilizados os geocilindros, geocontentores e geossacos.
O geocilindro é uma estrutura tubular constituída por um geossintético resistente preenchido com areia bombeada. Sua aplicação é ideal para uso na superfície ou em casos de submersão até um máximo de 5m de profundidade. A capacidade de solo por metro linear de geocilindro varia entre 2 e 10 m³.
O geocontentor é um elemento caraterizado pelas suas grandes dimensões. Como o nome sugere, contém um volume importante de solos dragados. É utilizado em obras submersas com profundidade a partir de 5 m. O seu enchimento pode ser realizado por bombeamento ou de forma mecânica. O geocontentor é colocado no batelão, em seguida é enchido com areia e costurado com linha especial de alta resistência. Após o enchimento do geocontentor, o batelão se posiciona no local para depositá-lo e seu casco abre, afundando-o na posição prevista.
Os geossacos são elementos geossintéticos enchidos habitualmente com material arenoso, podendo ser preenchidos com outros materiais conforme as necessidades de projeto. Por norma são personalizados para cumprir os requisitos do projeto e instalação, sendo fornecidos nos mais variados formatos e dimensões. Suas dimensões são menores, cada unidade tem capacidade de conter de 1 a 10 m³ de areia. O enchimento é feito no local da estrutura a construir, por meios mecânicos ou por bombeamento, geralmente utilizado na superfície ou submerso.
Em 2003, tivemos o primeiro registro do uso de geossacos para proteção costeira no litoral do Nordeste. Foi construída uma obra para proteção costeira na AL 101 Norte, na praia do Boqueirão, no município de Japaratinga, no estado de Alagoas. A obra tem uma extensão de 300 metros. “O dissipador de energia Bagwall foi uma obra pioneira na proteção ao avanço da maré. Na época ocupava a Diretoria de Obras do DER no governo Ronaldo Lessa. Acreditamos na tecnologia e após 17 anos de sua construção, a estrutura está lá protegendo a encosta. Próximo a Pousada do Alto”, explica o engenheiro do DER Ivens Peixoto. |
“O dissipador de energia Bagwall foi uma obra pioneira na proteção ao avanço da maré. Na época ocupava a Diretoria de Obras do DER no governo Ronaldo Lessa. Acreditemos na tecnologia e após 17 anos de sua construção, a estrutura está lá protegendo a encosta. Próximo a Pousada do Alto”
Ivens Peixoto |
Após 17anos, o dissipador de energia continua contendo a erosão costeira no sopé da falésia de Japaratinga (Foto: Autoral)
Atualmente muito se discute sobre a eficácia das obras de contenção costeira, principalmente considerando os efeitos das mudanças climáticas nas cidades costeiras, com a provável intensificação dos processos de erosão e inundação, o que aumentará a demanda por essas obras. Com esse cenário, se faz necessário uma nova abordagem exigindo novos conceitos na definição de obras de proteção costeira com o objetivo de promover a recuperação de praias.
Devido aos resultados positivos com uso do dissipador de energia Bagwall nas praias do Boqueirão (2003) e de Ponta Verde (2004), nos municípios de Japaratinga e de Maceió respectivamente, adotou-se em 2008 a mesma solução de engenharia para contenção da erosão costeira na praia de Barra Nova, em Marechal Deodoro, no estado de Alagoas, a obra tem uma extensão de 1.250 metros.
Barra Nova Nova: Engorda natural da praia após a construção da obra. (Foto: E. Machado)
Barra Nova: Calçadão construído após proteção com o Bagwall. (Foto: Erikson Machado)
Após 12 anos da construção da obra, o Bagwall tem sua eficácia comprovada. “O dissipador de energia contribuiu consideravelmente para proteção costeira na praia da Barra Nova, garantindo a população local o acesso a praia natural recreativa”. Afirma o ambientalista Erikson Machado da ONG Salsa de Praia. | “O dissipador de energia contribuiu consideravelmente para proteção costeira na praia da Barra Nova, garantindo a população local o acesso a praia natural recreativa”
Erikson Machado |
Em Alagoas, o uso de dissipadores de energia em oito praias do litoral alagoano, sendo todas elas em condições completamente distintas do ponto de vista geográfico, geológico, morfológico e hidrodinâmico, tendo como resultado final foi a contenção do avanço do mar sem transferir o processo erosivo para áreas adjacentes, promovendo a recuperação da praia com a recomposição do perfil devido à engorda natural, e a facilitação do acesso da população à praia natural recreativa, indicam a necessidade de expandir a experiência para outras praias.
Em Pernambuco, o problema da erosão costeira no litoral do Paulista não foi corretamente sanado pelas inúmeras obras de proteção que foram edificadas nas décadas de 1990 e 2000. A construção de estruturas rígidas artificiais, aliada às alterações do suprimento sedimentar das praias, contribuiu para um recuo médio de 100 m da linha de costa do litoral de Paulista ao longo dos últimos 10 anos.
Na década de 90, foram construídos espigões, quebra-mares e engorda artificial na praia do Janga. Após a construção das referidas obras, quatro trechos da orla intervencionada apresentaram forte processo erosivo numa extensão de 0,7 km. Ocorreu também a transferência do processo erosivo para a vizinha praia de Pau Amarelo, provocando destruição numa extensão de aproximadamente 5 km.
Com o agravamento do problema da erosão na orla do Paulista, inclusive ameaçando o histórico Forte de Pau Amarelo, utilizou-se como mitigação em agosto de 2013, a construção de um Dissipador de Energia Bagwall, para contenção da erosão costeira nas praias de Pau Amarelo, Janga e Nossa Senhora do Ó, com extensão de cerca de 4 km.
N. Senhora do Ó: Recuperação do perfil da praia após a obra. (Foto: Autoral)
Nossa Senhora do Ó: Deposição de sedimentos e a Engorda natural da praia. (Foto : Autoral)
O biólogo e vereador do Paulista Fábio Barros disse: “Nenhum tipo de obra costeira no mundo é perfeita, mas estamos conseguindo manter nossa orla com o menor custo e menor impacto ambiental”. A obra foi construída de forma emergencial há sete anos para contenção da erosão costeira na orla do Paulista, em Pernambuco. | “Nenhum tipo de obra costeira no mundo é perfeita, mas estamos conseguindo manter nossa orla com o menor custo e menor impacto ambiental”
Fábio Barros |
Em dezembro de 2016, foi construído de forma pioneira um dissipador de energia, utilizando geossintético do tipo Sandbag, na praia de Ipioca no litoral de Alagoas, para proteção costeira num terreno privado.
O dissipador de energia Sandbag funciona como um anteparo que contém o avanço do mar no local da erosão, dissipando a energia do trem de ondas que incide sobre sua estrutura reduzindo sua velocidade, e com isso promovendo a recuperação do perfil da praia no local da intervenção. A estrutura utilizada fica enterrada, garantindo o acesso à praia natural recreativa, o resultado é um baixíssimo impacto ambiental na paisagem e no meio ambiente.
Em julho de 2019, O dissipador de energia Sandbag construído no Hibiscus Beach Club Maceió, a erosão costeira foi contida e a praia continua em recuperação.
Ipioca: Recuperação do perfil da praia no Hibicus após a construção do Sandbag. (Foto: Autoral)
Ipioca: Retorno da praia recreativa no Hibiscus após 6 meses da construção do Sandbag. (Foto: Autoral)
Desde a instalação do Dissipador de Energia Sandbag, o processo erosivo está contido, a praia emergiu e continua acumulando areia. “Com os dados levantados em campo durante o monitoramento até o momento, pode-se afirmar que a solução de engenharia adotada é eficaz”. Informa o proprietário do Hibiscus Vanderlei Turatti. | “Com os dados levantados em campo durante o monitoramento até o momento, pode-se afirmar que a solução de engenharia adotada é eficaz”.
Vanderlei Turatti |
A principal limitação de uso de geossintéticos em obras costeiras é quando a estrutura fica exposta. Nesse caso são necessários o monitoramento e a manutenção constantes, para corrigir eventuais roturas localizadas no geossintético, principalmente por vândalos. É importante que a instalação dos geossintéticos seja feita por um construtor experiente, para garantia da qualidade do serviço.
Os geossintéticos, quando bem projetados e aplicados nas obras de proteção costeira se apresentam como uma solução eficaz, tanto na contenção da erosão costeira como na recuperação de praias em áreas urbanizadas.
Marco Lyra