Pacientes hospitalizados apresentam mais risco de desenvolver tromboembolismo venoso (TEV); professor e médico hematologista explica causas, sintomas e como se prevenir durante o período de internação
São Paulo, 18 de agosto de 2023 – O falecimento de MC Katia no domingo, 13 de agosto, em decorrência de complicações após uma cirurgia para retirada de um mioma no útero, chamou atenção para casos de tromboses que podem ocorrer durante ou após internações hospitalares. A funkeira de 47 anos estava internada desde julho para a retirada de um mioma e, segundo relatos publicados na imprensa, apresentou complicações trombóticas, tendo sido submetida a uma amputação do membro inferior na altura do joelho. O Dr. Erich de Paula, médico hematologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), explica melhor as causas da trombose associadas a internações hospitalares, trazendo informações importantes para a compreensão dos relatos em torno do falecimento de MC Katia, bem como formas de se prevenir das tromboses associadas a internações.
De forma geral, trombose é o termo usado para indicar a obstrução de qualquer vaso sanguíneo do organismo humano, podendo afetar tanto o sistema arterial quanto o venoso. As internações hospitalares são o principal fator desencadeante de tromboses nas veias, conhecidas como tromboembolismo venoso ou TEV. Este tipo de trombose pode se manifestar como trombose venosa profunda (TVP) ou como embolia pulmonar (EP).
“Na TVP, a obstrução de uma veia profunda (isto é, interna) da perna ou coxa causa, em geral, inchaço, vermelhidão e dor do lado acometido. Já a EP ocorre quando este trombo (como é chamado o coágulo de sangue) se solta e navega pela circulação até os pulmões, onde se aloja devido a seu tamanho, causando uma redução da capacidade de oxigenação do sangue, que costuma se manifestar como dor no peito e falta de ar”, explica Dr. Erich. De acordo com o especialista, cerca de 60% de todos os casos de TEV ocorrem nos 90 dias que se seguem a uma internação hospitalar, muitas vezes quando os pacientes já estão em casa.
No entanto, ele aponta que tromboses venosas raramente causam redução da oxigenação do sangue (chamada de isquemia) para a perna. A explicação para isso é que o papel das veias é levar o sangue que já deixou sua “carga” de oxigênio nos tecidos de volta para os pulmões, onde ele será novamente oxigenado. Segundo o médico, quem leva o sangue rico em oxigênio para os órgãos e tecidos são as artérias, por isso as tromboses arteriais têm consequências bem mais graves.
“Assim, o relato da complicação sofrida por MC Katia sugere a ocorrência de outros mecanismos. Amputações normalmente ocorrem quando há tromboses arteriais, que comprometem de forma mais significativa a oxigenação dos tecidos, mas não é possível fazer afirmações sobre este caso, já que não temos informações clínicas suficientes. O que podemos dizer, com o objetivo de educar a população, é que tromboses, sejam elas nas veias ou nas artérias, são responsáveis por quase um quarto das mortes em todo o mundo, podendo, em muitos casos, serem prevenidas”, aponta Dr. Erich.
No caso do TEV associado a internações, todo paciente internado deve ser avaliado pela equipe de profissionais da saúde quanto à necessidade de utilizar alguma medida para redução do risco de trombose, o que pode variar desde mover-se mais durante a internação até o uso de medicamentos anticoagulantes. Já em relação às tromboses arteriais, elas são mais frequentes em pacientes que fumam, ou com antecedentes com hipertensão, diabetes, obesidade e alterações no colesterol. O acompanhamento médico regular para controle destes fatores é a melhor estratégia de prevenção.
Especialista ligado ao Dia Mundial da Trombose, data lembrada anualmente em 13 de outubro para alertar e informar sobre a doença, Dr. Erich destaca a importância da prevenção e da disseminação do conhecimento sobre a trombose. “A prevenção, diagnóstico e tratamento precoces do tromboembolismo venoso são cruciais para mitigar a gravidade da doença e suas consequências”, conclui o professor da Unicamp.