Direto de Brasília-DF.
Neste e nos próximos artigos, abordo a questão da tributação de livros. Mas, também, a ganância das editoras, das livrarias, e a falta de compromisso e respeito com o pagamento de direitos autorais. Essa discussão é complexa e exige uma abordagem que vá além de falar dos erros de somente um dos lados da questão.
Espero que seja útil para esclarecer esse tema tão comentado nos últimos meses. Começo pelo aspecto histórico e prossigo com análises, e minha conclusão sobre o problema.
Pois, bem! Desde a antiguidade o ato de incendiar bibliotecas e queimar livros criou uma trilha de destruição de memórias, conhecimentos e cultura. É como se o ser humano destruísse propositalmente sua própria história e adquirisse amnésia sobre seu passado.
O que você faria se acordasse um dia e não lembrasse mais quem é, se não reconhecesse o lugar e as pessoas ao seu redor? Você já viu filmes assim, nos quais o personagem luta desesperadamente para saber quem é. Sentiu o desespero? Queimar livros e bibliotecas era como queimar a própria memória e ainda assim esse era o ritual dos exércitos conquistadores e dos religiosos, sempre que entendiam tal e qual literatura como “inimiga” de sua ideologia.
Você faz ideia de quanto podemos haver perdido sobre a filosofia confucionista, cuja profundidade sobre os estudos da ética, administração governamental e relações sociais é mencionada em todo o mundo, mas cujos registros pessoais se perderam? Durante a dinastia chinesa Qin, entre 221 e 206 a.C., a queima de livros era uma constante e com elas as fontes de sabedoria.
A fogueira que ardia na Ásia ardia também na África, pois no século II a.C., a cidade de Alexandria, norte do Egito, sofria com rebeliões populares que ameaçavam destruir seu patrimônio artístico, cultural e literário. Nessa progressão de inimizade com a ciência, no ano de 48 a.C., um incêndio provavelmente deliberado destruiu milhares de livros de Biblioteca de Alexandria e, em alguns casos, apagou para sempre a luz do saber antigo.
A biblioteca de Alexandria era uma mini cidade, um complexo de pesquisa e ensino já comparável às Universidades que surgiriam por volta do século XIII d.C. Em seu espaço geográfico estavam localizados:
– 1 instituto de pesquisa,
– 1 jardim zoológico,
– 1 jardim botânico,
– 1 observatório astronômico.
Você consegue imaginar o tamanho do lugar, as vielas entre os prédios, as praças, os bancos e jardins para alunos e mestres sentarem, conversarem, estudarem, descansarem, os laboratórios astronômicos e de outras pesquisas científicas?
O incêndio não tinha como alvo os prédios, as vielas, as praças e sim livros, pois registram e mudam histórias de vida e de países; ensinam a mente humana a transitar do estado mais selvagem ao raciocínio que nos faz alcançar a dimensão superior capaz de justificar, ou não, nosso domínio sobre as demais espécies e a sobrevivência no Cosmo.
Nesse incêndio com provável perda de mais de 800 mil livros e documentos, do espantoso número de um milhão existente à época. Destes livros e textos antigos 100 mil teriam sido preservados e posteriormente levados para a Biblioteca de Constantinopla, até os saques à cidade em 1204 e sua queda para o exército do sultão Maomé II, no ano de 1453, quando este derrota o último imperador romano, Constantino XI, evento histórico que sacramentou o fim do Império Romano e o surgimento do Império Otomano-turco, que perdura quase 520 anos.
O sultão Maomé II tinha como ídolo a Alexandre, o Grande. Lia tudo que podia sobre ele, alimentava-se desde o fim de sua infância (11 anos) de livros sobre as grandes estratégias e conquistas de Alexandre.
Maomé II fundou um império que durou mais que o de seu mestre Alexandre. Sabia da importância dos livros, mas não poupava os de ideologia diferente de sua religião. Assim, no eterno embate entre a “fé” e a ciência, Maomé II repetia a fórmula que segue adotada, inclusive na política, ou seja, ele mandou queimar todos os livros cristãos e de escritores cristãos, sem importar com o conteúdo filosófico, histórico, botânico, astronômico, etc.
Não pense que esse ritual é exclusivo dos religiosos radicais. Na Revolução Bolchevique de 1917 em que a Rússia invade mais de 15 repúblicas para formar seu Império Comunista, Lenin, Trótski, Stalin e os demais governantes que o sucederam mandavam queimar, destruir todo e qualquer livro sobre capitalismo, assim como censuravam e impediam qualquer comunicação entre cidadãos soviéticos e cidadãos do mundo ocidental, ao argumento que a literatura e os costumes capitalistas poderiam “contaminar” a eles. Coisas da idiotice comunista que até hoje é cultuada por alguns brasileiros comedores de camarão e bebedores de champanhe que usam a ideologia de esquerda para parecer chique e “descolado”, sem sequer entenderem sobre o que realmente falam.
A queima de livros ocorreu em vários estágios do caminhar, da humanidade. As razões alegadas vão do político ao religioso e só têm em comum o fato de serem motivos estúpidos e contrários à ciência e ao desenvolvimento racional da humanidade.
Não perca o próximo capítulo, quarta-feira, dia 12 de maio.
E em breve estreia a nova série: “CORRUPÇÃO DURANTE A PANDEMIA. VIDAS HUMANAS, O QUE ISTO IMPORTA?”
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