A Secretaria Executiva da Mulher do Cabo de Santo Agostinho tomou a iniciativa de reunir órgãos correlatos de 25 municípios da Região Metropolitana do Recife (RMR) e Agreste para iniciar uma conversa com o governo do Estado. O objetivo é o de criar uma cultura administrativa na qual o combate à violência contra as mulheres saia da atual condição secundária nas administrações municipais e conquiste um lugar de maior destaque nos planos de governo dos prefeitos.
A reunião híbrida, realizada de forma presencial e virtual, foi a primeira com a secretária estadual da Mulher, Ana Elise Sobreira, que tomou posse há um mês. “A minha ideia, com a chegada da nova secretária, foi dar as boas vindas e falar sobre as dificuldades de realizar políticas públicas. Eu já fui secretária no Agreste e vejo que, nas duas regiões, política pública para mulher tem as mesmas dificuldades e desafios”, disse a secretária executiva do Cabo, Walkíria Ferreira Alves.
Segundo Walkíria, as gestoras municipais enfrentam problemas que vão desde a falta de estrutura física e até de pessoal. “Muitos municípios não têm profissionais, salas, recursos e, em muitos momentos, falta presença mais forte para apoiar as gestões”, diz.
A secretária municipal conta que o diálogo é importante para mudar a atual cultura, pois, segundo ela, muitos prefeitos extinguem ou diminuem a importância das secretarias das mulheres, transformando-as em coordenadorias ou deixando a pasta dentro de outras secretarias como assistência social. O enfrentamento à cultura machista, conta Walkíria, é um desafio multidisciplinar que envolve aspectos de segurança pública, jurídico e psicológico.
“A ideia é que o Estado se aproxime dos prefeitos para criar o diálogo, no sentido de manter o serviço e também de criar condições para que as secretarias trabalhem. Muitas não têm sala ou pessoal. Há muitas coordenadoras que trabalham sozinhas, sem equipe. Ou seja, isso representa ausência de estrutura. Quando o Estado se aproxima, o diálogo é facilitado”, argumenta Walkíria. A reunião também contou com a presença da deputada estadual Gleide Ângelo que, assim como Ana Elise Sobreira, é delegada de polícia. “Gleide já vem realizando esse trabalho de conversa com os gestores”, disse Walkíria.
EXEMPLO POSITIVO
O município do Cabo de Santo Agostinho vem dando um exemplo positivo no enfrentamento à violência contra as mulheres. O município é um dos únicos do Estado a manter dois centros especializados de atendimento à mulher. “De 185 municípios, há apenas 37 centros especializados. Dois estão no Cabo.”
A cidade também mantém a Patrulha Maria da Penha e a sala especial de atendimento à mulher na Delegacia Regional, voltada ao acolhimento das mulheres vítimas de violência, inclusive durante os finais de semana. A Delegacia da Mulher funciona apenas de segunda a sexta.
O Cabo de Santo Agostinho também mantém atendimento itinerante nos engenhos do município, regiões mais distantes da zona rural. Nestes atendimentos, assim como acontecem nos centros, a mulher é recebida por uma equipe composta por advogada, psicóloga e assistente social que dão orientação jurídica, medidas protetivas e encaminhamento ao conselho tutelar, além de registro de boletim de ocorrência. “O resultado é que os números de denúncias têm crescido no Cabo, por causa da divulgação e ampliação da equipe e dos horários de atendimento”, relata Walkíria.
A secretária salienta que o tema da violência contra a mulher sofre com interpretações errôneas e chavões. Ela conta que o perfil do homem pobre embriagado de periferia que bate na mulher negra que depende dele para sobreviver é uma imagem que não reflete todo o problema.
“A violência é estrutural, de um sistema machista patriarcal que enxerga a mulher como propriedade. É um sentimento ligado à posse e à imagem de que ‘não fica comigo, não fica com ninguém”, resume, lembrando que a cada hora ocorre um feminicídio no Brasil.
Walkíria lembra que as mulheres não são vítimas apenas do marido raivoso, mas também do irmão, do pai, do chefe ou patrão. “A violência acontece em três âmbitos. Na relação íntima de afeto (marido), na relação familiar (pai, irmão… ) e na de co-habitação, um exemplo são empregadas domésticas que sofrem abusos”, relatou.
Secretaria de Comunicação Social do Cabo de Santo Agostinho
Crédito da foto: Mariangela Viana