DR JUDIVAN VIEIRA

Salvo por Pelé e Roberto Carlos na Grécia, mas condenado pela política desvirtuada em tempos de Coronavírus/Covid-19.

Direto de Brasília-DF.

No ano de 368 a.C.,  já próximo do fim da adolescência,  um jovem de 17 anos chega em Atenas vindo da cidade de Estagiros, na costa do mar Egeu. Matricula-se na Academia de Platão e quando este chega de viagem pela Sicília em 367 a.C., Aristóteles já se destaca dentre todos os alunos.

As duas próximas décadas são marcadas pelo progresso de seus estudos até que subitamente rompe com Platão, talvez porque com a morte deste em 347 a.C., ao invés de escolherem o melhor aluno, escolheram a Espeusipo, sobrinho de Platão para substituí-lo no comando da Academia, numa autêntica prática política de nepotismo. Outro motivo para Aristóteles deixar a Academia de Platão pode haver sido a crescente diferença no método lógico-crítico que o distanciava sensivelmente de seu respeitado mestre, já que o estagirita entregava-se por completo a aperfeiçoar o antropocentrismo e racionalismo inagurado pelo filósofo Tales de Mileto.

Aristóteles deixa Atenas e perambula por algumas cidades-estado até se estabelecer em Atárnea, governada de forma tirânica por Hérmias, um antigo escravo emancipado que também estudara na Academia de Platão. Em Atárnea encontra outros colegas de aula, como Xenócrates, até que em 342 a.C., os persas invadem a cidade e matam a Hérmias por estrangulamento. O tirano deixou uma filha adotiva que em verdade era sobrinha chamada Pítias que se torna a primeira esposa de Aristóteles, mas sentindo-se inseguro em Atárnea, fogem para a cidade de Mitilene, na ilha de Lesbos. Neste período a Macedônia, ao norte da Grécia, cresce em poder militar, sede por conquistas territoriais e ambição política.

O comandante da Macedônia era Filipe II, que já acompanhava há muito as noticias sobre Aristóteles, um dos maiores gênios de seu tempo. Chama-o e entrega a ele a educação de seu filho, Alexandre, que à época contava 13 anos de idade.

Aristóteles inicia Alexandre nos estudos sobre política, ética, pedagogia, retórica, lógica, matemática, tudo sob o manto de sua racionalidade antropológica que orientava suas pesquisas especulativas no método crítico-lógico. Serão sete anos ensinando Alexandre e criando, sistematizando e aprofundando conhecimento sobre múltiplas ciências, até que em no ano 335 a.C., Alexandre  decide partir para suas guerras de conquistas e o mestre estagirita volta para Atenas.

Em Atenas compra um terreno perto do templo de Apolo Lício, constrói sua escola e em homenagem à Apolo Lício chama-lhe, Liceu. Em novembro de 2019 visitei as escavações arqueológicas do Liceu e pude apreciar os jardins onde Aristóteles todos os dias caminhava ensinando a seus alunos. Pela manhã e à tarde expunha suas ideias sobre as múltiplas ciências de seu domínio, enquanto caminhava com seus discípulos,  método batizado de “peripatético” ou, o que ensina ao caminhar. À noite cuida da família, medita, faz anotações e escreve livros que chegam a nossos dias, dentre eles “A Política”, em oito volumes. É uma enciclopédia que vai além de idealizar o modus vivendis privado e público na individualidade e na polis. Neste compêndio Aristóteles cria e sistematiza:

1 – A Política como ciência ou arte de governo da polis e neste sentido estabelece que a Ciência Política ultrapassa em importância o Direito.

2 – O desvirtuamento da Política dentro da Teoria do Estado (o fez estudando com seus alunos do Liceu, mais de 150 espécies de diferentes Constituições de cidades-estados gregas).

Aristóteles ensina que  O homem é, por sua natureza, como dissemos desde o começo ao falarmos do governo doméstico e do dos escravos, um animal feito para a sociedade civil. Assim, mesmo que não tivéssemos necessidade uns dos outros, não deixaríamos de desejar viver juntos. Na verdade, o interesse comum também nos une, pois cada um aí encontra meios de viver melhor. Eis, portanto, o nosso fim principal, comum a todos e a cada um em particular. Reunimo-nos, mesmo que seja só para pôr a vida em segurança. A própria vida é uma espécie de dever para aqueles a quem a natureza a deu e, quando não é excessivamente cumulada de misérias, é um motivo suficiente para permanecer em sociedade. Ela conserva ainda os encantos e a doçura neste estado de sofrimento, e quantos males não suportamos para prolongá-la! Mas não é apenas para viver juntos, mas sim para bem viver juntos que se fez o Estado.

Se prestar bem atenção ao final desse ensinamento verá que Aristóteles, o pai da política e de outras inúmeras ciências, fugia da ingenuidade ao ensinar que “não é apenas para viver juntos, mas sim para bem viver juntos que se fez o Estado”.

Aristóteles juntamente com seus alunos do Liceu se determinou a estudar mais de 150 das Constituições das diferentes cidades-estado gregas e desse estudo que dá origem ao  Direito Constitucional e suas sub-disciplinas como o Direito Constitucional Histórico e o Direito Comparado, ele percebe que a Política, criada para o bem, poderia ser completamente desvirtuada para o mal. Isto o diz no livro que escreve a seu filho, “Ética a Nicômaco”, para ensinar-lhe que “tanto a virtude como a ciência política giram sempre em torno de prazeres e dores, de vez que o homem que lhes der bom uso será bom e o que lhes der mau uso será mau”.

Sim, a política foi criada como uma emanação da Natureza para ser o motor do bem, mas sempre que paro para observar o que nossos políticos fazem da Política, percebo que a tornam odiosa e detestável para os seres humanos de bem.

Lembro que da primeira vez que estive na Grécia fui salvo por Pelé e por Roberto Carlos. Estranho, não?!? Pois bem, eu havia pegado um ônibus em Atenas e me perdi na cidade. Para comemorar que estava perdido fui a um bar às margens de uma rodovia e pedi uma bebida cheia de álcool com café. Eu não sabia ler nada em grego como ainda hoje não sei. Então, apontei o dedo na bebida que achei bonita e fiquei bem “alegrinho”. Larguei a mesa de lado e sentei-me no meio fio olhando os carros que passavam, quando de repente no serviço de som daquele bar tocou a canção “sentado à beira do caminho” na voz de Roberto e Erasmo. Você imagina minha surpresa e alegria? Meu espírito quis se sentir achado pelo sentimento de pertencimento que a música brasileira espalha pelos brasileiros ao redor do mundo.

Saí andando e sei lá o porquê, mas o fato é que na primeira rua que entrei parei para olhar bugigangas numa banca de revista e o dono me identificou como brasileiro. A primeira coisa que ele disse foi: – Brasil! Pelé, Pelé, Pelé!!!

Pensei comigo naquela hora que o Brasil nunca teve embaixadores melhores que seus músicos e alguns jogadores de futebol que espalham boa fama do país pelo mundo, já que nossos políticos são de qualidade tão duvidosa.

Neste momento de pandemia mundial e epidemia aqui pelo Brasil fico observando a qualidade da política e vejo como ela foi desvirtuada de seus fins. Vejo cantores sertanejos fazendo lives para arrecadar alimentos e recursos para o povo e para salvar instituições várias como hospitais; vejo cientistas do mundo todo unidos para encontrar uma vacina contra o Coronavírus/Covid-19; vejo gente do povo ajudando gente do povo a fazer compras. Mas, e os políticos? Bem, os políticos seguem como sempre, disputando o poder à tapa! Jogando com a fome e a miséria da Nação; corrompendo e se deixando corromper e, o pior, achando ruim por gastar o dinheiro da Nação com os cuidados básicos que devem ter para com ela.

Os países endividam-se para construir pontes, viadutos, prédios, para pegar dinheiro emprestado e depois emprestar com juros e correções para outros países. Os países endividam-se para construir milhares e milhares de estradas; para oferecer subsídios a montadoras de automóveis para gerar alguns postos de trabalho e não reclamam por isto.

Agora estão tendo que se endividar para dar benefícios como cupons, vales, seguro desemprego ao POVO, à NAÇÃO e estão todos de cara feia, alegando que a dívida pública vai aumentar. Deixem de ser ESTÚPIDOS! Se neste período emergencial pandêmico o Estado tiver de triplicar sua dívida pública salvando o povo, pequenas e médias empresas por meio de subsídios, que o faça! Que se endivide sem reclamar nem fazer cara feia achando que está fazendo UM FAVOR à Nação. Vocês não fazem mais que obrigação! Como diria Esopo em sua famosa fábula,  só um estúpido mataria a galinha para ficar com os ovos de ouro.

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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