Direto de Brasília, DF
Tenho o prvilégio de conheçer o entrevistado. Sei que sua história é de longa e sofrida construção pessoal, acadêmica e profissional. Hoje, são tantos os títulos acadêmicos que possui e êxitos que coleciona que inspira a quem o conhece e tenho certeza que também a quem ler esta entrevista. Pensa que a vida foi sempre assim para Albérico Camelo de Mendonça?
Tive a honra de ouvi-lo, aprender com ele em alguns momentos da vida. Sofremos juntos quando a tônica de nossas vidas era a pobreza e miséria, e lutávamos para passar em concursos públicos sem jamais desistir, ante os muitos reveses que a vida impõe a quem tem origem na miséria e pobreza social e econômica. Em tempos assim dói não saber de onde virá a próxima refeição para si e para a família.
Hoje, depois de uma longa vida de trabalho está aposentado e realizado. Mas, para chegar a este estágio de tantos êxitos que acumula teve que fazer do sofrimento combustível para cada vitória conquistada. Por isto, o convidei a conceder esta entrevista para a série “Histórias de quem não desiste”.
Senhoras e senhores com vocês, Albérico Camelo de Mendonça:
Judivan Vieira: Fale um pouco sobre você.
Alberico Mendonça: Em primeiro lugar quero agradecer ao amigo Dr. Judivan Vieira por honrar-me e convidar-me para esta entrevista. Meu nome completo é Albérico Camelo de Mendonça, nasci na cidade de Monte Alegre de Minas, uma pequena, porém alvissareira cidade encrustada bem no centro do Triângulo Mineiro.
Sou originário de uma família que economicamente estava abaixo da linha da pobreza. Até aos 18 anos trabalhei em serviços pesados em fazendas e em Brasília fui peão de obras, plantei gramas e trabalhei em outros serviços semelhantes. Consegui concluir o ensino médio somente aos 27 anos de idade.
JV: Qual sua formação acadêmica? Foi difícil estudar tanto? Que compensações o conhecimento traz para a vida pessoal, acadêmica e profissional?
AM: Consegui formar-me em Teologia, Estudos Sociais, em Direito e em Pedagogia. Estudei Filosofia, mas não cheguei a concluir o curso, ainda.
Fiz pós-graduação em Política e Estratégia na ADESG/UnB, onde fui colega de curso do Dr. Judivan; pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior e Direito do Trabalho, em Psicologia Pastoral e Aconselhamento e Teologia Sistemática. Fiz os cursos de mestrados em Ciência da Religião e em Direito Internacional Econômico e, por final, o curso de Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais, em Buenos Aires, onde tive oportunidade de estudar mais uma vez com o Dr. Judivan, sempre aprendendo com ele nos seminários que apresentava no curso.
Realmente, estudar não é fácil. Aliás, é muito difícil! Mas, o estudo nunca deixa de trazer suas recompensas. Na proporção que vamos estudando o conhecimento vai nos brindando com suas recompensas. Para a vida pessoal o estudo amplia nossa visão de mundo, inclusive de nós mesmos. Nos dá segurança e nos prepara para melhor nos relacionar com outras pessoas e com a realidade que nos rodeia. O conhecimento foi me preparando cada vez mais para a vida. No Tribunal Regional do Trabalho da Décima Região, onde trabalhei por 25 anos e por fim me aposentei, tive a incorporação dos Adicionais de Qualificações que fiz ao longo do tempo que lá trabalhei e exerci a função de Instrutor Jurídico Interno do TRT/10, selecionado por títulos. Tirei em primeiro lugar nesta seleção. Além do salário, recebia pelas aulas ministradas.
O estudo também me preparou para a vida acadêmica. Tive oportunidade de ser professor do curso de Direito do IESB por alguns anos, professor de Direito na UNEB e em alguns cursinhos preparatórios para concurso.
JV: Que atividades profissionais desempenhou antes, e segue desempenhando, após a aposentadoria?
AM: Embora eu não considere uma atividade profissional, por 30 anos fui pastor de Igreja Evangélica. Antes da aprovação em concurso público recebia uma modesta ajuda financeira da igreja. Após, dispensei qualquer ajuda financeira.
Estive afastado do pastorado por 20 anos. Há 12 anos voltei a exercer o pastorado, prestando trabalho como voluntário em comunidades carentes, como a Boa Vista, que fica depois da Fercal, aqui no Distrito Federal. Mas há quase dois anos jubilei-me também do pastorado. Agora estou atendendo convites para palestras. Ministrei também aulas de Teologia em Faculdades e Seminários Teológicos.
Atualmente coordeno cursos de Pós-graduação na FACTI – Faculdade de Tecnologia Ícone, do grupo Ícone. Também estou exercendo a advocacia.
JV: A vida sempre foi generosa com você ou houve época em que se sentia uma espécie de “desenganado social e econômico”?
AM: Prezado amigo Dr. Judivan, você me acompanhou em momentos muito difíceis da minha vida e, em muitos desses momentos me deu suporte nessa travessia. Aliás, o senhor seu pai, Cesário Juvenal Silva, meu grande amigo de saudosa memória, muitas vezes me ajudou com passagem de ônibus para eu ir à faculdade. Várias vezes me senti uma espécie de “desenganado social” sem qualquer esperança de vitória. Muitas vezes pensei que iria “morrer na praia”. Mas graças a Deus fui teimoso, persistente, e consegui.
JV: As pessoas tendem a olhar para quem colhe êxitos, sem refletir sobre a longa história de construção da vida pessoal, acadêmica e profissional. Que relação você crê existir entre estudo, trabalho e persistência, para quem deseja alcançar êxitos?
AM: Há uma relação muito estreita entre estudo, trabalho e persistência para quem deseja alcançar êxitos. Esse é um tripé! Sem um desses “pés” o arcabouço não para em pé. Não haverá vitória consumada. São intimamente interligados e devem trabalhar juntos.
JV: Qual foi o evento ou eventos que sente mudaram o curso de sua vida, da pobreza para o equilíbrio econômico e financeiro que agrega Felicidade?
AM: Foi a decisão de estudar para o concurso público até final aprovação. Isso demandou horas extenuantes de estudo, como você testemunhou.
JV: Todas as pessoas desejam Felicidade! Na teoria filosófica da “Busca da Felicidade”, Aristóteles diz que as pessoas nascem destinadas a serem felizes; Epicuro diz que a Felicidade reside em pequenos e passageiros momentos; Aristipo de Cirene diz que a Felicidade reside nos ilimitados prazeres sensuais; por fim, Jeremias Bentham e Juan Stuart Mill, fundadores do “Utilitarismo” dizem que Felicidade é perseguir “fins” justos. Para você, no campo desta vida material, o que as pessoas devem fazer para alcançar a “Felicidade”, entendida como “o mínimo de dignidade social e econômica”?
AM: Quanto à felicidade, a História da Filosofia transita desde uma postura egocêntrica até uma com um viés social mais acentuado. A Filosofia Contemporânea tem esse viés social. Realmente não há felicidade com a barriga vazia, com dívidas por pagar, etc. Daí, a necessidade da construção do tripé mencionado: estudo, trabalho e persistência.
Como você mencionou, Jeremias Bentham e Juan Stuart Mill que criaram o “Utilitarismo”, eles também criaram uma maneira de calcular o prazer. Diziam que a natureza colocou a humanidade sob o governo de dois mestres soberanos: a dor e o prazer. Eles são necessários para calcular as consequências de nossas ações. Muitas vezes o prazer cobra um preço que não compensa usufruí-lo. É possível que esse postulado de Jeremias Bentham e Stuart Mill seja aplicado em algumas situações do pensamento de Aristipo de Cirene.
Por outro lado, uma postura de caridade que vê o próximo como uma extensão de mim mesmo, e me leva a dividir com ele um pouco do que conquistei, gera felicidade em mim e no outro. É o princípio da alteridade. Não posso deixar de mencionar o que amigos como você, Cesário Juvenal e o Dr. Leci Giolitto me ajudaram em momentos de grande escassez.
JV: Como você mencionou períodos de pobreza e sofrimento que vivemos, lembro que memo em meio às lutas ferrenhas nossa Felicidade interior nos permitia ver que aquela pobreza um dia passaria. Hoje sinto orgulho em vê-lo estável economicamente, um aposentado cheio de alternativas, e viajando para destinos sonhados no mundo. Que principais objetivos e metas acredita haver cumprido para alcançar os êxitos que vem colhendo?
AM: Sim, houve época em que a pobreza me castigou sem compaixão. Por outro lado, como você disse em linhas pretéritas: “fizemos do sofrimento combustível para cada êxito conquistado”. Entendo que os principais objetivos e metas que acredito haver cumprido para alcançar os êxitos que venho colhendo são os cursos que tive a oportunidade de fazer: mestrado, doutorado, cursos de qualificação, etc. Na verdade, nunca parei de estudar. Continuo estudando. É uma caminho sem volta! Rssss
Mas, gostaria de destacar um ponto que para mim é de suma importância: Deus orientou-me e dirigiu-me nos mínimos detalhes de minha vida, apesar de todas as minhas imperfeições. Sem Deus eu teria morrido na praia. A Ele toda honra e glória! Foi uma experiência pessoal.
JV: Erasmo de Roterdã, talvez o maior pedagogo, nascido após Aristóteles, diz que “conselho” não se dá a quem não o pede. Sempre gostei de pedir conselhos a quem possui experiência. Aliás, houve época em que pedi conselhos a você, Leci Giolito, Levi Giolito, Waldemar(o sábio motorista de taxi), e quero te agradecer publicamente por haver me orientado algumas vezes. Sendo assim, que conselhos você dá a quem está começando a construir a vida e sonha conquistar êxitos perenes, sustentáveis, e não somente os “quinze minutos de fama” que tanta gente busca?
AM: Nobre amigo Dr. Judivan, a recíproca é verdadeira. Lembro-me que foi você quem foi lá no barraco em que morava, para dar-me a notícia de que eu seria o próximo a ser chamado no concurso do STJ. Constantemente você ia no RH daquele Tribunal para saber como estavam as chamadas dos aprovados. Então, você foi à minha casa com um espumante para comemorar comigo a minha vitória. Foram momentos inesquecíveis! Até hoje me emociono quando lembro. Agradeço-lhe muito o inestimável apoio!
O conselho que deixo aqui para quem está começando a construir a vida e sonha conquistar êxitos perenes e sustentáveis é que nunca desista de seus sonhos. Nenhuma conquista de excelência é fácil. Portanto, faça do mencionado tripé, estudo, trabalho e persistência, uma constância em sua vida. A persistência é a argamassa que dá vida ao estudo e ao trabalho. Sem ela os outros dois têm vida curta. Não atingem os objetivos. O êxito não é dos que são inteligentes ou espertos, mas dos que persistem.
Adiciono a esses, a fé em Deus que, no meu caso foi decisiva para o alcance da vitória. Há um ditado popular que diz: “Quem tem fé, conquista o que quer”. E para finalizar, agradeço-lhe mais uma vez por todo o apoio prestado a este velho amigo. Sem seu apoio o sofrimento teria sido muito maior. Um grande abraço a você e a todos os seus leitores!
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