Saúde mental é um dos principais temas em alta na saúde e ficou muito em pauta por causa do período mais crítico da pandemia da Covid 19
Estudantes brasileiros estão procurando bem mais pelos cursos de psicologia nas instituições de ensino superior. Esse novo cenário está acontecendo no Brasil inteiro. De 2010 para 2021, o número de matrículas nessa graduação teve um crescimento de 112,4%, segundo levantamento divulgado pela Folha de São Paulo. Na Fuvest, uma das instituições com o vestibular mais concorrido, a carreira é a segunda mais disputada, perdendo apenas para o curso de medicina. Em Pernambuco, não é diferente. No Centro Universitário dos Guararapes (UNIFG), o percentual de aumento da procura e matrícula no curso aumentaram consideravelmente. Em comparação ao mesmo período do ano passado, o crescimento foi de 18%.
Segundo a gestora de pessoas do Centro Universitário dos Guararapes (UNIFG), Virgínia Campos, o mercado de trabalho na área de psicologia está bem aquecido, ainda mais pós-pandemia. “O profissional pode atuar em diversas áreas. Hoje em dia, as pessoas enxergam o atendimento psicoterápico de forma diferente, não mais como problemas tão estigmatizados ou como uma fraqueza e uma falta de vontade”.
Sobre o interesse de estudantes pela área, o coordenador do curso de Psicologia da UNIFG, Cristiano Soares, enumera alguns pontos principais que poderiam explicar a alta procura. De acordo com o docente, a compreensão sobre o verdadeiro estado em que uma pessoa se encontra, em caso de desmistificar alguma síndrome ou quadro clínico, é uma das que mais exigem o acompanhamento de um profissional da área.
“Em princípio, este aumento da procura tem um caráter positivo, considerando que as pessoas se preocupam mais com a sua saúde mental. Contudo, também nos traz um alerta acerca de como estamos mercantilizando até mesmo nossa saúde mental, tendo em vista que há pessoas que exploram esse nicho apenas como mercadoria, e acabam contribuindo para uma tendência a ver patologia em tudo. Não podemos mais ficar tristes porque já pensam que estamos com depressão. A depressão existe, é uma doença seríssima e que atinge muita gente, porém, nem toda tristeza é sinônimo de depressão. É delicado o assunto, pois o sofrimento humano não pode ser mercantilizado. Precisa ser compreendido e cuidado por profissionais éticos, e esta é uma das principais preocupações de quem atua na formação dos futuros profissionais da Psicologia”, afirma.
Atualmente, o mercado da psicologia também oferece outras áreas de atuação diferente da clínica, se expandido enquanto oportunidade profissional, áreas como esportes, escolas, recrutamentos de empresas, tragédias ambientais, forenses, atendimentos emergências estão entre os possíveis nichos de atuação. Com o avanço tecnológico e o distanciamento social em 2020, os atendimentos on-line também foram muito disseminados e popularizados, com isso, um profissional formado pode trabalhar home office sem precisar investir um valor muito alto com a abertura de um consultório físico. “A Psicologia, como ciência humana, por sua natureza questionadora, acaba funcionando como mais uma tentativa de buscar respostas para as perguntas da humanidade e para a busca por conviver melhor com as mudanças citadas”, conta Cristiano Soares.
Ele ainda ressalta que as mudanças em como a saúde mental passou a ser vista na sociedade também pode ser um fator que contribui com o aumento da demanda. “As pautas ligadas ao ‘viver em sociedade e seus desafios’, vem sendo cada vez mais acionada e alvo de interesses por parte de cidadãos e corporações, que utilizam esse saber em benefício próprio e também da coletividade. O reflexo no aumento da procura pelo curso de graduação na área é uma consequência de tudo isso” enfatiza.
Sobre o superaquecimento do mercado, com muitos profissionais de uma mesma área disputando vagas de emprego, a diferença continua sendo a dedicação aos estudos, novos cursos, formação contínua e produção de conteúdo. “Estamos em uma geração que o acesso à informação é mais fácil, mas as plataformas como as redes sociais, principalmente o Instagram, podem ajudar no marketing pessoal daqueles profissionais que sabem passar informações, ter pensamento crítico e ter um bom atendimento. É dessa forma que mais pessoas terão confiança na contratação dos serviços de psicoterapia e escuta de um psicólogo”, finaliza.
