Direto de Brasília-DF.
A partir de outubro de 2019, quando em Wuhan, China, eclode o Coronavírus, a expressão “novo normal”, ganha uma sobrevida ainda mais qualificada.
Eis que a crise de 2008 teve efeitos drásticos sobre a econômica mundial, com enormes reflexos sobre a saúde física e psíquica das pessoas. Em 2014, por exemplo, o “British Medical Journal”, publicou uma análise da crise 2008 – 10 concluindo que “Em 2008, o número de suicídios começou a crescer na Inglaterra, passando de um mínimo de 20 anos, aumentando em 7% entre os homens e 8% entre as mulheres em relação ao ano anterior. Embora os suicídios tenham começado a cair novamente em 2010, eles ainda estão acima dos valores correspondentes em 2007”.
O jornal inglês acrescenta que é possível que outros fatores tenham causado o aumento observado, separado da crise, mas também diz que “um considerável corpo de pesquisa ao nível individual, a partir de estudos longitudinais, indica que o desemprego aumenta os riscos de suicídio e danos pessoais não fatais”
O suicídio decorrente de crises provocadas por eventos econômicos são temas que os governos mundiais evitam, inclusive pelo temor de despertar a consciência da responsabilidade objetiva e subjetiva do Estado. Se as pessoas acordarem para este fato e os Poderes Judiciários mundiais resolverem ser mais fiéis à justiça, que aos compromissos ideológicos que assumem, teremos milhares de ações de indenizações por perdas e danos materiais e morais impetradas contra os governos, por parte de quem perde seus negócios e entes queridos, por culpa do Estado. Como Procurador Federal, que fui, e como advogado que sou, vejo plenamente possível a responsabilização estatal. Mas, como o foco deste artigo é outro, sigamos para nosso destino. (se deseja ler a matéria completa, eis o link: https://www.bmj.com/content/345/bmj.e5142)
Para que você tenha noção do impacto econômico da crise 2008 – 10, a cidade de Detroit-EUA, cm dívidas que superavam 15 bilhões de dólares, pediu falência.
Agora, imagine o impacto econômico-financeira de pessoas que perderam seus empregos e, como consequências, sua moradia, a segurança, filhos fora da escola, planos de saúde, a capacidade de prover o alimento diário para si e para a família e, para resumir, pessoas que perderam sua dignidade social, já que é isto que todos buscam na sociedade moderna e que o Estado, a todos promete.
Em um cenário assim, você consegue imaginar como a vida muda? Consegue entender como o que era “normal” deixa de ser? Quase todos reclamamos de rotina na vida, mas essa reclamação é tola! Ela é plantada em nosso consciente pela indústria do entretenimento, e fornecedores de produtos e serviços em geral, que necessitam de nossa insatisfação e inconformismo, com quem somos, com o que temos, e com o que fazemos.
Afinal, é essa insatisfação e inconformismo que nos impulsionam a querer sempre mais, mas também empurra muita gente, com uma força inicialmente, sutil, e posteriormente avassaladora, para a depressão, síndrome do pânico e outras doenças psicossomáticas modernas.
A pandemia do Coronavírus/Covid-19 certamente está impondo rupturas em aspectos variados na vida individual e social.
Mudanças individuais:
1 — uso de máscara (algo que os orientais já faziam naturalmente);
2 — consumo de produtos e serviços pela Internet (hábito que veio para mudar as relações de Mercado);
3 — revalorização de relações familiares;
4 — revalorização de hábitos simples de higiene, outrora tão desprezados;
5 — a empatia. É possível ver algumas pessoas a “calçar o sapato alheio”.
6 — o distanciamento social, provisoriamente, está obrigando a interromper a cultura do aperto de mão e do tapinhas nas costas, tão comuns a algumas culturas(a brasileira, a galega, e portuguesa, por exemplo);
7 — o olhar sorridente para cumprimento e gentileza, que algumas pessoas estão começando a desenvolver, para substituir o aperto de mão.
Essas mudanças são exemplificativas, de novos hábitos que obrigam a romper com nosso antigo “normal”. Vai durar? Sinceramente, não sei! Alguns hábitos devem permanecer após a pandemia, outros poderão sofrer retrocesso e outros, ainda, evoluirão para novas formas. No caso da convivência familiar, há os casos de famílias continentes e famílias arquipélago.
A família “continente” é aquela, naturalmente unida. Todos se agrupam para ajudar uns aos outros. A entidade familiar é como um círculo que abraça a todos. A família arquipélago é formada pelos mesmos laços de sangue que a família continente, mas seus membros vivem melhor isolados, como ilhas de um arquipélago. Neste tipo de família, raramente uma reunião não termina em briga ou confusão.
A pandemia também está impondo:
1 — desemprego, aos milhares;
2 — falências de pessoas jurídicas (você já observou quantos anúncios de empresas que estão fechando as portas, sendo vendidas, fazendo fusão para sobreviver à crise?)
3 — fome para ambulantes, camelôs e outros trabalhadores da economia informal que não podem ir para as ruas vender seus produtos, há seis meses e, provavelmente, não o conseguirão de forma plena até que saia a nova vacina(apesar do acordo Brasil e Universidade de Oxford e AstraZeneca, para compra de 100 milhões de vacinas contra a Covid-19, ainda deve demorar uns seis meses para que tudo se efetive).
Que rupturas você crê que essas três situações impõem às pessoas, individualmente? Se somarmos as rupturas que cada pessoa sofre, teremos ondas sociais que terminam por impactar a todos, já que a vida em sociedade é como uma corrente, em que o rompimento de um elo afeta a cadeia na totalidade. Será que sairemos dessa pandemia, um pouco mais humanos?
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