Direto de Brasília-DF.
Como vimos dizendo, desde meados do século XIII, o processo educacional e de ensino inglês sofreu estagnação intelectual.
O panorama ficaria ainda pior, em 1337, ao eclodir a Guerra dos Cem Anos entre Inglaterra e França. Os reis ingleses estavam cansados de ser vassalos dos franceses e, por isto, se rebelaram. Vários países foram arrastados para esse conflito secular.
Não bastasse a guerra para devastar o cenário sócio-econômico, entra em cena a pandemia mais mortal da história da humanidade, a Peste Negra, cujo pico teve duração por quatro longos anos(entre 1347 e 1351), e matou o que se estima entre 75 a 200 milhões de europeus.
Como você imagina que um cenário destes afeta o processo educativo e de ensino? O historiador Thomas Ramson ensina que menos de 1% da população conseguia frequentar escolas, nesta época. O início do século XV foi de trevas, inclusive intelectuais.
Muito, do sofrimento da humanidade, neste período, foi agravado pela peste e pela interminável crise econômica que a guerra deixou em seus rastros. Ao fim do conflito, em 1453, vagavam pelas ruas da Inglaterra, restos do vírus, pobres, miseráveis, e rancor contra tudo que estivesse ligado à imagem da França.
Esse “rancor” mútuo, parece com o “foggy” londrino. É latente e aparente. Os franceses porque desprezavam os ingleses, estes por haverem sido considerados rudes e ignorantes, por aqueles. A questão é que, quem bate esquece, e depois, por mais que o agressor queira chamar o agredido de “amigo”, as cicatrizes relembram a dor.
John Wycliffe, professor da Universidade de Oxford, foi um dos intelectuais ingleses que resolveram buscar a salvação do processo educacional em outra fonte. Vinculou-se ao humanismo italiano, decidiu traduzir a bíblia do latim ao inglês comum e ajudou o povo a se libertar tanto do francês e do latim, quanto da ignorância absoluta. Wycliffe, aliás, foi um dos precursores da mini reforma protestante que ocorreria nos séculos XV e XVI.
Wycliffe iniciou o processo e contou com a ajuda dos dois intelectuais que mais contribuíram para resgatar o processo educativo e de ensino inglês, Thomas Linacra e William Grocin. Eles fizeram constantes viagens para Itália e tiveram em Guarino Veronese, humanista italiano, a mentoria que necessitavam para oxigenar educação e o ensino.
De volta de uma das últimas viagens, em 1494, Linacra funda o Colégio Real de Médicos, em Londres, e torna-se preceptor da família real. Linacra e Grocin também ensinam grego e reacendem o gosto pelos clássicos. Quando um povo se inicia nos clássicos, dificilmente o progresso intelectual não vem.
O objetivo dos dois, com o humanismo inglês, era superar o método de filosofia das escolas monásticas, chamado de, “Escolástica”. A filosofia precisava seguir um rumo diferente e deixar de ser preparatória para a Teologia.
Thomas Linacra e William Grocin também começaram uma campanha humanista, propondo a retirada de questões irrelevantes, do currículo escolar. Sustentavam que era necessário, mais ciência e menos dogma.
Os dois educadores queriam uma escola voltada para resolução de problemas da vida prática, na área da física, medicina, matemática, filosofia, direito, etc. Foi assim que lançaram as raízes do novo processo educativo e de ensino humanista inglês, sobre os seguintes fundamentos:
1 — organização escolar:
2 — programa de estudos renovado, pela eliminação de questões irrelevantes:
3 — diversidade de método de ensino a ser usado pelos mestres, objetivando produzir resultados intelectuais, e práticos:
4 — Atenção máxima ao comportamento dos alunos, em relação às respostas dadas, ao esforço de renovação do ensino e aprendizagem.
“Dê luz, e a escuridão desaparecerá por si mesma”, afirma Erasmo de Roterdã, em seu livro, “Aforismos”. A inglaterra estava em trevas, mas costuma ser a luta, às vezes isolada e até desprezada, de uma ou pouquíssimas pessoas, que causam as maiores revoluções. Humanistas, às vezes são tomados por ingênuos, mas quase sempre terminam por ter a última voz, para a história.
Todo esse processo humanista europeu, desaguaria no Humanismo Cristão, sobre o qual escreveremos nos próximos artigos.
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