Direto de Atenas/Grécia.
Semanticamente o vocábulo “Universidade” nasceu como uma congregação ou o local que aceita estudantes de todas as Nações.
Para chegar a esse momento da história é importante que tenha lido os artigos anteriores nos quais expliquei, por exemplo, o surgimento das Escolas Monásticas e Catedralícias.
Importante que recorde que o modelo daquelas escolas durou até início do século XII (1.189) quando o Concílio de Latrão expediu Decreto determinando que as Catedrais expandissem a educação e ensino, além dos muros da Igreja. Algumas das “agências de ensino” mais importantes foram as Escolas Catedralícias das cidades de Chartres, Paris, Liège, Reims.
Procure recordar, também, que entre o ano 1000 e 1200, dois nomes se destacaram entre as escolas das catedrais: Gilberto de Aurilac e Pedro Abelardo. Este foi decisivo na restauração do currículo contendo as sete artes compendiadas na Enciclopédia de Boécio: Dialética, Retórica, Gramática, Música, Aritmética, Astronomia e Geometria. A estas Boécio acrescenta, ainda, o estudo da Lógica. Gilberto de Aurilac, a sua vez, propôs o conhecimento das sete artes enquanto Pedro Abelardo propôs a discussão e a crítica como método de aprendizagem.
Como vimos dizendo, à partir do século XII o aparecimento da burguesia como classe sócio-econômica vai pavimentar o caminho para o Capitalismo no qual figurarão classes sociais e econômicos como: banqueiros, negociantes, comerciantes e artesãos. Estes devolveriam pujança às cidades.
O ressurgimento das cidades exigiria uma nova ordem geográfica, política, comercial, industrial, ainda que incipiente, e em meio a tudo isto exigiria a retomada da importância da Ciência do Direito, para poder resolver os muitos conflitos de ordem civil, penal, tributária, administrativo, etc.
Nessa nova ordem reestabelecida pela efervescência da vida que voltava do campo para as cidades, os filhos dos pobres também queriam ter direito de ascender, de progredir socialmente, o que não era tarefa fácil. É neste ponto que as ideais surgidas no Antigo Egito e em outros momentos históricos em que o processo de educação e de ensino foi valorizado, tomam seu lugar no tempo e no espaço.
As Escolas Catedralícias foram o fundamento sobre o qual as Universidades foram construídas porque os filhos da burguesia precisavam estudar, já que seus pais desejavam filhos capazes de entender e prover soluções para os dilemas que a nova ordem mundial lhes trazia. Os pais queriam, também, o reconhecimento sócio-econômico pelas soluções providas pelos filhos da burguesia. Esta nova concepção sobre o valor devido ao mérito ocorrida em meados do século XII, viria a ser conhecido no século XVIII como “meritocracia”. A mesma meritocracia que rege o mundo até os dias de hoje, ou seja, ganha mais e é melhor reconhecido, quem possui mais mérito, seja o mérito expresso em acadêmicos ou capacidade de solucionar problemas.
Diante da redefinição da vida nas cidades e as necessidade de soluções práticas para solução dos muitos problemas sociais, as escolas Catedralíciais e asescolas independentes percebem a necessidade de alterar e expandir o currículo escolar para produzir novos conteúdos e nova classificação disciplinar mais adequada às necessidades do momento.
É possível imaginar ordas de estudantes em todas as cidades. Era necessário formar quadros de administradores civis, advogados, professores, mestres, clérigos, contadores e, para isto as Escolas Catedralícias, as mais desenvolvidas da época, não estavam aparelhadas.
É neste contexto que a Igreja Católica promove o Terceiro Concílio de Latrão (em 1179), presidido por Alexandre III, e decide AMPLIAR as escolas catedralicias, além de determinar que elas promovam ensino gratuito. Esse entendimento será repetido em 1252, por Inocente III, para que as escolas das cidades de Chartres, Paris, Reims, Liège e outras, melhorassem o conteúdo curricular e formasse e/ou atraísse professores e mestres de excelência para seus quadros, afim de atender à demanda de estudantes que chegavam não somente do campo, mas de inúmeras outras cidades.
Nesse clima de estudantes que vinham de cidades distantes e diferentes Nações é que vai surgir a “Universidade”, ou seja, um lugar de estudos para abrigar gente de todas as Nações, como se fosse uma cidade universal, na qual os alunos pudessem ser admitidos, estudar e se qualificar para serem aceitos em uma sociedade que privilegiava a poucos e já bastante competitiva. As “Universidades”, estes lugares que congregavam estudantes de toda e qualquer Nação nascerá como uma espécie de agência produtora e recicladora de conhecimento passado e presente e um dia tornar-se-á agência criadora de conhecimento científico voltado também para o futuro.
É nesse diapasão histórico e sócio-econômico que as “cidades universais de conhecimento” surgirão e se solidificarão desde o século XII até nossos dias. Certamente, não se podia nem se pode atribuir excelência a muitas delas, mas desde que o mundo tornou-se meritocrático no século XVIII, possuir um diploma universitário gera expectativa maior de ascensão social.
Continua…