Direto de Brasília-DF.
Você, por certo, já percebeu minha insistência em dizer que o Humanismo já estava presente nas discussões do filósofos clássicos gregos. Saiba que pensando assim compreenderá melhor os termos “Renascença, Renascimento”, que dão nome a este movimento da Idade Moderna.
O fato é que na Renascença ocorre um resgate de valores e pensamentos antigos sobre o Homem, a Humanidade e seu Humanismo, como característica própria e suficiente para que possa viver em sociedade e nela prosperar, inclusive, independente das vontades dos muitos deuses que habitavam e seguem habitando o imaginário humano.
Desde Aristóteles em seu livro “Política”, a tentativa consciente e inconsciente de explicar o ser humano à partir da razão (seu próprio intelecto) e do método crítico-lógico, aponta para uma sociedade de humanos na qual esse “humanismo” racional o leva a ser quem ele é, quer do ponto de vista de sua individualidade quer como membro de uma sociedade civil. Eis porque entender o conceito de “sociedade civil”, da qual extraímos conceitos como cidade, cidadania, cidadão, civil, civilismo é tão importante.
Em excelente artigo publicado no portal francês “Universalis.fr”, há um resumo semântico e histórico sobre o que é uma sociedade civil. Abaixo segue um trecho para quem gosta de “faíscas” de curiosidade:
“Como aponta Dominique Colas, a primeira ocorrência histórica da sociedade civil apareceu no século IV aC, em Aristóteles, na política. A koinônia politikè grega (comunidade política) e sua tradução para o latim, societas civilis, darão origem à nossa expressão. Já em Aristóteles, a sociedade civil / comunidade política funciona em oposição a outros tipos de comunidade (a família, o povo). Trata-se aqui de definir a forma mais alta de organização, a que cumpre plenamente a natureza social e política do homem. A avaliação é, portanto, muito clara. A partir daí, e através de um conjunto complexo de transmissões e traduções, o termo evolui na topografia de sucessivos sistemas conceituais. Assim, em Santo Agostinho, a sociedade civil se distingue da cidade de Deus: a terrestre, separada da celestial, está subordinada a ela, sem, no entanto, questionar sua própria existência. Por outro lado, entre os teóricos contratuais que se seguiram (Hobbes, Rousseau), o civil não se opunha mais ao celeste, mas ao “natural”. A sociedade civil representa então, como comunidade organizada, a saída do estado de natureza. Nesse sentido, a sociedade civil e o Estado são idênticos. Contrariamente à crença popular, essas duas entidades não são, portanto, distintas desde o início do pensamento político ocidental.
Se, exceto o caso específico dos primeiros economistas liberais (Adam Smith, Bernard de Mandeville), teremos que esperar até o início do século 19 e Hegel para encontrar uma conceitualização sistemática dessa divisão, que se tornará central para a reflexão política moderna. Como sabemos, essa distinção está no cerne do sistema filosófico hegeliano: a sociedade civil é a esfera do privado, do particular, das trocas de trabalho e econômicas, diferenciadas do Estado, ele próprio entendido como o lugar do universal e do geral.”(https://www.universalis.fr/encyclopedie/societe-civile/1-histoire/. Acesso em 7.03.2020)
Impossível não amar a semântica e a História, não é mesmo?!? Agora que compreendemos melhor a origem do termo “sociedade civil”, podemos entender sua relação com o termo Humanismo e com suas variações temporais.
Agora sei que quando você ler sobre “humanismo cívico” compreenderá que o processo de educação e ensino desse período deseja formar o homem para servir bem à cidade e ao Príncipe que domina sobre ela e seus súditos.
Até breve!