Direto de Brasília-DF.
Você já ouviu dizer que Francisco Petrarca e Giovanni Boccaccio foram os propulsores da Renascença e pioneiros no resgate do humanismo? Alguém já te disse que o grande diferencial na vida de Petrarca foi a faculdade de Direito de Bolonha e que foi lá que ele teve contato com as obras de Cícero pela primeira vez? Tudo isto é verdade!
Saiba, também, que as obras de Cícero foram responsáveis por reacender a fogueira do humanismo e por incrível que pareça fazer com que o mundo tirasse do passado ensinamentos que mudariam para muito melhor, o futuro da humanidade. Em alguns sentidos, valorizar a História pode ser o caminho mais curto para a evolução.
Como consequência do contato com bibliotecas e com obras clássicas Petrarca resolveu reformar todo o processo educativo de sua época. Sua plataforma para a reforma era, segundo Thomas Giles, “baseada na ideia de que todo o ensino deve fundamentar-se numa compreensão clara do conhecimento considerando-o como corpo de ideias organizadas”.
Petrarca elegeu a Cícero e a Aristóteles como fundamentos de seu programa de estudo e deu destaque às disciplinas: Eloquência, História, Filosofia e Poesia. Apregoava que aquilo que o homem entende com clareza também o expressa com clareza.
A Renascença deve a Dante Alighieri, Petrarca e a Boccaccio o impulso original que faria desse movimento o ressurgir de um novo homem, ancorado pelo movimento humanista. Enquanto Dante revolucionava seu tempo com sua poesia facilitando a leitura e a escrita por meio da língua italiana, comum ao povo, Boccaccio, que era enciclopedista, contribuía com o processo de educação e ensino com a extrema dedicação e o desejo de agrupar todo o conhecimento possível sobre determinados temas, em enciclopédias.
Boccaccio focava seu processo de educação e ensino no conteúdo do conhecimento. Não era preocupado com a forma. Tal como Petrarca, ele cria firmemente que os mestres somente poderiam ser reconhecidos como tais ,se além de dominar o conteúdo das disciplinas fossem capazes de transmiti-lo com maestria. O método a ser utilizado pelos mestres poderia variar por estar vinculado à forma, mas o conteúdo do conhecimento deveria provar-se por si próprio e pela experimentação.
Dante, Petrarca e Boccaccio fizeram de alguns de alunos como Luigi Marsílio e Manuel Crisoloras, verdadeiros discípulos. Foram eles que deram os primeiros passos para o movimento chamado Renascentista, que se inicia com o estudo dos clássicos e incumbiram a seus discípulos de seguir a mesma trilha.
O estudo dos clássicos resgatou o método crítico-lógico que tanto contribuiu com a prosperidade intelectual grega. Exige pensar e criticar sem medo da retaliação do dogma. Essa coragem de expor o pensamento científico que o humanismo despertou produziu o medo que o movimento fosse, na verdade, uma manifestação pagã, anti-Deus, sobretudo porque esse humanismo cívico e político dos filósofos gregos e de Cícero, exigia um olhar consciente para o passado como forma de assegurar a continuidade de alguns conhecimentos presentes que pudessem ser a base de uma evolução na direção do antropocentrismo, ou seja, a convicção que o homem é o centro da existência racional.
De fato, os temores dessa racionalização científica que assombrava o dogmatismo religioso viria a acontecer a apenas 300 anos depois (século XVI) com o pensamento filosófico, sobretudo o de René Descartes, o filósofo e matemático francês. Sua famosa frase Cogito, ergo sum ou “penso, logo existo” foi um dos muitos sinais que o século XVI emitiu sobre a impossibilidade das revoluções sociais e econômicas que estavam por vir.
Quem se dedica ao mínimo do estudo da História e da filosofia sabe que o humanismo fundado no estudo dos clássicos jamais atentou contra Deus. Foi, apenas, um movimento de descoberta e redescoberta e revalorização da capacidade humana de se autodeterminar. Afinal, se o pensamento crítico e lógico que nos traz à existência penso que sufocá-lo é diminuir nossa humanidade. E você, o que acha?
Continua na próxima quarta-feira.