Direto de Atenas/Grécia.
Contando o tempo que medeia a “visão divina” que teve no Monte Hira, no ano de 610 d.C., até sua morte em junho de 632, Maomé teve 22 anos para sacramentar a nova, única e verdadeira religião que disse haver recebido de Deus por meio do Gabriel, o anjo mensageiro que revelara as boas novas do nascimento de Jesus Cristo, conforme registra o evangelista Mateus(1:17-20).
Note-se que há traços do judaísmo e do cristianismo na formação do Islamismo, porque neste há a plena aceitação de Javé(Deus dos hebreus), cujo nome passa a ser Alah(ocorre, todavia, a substituição do povo da promessa que passa a ser o islamita) e não há, no Islamismo, a negação de Jesus Cristo.
Aliás, Jesus é citado no Corão mais de vinte vezes e é visto como um dos mensageiros de Deus, que teria sido uma espécie de preparação para a ultima revelação divina que seria dada à humanidade, a saber, o Islamismo.
Pouco mais de uma década após recebida sua revelação, Maomé, o profeta de Alah, já havia conquistado uma legião de crentes em Meca ou Medina(Arábia Saudita), Pérsia, Etiópia e onde mais seus missionários seguiam pregando a nova fé.
Como no início de cada nova religião houve perseguição contra os adeptos e como costuma acontecer, tal perseguição torna-se chave para o crescimento da ideologia dos perseguidos, que parecem se fortalecer na causa para lutar. Como é sabido, um ser humano com objetivos costuma ir além. Foi assim que Islamismo avançou de forma assustadora.
Por volta do ano 732 as conquistas movidas pela nova fé unificou um sistema administrativo-teocrático para as tribos muçulmanas e as transformou em um Império que se estendia da Arábia para o atual Irã(Pérsia), Iraque(Babilônia), Índia, África e outras partes da Ásia.
Mas, e o processo de educação e ensino? Como essa nova sociedade Islâmica o entendia? Eis alguns fatos históricos a se destacar:
1 – Entre os anos 700 e 1200 o Islamismo abraçou com carinho o conhecimento literário e cientifico, sem qualquer radicalização;
2 – A corrente religiosa “rival” do Islamismo era o cristianismo que sobrevivera forte no Império Romano do Oriente, chamado de Império Bizantino(século IV a XVI), cuja capital era Constantinopla, na atual Turquia;
3 – O crescimento do Islamismo vai desencadear as Cruzadas católicas para “libertar a cidade de Jerusalém” do domínio árabe e abrir feridas na psique Islâmica, que até hoje gera atentados terroristas pelo mundo, sobretudo motivados por questões políticas e religiosas;
4 – O amor que no início o Islamismo dedicou ao conhecimento literário-científico, aos poucos se voltou para o Corão, fazendo com que o conhecimento não religioso se tornasse secundário e como é de se esperar, o apego ao dogma e desapego à ciência leva ao palatino subdesenvolvimento.
Nos primeiros cinco séculos que sucedem o ano 700 d.C, sobretudo com influência da admiração que intelectuais islamitas não radicais tinham pelo classicismo da antiga Grécia, floresceu o ensino da Matemática, Medicina, Física, Poesia, Astronomia, Literatura. A Filosofia grega conquista alguns governantes tribais e isto contribui para o desenvolvimento da ciência.
Segundo Thomas Giles, era ditado comum entre os muçulmanos que o próprio Maomé houvera dito que “A tinta do homem de estudos é mais santa que o sangue do mártir”.
Nas muitas batalhas de conquistas os muçulmanos iam além da destruição, pilhagem e violação das mulheres dos povos vencidos. Eles também procuravam assimilar a parte da cultura que lhes parecia útil.
Uma das medidas salvadoras do processo educativo e de ensino do Islamismo foi o ato de fundar bibliotecas nas cidades conquistadas e transformá-las em centros culturais, como fez com Beirute, Cairo, Meca, Basra. Em 830, por exemplo, o califa El-Na’mum inaugura uma Academia de Ciências com observatório, tesouraria e biblioteca, semelhante ao Mouseion de Alexandria. Eis porque causa-me estranheza o pouco apreço que países como Brasil e outros demonstram por bibliotecas, museus e escolas.
O currículo do processo de educação e ensino islãmico
O processo de educação e ensino islâmico seguia os moldes da tradição hebraica, ou seja, era no seio da família que meninos e meninas eram educados, sobretudo nos princípios da novel religião.
Havia escolas primárias, normalmente acopladas às mesquitas, nas quais a leitura e a escrita eram ensinadas, mas a Lição mais valorizada era a memorização do Alcorão.
Havia subsidio dos Estados Islâmicos para quem quisesse cursar o Ensino Médio e Superior, cujo currículo abrangia: Teologia, Retórica, Matemática, Lógica, Literatura, Gramática, Química, Geografia, Filosofia, Física e Cirurgia. Eis porque atribui-se aos árabes desses séculos que medeiam o ano 700 a 1200, algumas das mais importantes contribuições ao avanço da ciência.
Há incertezas entre os historiadores de quando realmente começa a radicalização religiosa islâmica contra o processo de educação e ensino científico-literário. Alguns dizem que a radicalização religiosa começa no século X e outros no século XI.
Fato é que cientistas, teólogos, filósofos e poetas tiveram que começar a fugir para centros islâmicos mais tolerantes e a Espanha foi uma espécie de “depositária fiel” da cultura secular que esses amantes do conhecimento carregavam.
Até hoje ao viajar pela Espanha é possível perceber a influência árabe em cidades como: Toledo, Valência, Cadiz e outras como Córdoba, Múrcia e Granada.
Dois escritores árabes destacam-se entre o século X e XI. Na Medicinan, Avicena ou Abu Ali al-Hussein e na Filosofia, Abu al Walid Muhammed, lembrado entre nós no Ocidente como Averroés. Suas obras alimentaram o processo educativo e de ensino e transcenderam as fronteiras do Islamismo e dos países árabes.
Até breve.