Direto de Brasília-DF.
As invasões bárbaras e o prenúncio de uma era de “trevas” para o processo de educação e ensino.
Desde fins do século I d.C., as tribos bárbaras(os germânicos) habitavam as zonas rurais limítrofes do Império Romano.
Durante esse período e até o século IV prevalece o método de educação e ensino criado por Marco Tulio Quintiliano baseado em três premissas:
1 – Premiação dos alunos que mais se destacam;
2 – Nada de castigo físico; e
3 – O ensino de várias matérias simultaneamente, como se faz hoje em nossas escolas.
Com as invasões bárbaras esse processo de educação e ensino nas muitas escolas privadas existentes e sem vínculo com a Administração Pública do Império, vai minguando, porque as tribos bárbaras adotavam a tradição oral.
Em 476 d.C., os invasores bárbaros triunfam e derrubam o que sobrara da Tetrarquia do Império e, Rômulo Augusto, o último imperador romano, renúncia diante da força de Odovacaro, general germânico.
Começam os reinados bárbaros e com eles a educação perde interesse social, o que promove o retorno do analfabetismo. O ensino de disciplinas tradicionais e o Clássico será “ilhado” nos Monastérios e Catedrais porque a Igreja Católica foi a única Instituição que sobreviveu à queda do Império Romano, encravada no coração dos Reinos Bárbaros. Ainda assim, o ensino que se ministrava nos Monastérios e Catedrais que inspirarão as escolas Monásticas e Catedralícias, será exclusivo para a formação do clero, o que significa que para o “povão” que formava essa nova civilização latino-cristã, o conhecimento clássico greco-romano adquirido em escolas, praticamente deixa de existir.
Severino Boécio e Magno Aurélio Cassiodoro: o último suspiro do ensino Clássico grego
As tribos bárbaras germânicas já haviam derrubado o Império Romano e o processo de educação e ensino estava em franca decadência.
O rei Flávio Teodorico pertencia a uma tribo germânica chamada “Ostrogodo”, era chamado de “Teodorico o Grande”(porque é isto que todos que detém poder querem, ser reconhecidos como “grande”) e pouco importava com educação e ensino, pois os povos bárbaros eram por tradição dados à guerra de conquistas e à sobrevivência com a tradição ancestral. Todavia, Teodorico tinha um Ministro que apreciava e estudava a cultura clássica grega. Seu nome? Anício Manílio Severino Boécio!
Severino Boécio era estudioso da obra de Aristóteles, já traduzida ao Latim, e no ano 500 d.C., inicia a Tradição Enciclopédica. E o que significa tradição enciclopédica? Uma Enciclopédia é uma obra de referência que pretende detalhar uma determinada área do conhecimento humano, a fim de tornar tal conhecimento mais objetivo e universal!
Boécio lança sua enciclopédia sobre Dialética, Retórica, Gramática, Música, Aritmética, Astronomia e Geometria. Sua obra será, nas palavras do Professor Thomas Giles, “a última tentativa de salvar a cultura clássica”.
Após a morte de Boécio, coube à Aurélio Cassiodoro continuar sua obra enciclopédica e tentar salvar o processo de educação e ensino, mas seu trabalho voltou-se para sua Escola Monástica(escola fundada dentro de um Monastério) cuja função era educar e ensinar o clero.
A visão de Cassiodoro sobre o processo de educação e ensino era religiosa. Ele entendia não haver conflito entre a tradição cristã e o ensino clássico-greco. Na verdade, Cassiodoro pensava parecido com Santo Agostinho, para quem todo conhecimento humano é uma estrada pavimentada pela ciência para levar a humanidade ao conhecimento de Deus como autor e soberano sobre tudo e sobre todos. Esta perspectiva ainda hoje se repete no processo de educação popular. Por exemplo, no início dos anos 2000 o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton ao discursar sobre a descoberta do CRISPR-Cas9 e da manipulação genética capaz de editar o DNA de qualquer espécie no Planeta Terra, disse: – Hoje, estamos aprendendo a linguagem com a qual Deus criou a vida.
A contribuição de Boécio e Cassiodoro por meio da Tradição Enciclopédica durará até inícios do Século XI, o que deve ser visto como de grande utilidade para a humanidade, pois em meio às trevas da ignorância que foi a Idade Medieval, a luz de vela que acenderam não era um sol brilhando, mas iluminava alguma coisa…
Continua.