Direto de Santorini/Grécia.
As Escolas Monásticas e Catedralícias
Apesar de todas as contradições e disputas entre o conhecimento divino e o secular, a “salvação” do processo de educação e ensino no período feudal estava nas escolas fundadas dentro dos Monastérios e das Catedrais, para formação dos sacerdotes, freiras e filhos dos ricos que nelas se instruíam. Mas, a atividade principal ainda era Orar e Trabalhar e, de preferência em silêncio.
Esse modelo durou até início do século XII (1.189) quando o Concílio de Latrão expediu Decreto determinando que as Catedrais expandissem a educação e ensino, além dos muros da Igreja. Algumas das “agências de ensino” mais importantes foram as Escolas Catedralícias das cidades de Chartres, Paris, Liège, Reims.
Entre o ano 1000 e 1200 dois nomes se destacaram entre as escolas das catedrais: Gilberto de Aurilac e Pedro Abelardo. Este foi decisivo na restauração do currículo contendo as sete artes compendiadas na Enciclopédia de Boécio: Dialética, Retórica, Gramática, Música, Aritmética, Astronomia e Geometria. A estas Boécio acrescenta, ainda, o estudo da Lógica.
Gilberto de Aurilac, a sua vez, propôs o conhecimento das sete artes enquanto Pedro Abelardo propôs a discussão e a crítica como método de aprendizagem.
Penso que, se por um lado a certeza encerra portas, a dúvida escancara universos! Ao incentivar a dúvida Abelardo dispertou ira de um contemporâneo seu chamado Bernardo de Clairvaux para quem a Dialética deveria ser suprimida por despertar o espírito crítico. Afinal, a missão do homem na Terra deveria ser a de procurar Deus sem jamais duvidar. A dúvida sobre Deus e suas criações era tolice.
Mas, em sua luta científica Abelardo também pode contar com outro contemporâneo chamado Hugo de São Vítor que também interessava-se pela reforma do processo de educação e ensino, ainda que fundado no pensamento de Santo Agostinho.
O processo educativo e de ensino agostiniano apregoava que o crescimento intelectual era necessário ao homem e que e deveria estar sedimentado em quatro premissas:
1 – O Conhecimento teórico e a busca da verdade;
2 – O conhecimento prático formador e responsivo à moral cotidiana da sociedade;
3 – O conhecimento mecânico que auxilie na tarefas diárias profissionais; e
4 – O conhecimento lógico que produza argumentação e conhecimento claro.
Além do currículo proposto por Abelardo, Hugo de São Vítor resgata a Filosofia, argumentando que é ela que prepara as mentes para a compreensão dos porquês da vida.
As Cruzadas: veneno e antídoto de processos humanos
O período feudal avançava, historicamente dominado pela escuridão, de vez em quando iluminada por algumas “chamas de velas”. No início do século XI, o papa Urbano II convocou a primeira cruzada para libertar Jerusalém das mãos dos árabes e pecadores. A humanidade uma vez mais deixou-se envenenar pelo ódio religioso que unido ao ódio político-ideológico têm se constituído em duas das maiores misérias da alma humana.
Os cruzados armaram-se e com seus exércitos de soldados e mercenários cavalgaram para a “Terra Santa” matando e destruindo tudo e todos que não professassem a mesma fé. Todavia, inegavelmente o contato dos cruzados com comerciantes e diferentes culturas orientais funcionou como adubo para florescer uma nova ordem econômica mundial.
Esse movimento seria a pavimentação do Capitalismo, pois fez surgir e fomentou o desenvolvimento de classes sociais e econômicos como: banqueiros, negociantes, comerciantes e artesãos. Estes devolveriam pujança às cidades e passariam a ser conhecidos como burguesia. Com a burguesia surgiria a ideia de fundar escolas independentes da Igreja. Um bom pesquisador não nega que das marchas e contramarchas históricas surgem coisas boas e más. A quais delas nos apegamos é o que faz a diferença entre a evolução e o retrocesso.
Esse novo modelo do processo de educação e ensino das escolas independentes diminui o poder da Igreja, Mas, estas ainda são as detentoras do poder para nomear os professores das escolas independentes. Todavia, no ano de 1410 os tribunais da burguesia começam a decidir que a criação de escolas publicas e privadas, assim como a nomeação e seus professores e licenças de funcionamento seriam de competência das cidades e seus municípios ou quaisquer outra forma de divisão Geoterritorial. É o começo da mudança política que chegaria até nossos dias. Este modelo de processo de educação e ensino sofrerá reveses ao longo dos séculos seguintes, mas é o sistema que vige até hoje.
As mudanças no processo de educação e ensino ocorrerão nas diversas reformas curriculares, mas daí em diante é o Estado que assume o controle do processo de ensino e quando o Estado Moderno se estabelece de vez no século XVIII (segundo ensina o escritor Quentin Skinner), a esfera federal passa a ditar um currículo “nacional” para uniformizar um conhecimento mínimo nas grandes massas, de modo que, dentro dos novos Estados Democráticos de Direito pudesse ser resgatada a meritocracia e um mínimo de possibilidade de ascensão das classes pobres.
Esse crescimento intelectual e de ascensão das classes pobres não será linear. Sofrerá marchas e contramarchas inclusive com a Revolução Industrial na qual a classe pobre descerá aos porões da miséria sócio-econômica, mas o processo de educação e ensino seguirá na direção das escolas elementares, secundárias e da criação das Universidades de conhecimento, como seguiremos demonstrando.