DR PAULA MEYER

O EFEITO DA ALTA DAS COMMODITIES NA INFLAÇÃO

O ano de 2022 será marcado por episódios fortes digamos assim na vida do cidadão brasileiro. A inflação parece não ceder e insiste em manter-se elevada. Semana retrasada o Boletim Focus mais uma revisou o IPCA para cima e a expectativa é que que tenhamos uma inflação de 6,59% em 2022.

A aceleração da inflação decorre de inúmeros fatores segundo a lieteratura que discute o fenômeno. Pode ser resultante de uma pressão de demanda, choques de oferta cristalizados sob a forma de pontos de escassez localizados isoladamente, excesso de moeda em circulação ou até mesmo expectativas futuras de manutenção da ciranda inflacionária, ou seja, a inflação é um caso de reposição de perdas e dai caimos em um ciclo inflacionário.

Em 2022 com o episódio da guerra da Ucrânia-Rússia, o índice CBR que mede a variação das commodities lá fora já acumula 27%. Para o agronegócio a alta nos preços internacionais significa mais dinheiro em caixa, balança comercial apresentará um saldo positivo haja visto que a economia mundial está em franca recuperação pós-COVID. O céu parace ser de brigadeiro para um segmento da sociedade, os agricultores e pecuaristas, mas para a população de uma maneira geral significa arcar com preços nas prateleiras dos supermercados mais elevados.

Enquanto isso, o Banco Central se contorce daqui e dali para manter até maio a escalada da SELIC e após isso, a promessa é que a SELIC retome uma escala descendente até o final do ano. Essa é apenas uma previsão, não significa dizer que tal previsão ocorrerá. A manutenção de taxas elevadas de juros solapam os cofres públicos que terão que arcar com despesas maiores com pagamento de juros e isso signfica dizer que pode-se incorrer em desequilíbrios múltiplos até o final do ano.

A alta das commodities no mercado internacional por sua vez favorece a robustos saldos comerciais na balança do país, ou seja, a diferença entre o saldo entre exportações e importações em termos de valor será considerável a medida em que os ventos externos soprem a favor dos produtos que o país comercializa lá fora. Essa tendência de fora pressiona a apreciação do câmbio. O barateamento das importações é inevitável com o aumento dessa pressão e a valorização do Real frente ao dólar. Produtos importados ficarão mais acessíveis ao consumidor brasileiro.

E a grande questão: se o momento é favorável as commodities brasileiras e inclusive petróleo e derivados, quais os motivos pelos quais tal tendência não chega ao valor do combustível na hora de abastecer. A resposta é simples e os números confessam.

Durante o período de 2011-2016, os combustíveis foram controlados artificialmente e em alguns momentos oa ajustes ficaram abaixo do principal índice oficial de inflação do governo, o IPCA. Após a saída de Dilma Rousseff da presidência, Michel Temer decretou que os preços dos combustíveis deveriam seguir a tendência internacional de preços. De lá para cá, as variações foram sendo corrigidas e seguidas conforme o movimento de tais mercados.

Esse ano, com o advento do conflito Ucrânia-Rússia, o aumento das oscilações e volatilidade externas propiciou a reajustes “salgados” mas necessários afim de manter a atividade de exploração e produção sem interrupções. O resultado é o que estamos vivenciando no nosso cotidiano, aumentos expressivos na bomba de gasoina, o salário do trabalhador não ajusta conforme tais variações e o resultado é a perda de poder aquisitivo da população de uma maneira geral. Esses são os principais efeitos da alta das commodities na inflação.

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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