Por Laura Maia, direto de Brasília-DF.
Há indícios arqueológicos que há cerca 750.000 anos, na caverna de Escale, na França, o ser humano iniciava a sua jornada energética com o uso da madeira. Desde então, como é descrito por Dunn, em Descarbonizing the Energy Economy, no Sate of the world 2001: a worldwatch institute report on progress toward a sustainable society, que pode ser traduzido livremente como “descarbonizando a economia da Energia”, com a evolução industrial e tecnológica da sociedade, ocorreram três “ondas de descarbonização” como proposta de “descarbonizar”, ou seja, reduzir a quantidade de carbono na atmosfera, reduzindo a emissão de CO2 para a atmosfera.
A primeira onda de descarbonização foi caracterizada pela transição do uso energético da madeira pelo carvão. A segunda onda ocorreu, tendo como protagonistas, as indústrias petroquímica e automotiva, diante o consumo de combustíveis fósseis. A terceira, e última onda, ocorreu no final do século XX, com a utilização do gás natural.
Fato é que, a cada nova onda, a densidade das moléculas destes insumos energéticos aumentava, chegando à última onda com uma molécula de carbono para quatro moléculas de hidrogênio. Ou seja, fontes de origem fósseis mais limpas. É possível, então, estabelecer uma relação entre investimento em tecnologias para novas fontes energéticas e a diminuição da quantidade de carbono lançada na atmosfera.
Nakićenović, em seu trabalho Freeing Energy from Carbon, na revista The Liberation of the Environment, em 1996, também desenvolve a ideia de que a capacidade de uma sociedade produzir mais com menos é diretamente relacionada à organização nos setores de inovação tecnológica e acúmulo de experiências.
Dessa forma, o apelo global atual é que os países modifiquem a estrutura de suas matrizes energéticas para que as energias renováveis tenham maiores contribuições no montante final produzido. Um grande exemplo de nação que adotou esta postura foi a Alemanha. Além da pressão dos movimentos ambientais nos anos 1970 para redução da carga de CO2, a Alemanha estava em meio a uma insegurança energética: importava gás natural da Rússia e carvão da Ucrânia. À época, os dois países estavam em conflito e a Alemanha teve de tomar decisões assertivas quanto ao seu suprimento energético.
Outro fator que também contribuiu foi o acidente de Chernobyl, em 1986, alimentando ainda mais a pressão popular para mudança de fonte energética em sua matriz, cuja fonte majoritária era nuclear.
Em 1980 o governo federal alemão determinou a sua transição energética. Desde então, o país iniciou o seu Marco Legal com leis de incentivo às energias renováveis e subsídios substanciais.
Segundo o Instituto Fraunhofer para Sistemas de Energia Solar (IFS), em 2018 mais de 40% da energia gerada no país daquele ano foi a partir de energias renováveis. A biomassa, por exemplo, foi uma das fontes que mais contribuíram. Mas, o que é biomassa, afinal? Pode ser definida como resíduo de origem vegetal, animal ou urbano e pode ser utilizada como fonte energética. Essa fonte pode ser caracterizada como não poluente, pois é, de maneira indireta, a conversão química da energia da luz solar. Ou seja, nesse processo a energia solar incidente e absorvida pelas plantas é aproveitada na geração de energia a partir de rotas termoquímicas ou bioquímicas.
A macaúba, biomassa de origem vegetal, pode contribuir no mercado alimentício, cosmético e energético. Sua polpa contém altos teores de óleo e, por isso, é fonte para produção de biodiesel e bioquerosene.
Sua amêndoa é comestível e possui alto valor agregado na produção de óleos finos para a indústria cosmética. Já o endocarpo, ou mais conhecido como ‘coquinho’, é a parte mais escura e rígida do fruto. É, também, rico em carbono e, por isso, se tornou a nossa fonte de estudo.
E o que isso significa? Quanto maior o teor de carbono na biomassa, maior poderá ser a quantidade de calorias liberada num processo de combustão, ou seja, quantidade de energia térmica. Todo esse processo depende, então, de sua composição e propriedades.
Uma caracterização feita por Silva, Barrichelo e Brito, em Endocarpos de babaçu e de macaúba comparados à madeira de Eucalyptus grandis, publicado pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais, em 1986, para a produção de carvão vegetal, obteve resultados bastante favoráveis para a densidade do endocarpo da macaúba. Os números apresentados mostram uma densidade maior que a da madeira de eucalipto e que o endocarpo do babaçu. O que nos leva a entender mais sobre a caracterização energética da biomassa: a primeira etapa para avaliação de seu potencial energético.
Leia a “Parte 3”, na próxima segunda-feira!
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