Presidente do Instituto Lumiart, a cineasta e ativista humanitária Núbia Santana, sertaneja de Iguaracy, retorna a Pernambuco para empoderar mulheres de comunidades rurais contra a violência doméstica, promover o empreendedorismo feminino e iniciar ações de prevenção e enfrentamento da violência entre jovens com histórico de cometimento de delitos, por meio da arte.
Núbia Santana saiu da extrema pobreza no Sertão de Pernambuco para as passarelas, quando foi eleita Miss Pernambuco, em 1994. De lá para cá, muita coisa mudou e a beleza que abriu caminhos levou a então menina, que já foi carvoeira, ao ativismo social, tornando-se embaixadora da paz.
Neste domingo, 14 de maio, Núbia chega à casa da família para celebrar o Dia das Mães, em Iguaracy, e promover encontros com mulheres da sua cidade e dos municípios de Ingazeira e Tuparetama sobre violência doméstica e a força que cada mulher tem dentro de si.
“A minha missão com esse projeto é despertar a força que tem dentro de cada uma dessas mulheres. Com conhecimento tudo fica mais fácil. A arte e a cultura são fortes instrumentos e me auxiliam bastante nessas rodas de conversa com mulheres. Ir até às comunidades da Área Rural é um resgate de mim mesma, pois foi ali que tudo começou para mim. E uma conversa em torno de questões dramáticas como a violência, uso de drogas e a fome, tendo como pano de fundo a defesa dos direitos da mulher e dos jovens. É alimento para meu coração. Essas mulheres sofrem muito! E o pior sofrimento, a meu ver, é a falta de esperança”, explica a ativista.
As ações fazem parte do projeto “Virando o jogo”, desenvolvido pelo Instituto Lumiart, uma Organização da Sociedade Civil (OSC) fundada por Núbia Santana, em Brasília, e se completam com seu último curta-metragem “Virada de jogo”. O filme será exibido nos três municípios do Sertão pernambucano (Ingazeira, Iguaraci e Tuparetama), de 14 a 17 de maio, fazendo da arte um instrumento de conscientização e empoderamento.
“Os projetos do Instituto Lumiart surgiram para dar voz às mulheres, para incentivar a arte, a cultura, aos trabalhos sociais”, diz a cineasta, que traz na bagagem o longa metragem “Pra Ficar de Boa”; o documentário “Pedra do Mal”, sobre a realidade do crack, no Distrito Federal; o documentário “Profissão Livreiro ” premiado no último Festival de cinema brasileiro, além dos curtas “O Poder da Mulher Empreendedora” e “Virada de Jogo”, destaque no último Festival de Brasília do Cinema Brasileiro e ganhador do 24° Troféu Câmara Legislativa como melhor roteiro.
Programação
O filme Virada de Jogo conta seis grandes histórias de superação e protagonismo de fortes mulheres. Após a exibição, haverá uma roda de conversa entre Núbia Santana e o público para troca de impressões e reflexões sobre o filme e uma ‘escuta de qualidade’, onde as mulheres serão entrevistadas sobre violência doméstica.
O encontro termina com uma performance teatral, abordando o tema superação e esperança. “A importância do projeto está também em ouvir essas mulheres da área rural que, raramente, têm voz”, reforça Núbia. “Falar de sonhos para elas me emociona só em pensar… Eu sofri muito na vida e quando não tinha esperança nenhuma veio uma luz, que foi uma mulher que nunca tinha me visto na vida, dizer que eu poderia ficar bonita se fosse lapidada. Eu quero falar algo que mude a vida delas também”, declara Núbia.
Saiba Mais
Da infância sob o umbuzeiro, a força para as mudanças
Desde criança, quando ainda morava no sítio dos seus pais José e Maria Odete Santana, na cidade de Iguaraci, sertão do Pajeú, Núbia tinha um sonho de transformar a vida das pessoas, de sua família e da comunidade em seu entorno.
Única mulher de uma prole de oito filhos, Núbia teve uma infância marcada por muito sacrifício, mas também pela união da família diante das dificuldades e a esperança de que dias melhores fossem possíveis. Dos 7 aos 10 anos, ela trabalhava numa carvoaria junto com os irmãos para ajudar os pais no sustento da família e ainda enfrentava uma rotina de caminhar cerca de 30 quilômetros por dia para ir e voltar da escola, na vizinha Ingazeira.
Mesmo com muito trabalho, a fome rondava e invadia a casa da família Santana, assim como a de tantos sertanejos que até hoje sofrem sem assistência em tempos de seca. Esse embate em sua trajetória gerou resiliência e coragem para enfrentar desafios. E, quando chegou ao limite, saiu de sua casa no sertão e foi em busca do sonho de tirar a família da miséria, no Recife, onde não conhecia ninguém ao desembarcar.
De miss à cineasta
A fé em Deus e a obstinação no seu propósito abriram portas. Da pensão onde foi acolhida aos grandes salões da sociedade pernambucana e do mundo.
Quando foi eleita em 1994 como representante de Pernambuco no concurso Miss Brasil, Núbia Santana travou consigo o desafio de fazer daquele prêmio uma oportunidade para mudar sua vida e a de seus familiares. E como mudou.
Depois de viajar por todo o país, fazer contatos, decidiu ir morar em Brasília, onde teve a oportunidade de trabalhar em um órgão público e fixou moradia, mas sem tirar os olhos do sertão nordestino.
No Distrito Federal, ingressou na Faculdade Dulcina de Moraes, no curso de artes cênicas e, hoje, já tem em seu currículo várias produções cinematográficas e teatrais. Núbia é também presidente da Associação dos Produtores de Cinema (Aprocine), com sede em Brasília, e fundadora do Projeto Nota 10, que promove oficinas de teatro, percussão e atividades audiovisuais para adolescentes autores de infrações graves. Foi nessa “pegada” de estar mais próxima aos jovens dependentes de drogas que nasceu o documentário “Pedra do Mal”, em 2015.