DR PAULA MEYER

INFLAÇÃO ACELERA ROMPENDO A META EM 2020

O ano de 2020 vai se despedindo e deixando as suas marcas como sendo o ano em que o inimigo invisível, o vírus, arrebatou em cheio economias, vidas ao redor do planeta, trazendo o medo e a insegurança a todos.

O alastramento da crise sanitária iniciada com a contaminação do COVID-19, atingiu em cheio a economia brasileira, os lares do cidadão comum, a rotina de trabalho e a vida de várias crianças e adolescentes.

Nos últimos 5 anos, a taxa de desemprego atingiu 14,3 milhões de brasileiros. Isso significa dizer que cerca de 60 milhões de brasileiros indiretamente foram afetados pela perda de emprego de algum membro da família que se encontra sem colocação no mercado de trabalho.

A inflação não deu trégua, continua avançando. Em novembro de 2020 o índice oficial que mede a inflação, o IPCA, apresentou pela primeira vez em o acumulado em 12 meses de 4,31% ultrapassando a meta inflacionaria pela primeira vez após governo Lula.

Gráfico 1 – Inflação acumulada nos últimos 12 meses – IPCA –Nov 2020

nov/19 3,27%
dez/19 4,41%
jan/20 4,19%
fev/20 4,01%
mar/20 3,30%
abr/20 2,40%
mai/20 1,88%
jun/20 2,13%
jul/20 2,31%
ago/20 2,44%
set/20 3,14%
out/20 3,92%
nov/20 4,31%

Fonte: extraído do Boletim Focus (2020)

Os principais grupos que apresentaram alta foram: alimentação (2,54%), comunicação (0,29%), transportes (1,33%) e itens para casa (0,86%). E novamente o mês de novembro o grupo de alimentação “puxa” a tendência de alta. Isso significa dizer que para a população em geral a perda de poder aquisitivo é algo presente.

O índice IGPM utilizado para ajustar contratos de aluguéis e pensão alimentícia alcançou os 2 dígitos estando acumulado em novembro de 2020  mais de 20%. A tendência é de alta para os próximos meses também.

A alta dos preços assola mais fortemente a população de uma maneira geral. De acordo com os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o rendimento médio da população é de R$ 2.480,00. Os estados de São Paulo, Rio de Janeiro e o Distrito Federal são os que apresentam os maiores rendimentos médios. Os estados da região Nordeste o rendimento médio é de R$ 1.631,66 bem abaixo do rendimento médio nacional. Isso significa dizer que a elevação dos preços do grupo alimentação afeta fortemente aquela parcela da população cujo orçamento doméstico tem uma participação elevada.

De acordo com estudo realizados pelos economistas, Ecio Costa (UFPE) e Marcelo Freire (UFRPE), a concessão de auxilio emergencial fez com que no primeiro trimestre de 2020 houvesse uma recuperação considerável dos rendimentos das famílias. Por outro lado, no segundo trimestre de 2020 a redução do rendimento das famílias foi considerável alcançando uma redução de 20%. Com a continuidade da concessão do auxílio emergencial, a queda ficou em 12% p.p.

No segundo trimestre de 2020, o Brasil injetou na economia um volume de recursos 61% superior a perda de renda das famílias no ano acumulado até julho. Em 5 unidades da federação a concessão do benefício não compensou totalmente a perda incorrida no rendimento familiar- São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Mato Grosso e Distrito Federal. Já na região nordeste observou-se um aumento do rendimento das famílias pós-auxilio emergencial, isso significa dizer que conjugado com os programas sociais de distribuição de renda o auxílio-emergencial somou-se a esses benefícios já existentes. Os estados da região Norte e Nordeste (Rio Grande do Norte, Pará, Amazonas e Amapá) apresentaram avanço da renda.

Apesar da adoção do auxílio-emergencial concedido em 2020, o ano ainda não acabou e além do enfrentamento da contaminação do vírus COVID-19 a população brasileira terá que enfrentar também o episódio da elevação dos preços.

O ano de 2020 ficará na memória de todos nós em que os limites emocionais, físicos do cidadão brasileiro foram colocados à prova. O importante é não deixar-se levar pelos momentos de aflição e de angustia. As lições que 2020 nos trouxe ainda não acabaram aqui. Nos resta aguardar por dias melhores.

Sobre o autor

Paula Meyer Soares

Dentro dessa perspectiva a coluna inaugura mais um espeço para a reflexão no Jornal Pernambuco em Foco acerca dos desafios energéticos e econômicos resultantes das nossas políticas públicas.
Serão abordados temas diversos voltados para área de energia, economia e políticas públicas.
A coluna será semanal abordando os mais variados temas correlatos à essas áreas sob a ótica da economista e professora Paula Meyer Soares autora e especialista em economia, energia e políticas públicas. Doutora (2002) e Mestre (1994) em Economia de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas – EAESP. Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade de Fortaleza (1990). Membro da Sociedade Brasileira de Planejamento Energético (SBPE

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