Espetáculo lembra poeta pernambucano Solano Trindade neste fim de semana no Recife

“Negra Palavra – Solano Trindade” exalta a trajetória e a produção poética do pernambucano, com apresentações no sábado e domingo (30 e 31/08), no Espaço O Poste
O poeta pernambucano Solano Trindade é lembrado pelo espetáculo “Negra Palavra – Solano Trindade”, que será apresentado pela primeira vez no Recife, neste sábado e domingo (30 e 31/08), às 19h, no Espaço O Poste, no bairro da Boa Vista, na programação da Ocupação Espaço O Poste. Os ingressos custam R$40 inteira e R$ 20 meia.
Realizado pelo Coletivo Preto e pela Companhia de Teatro Íntimo (Rio de Janeiro/RJ), o espetáculo carioca recupera a trajetória de Solano, desde sua infância em Pernambuco, até seus anos de militância junto ao Movimento Negro Unificado (MNU) Brasil afora, entre as décadas de 1930 e 1960. Trindade era conhecido como “O Poeta do Povo”, devido à sua luta pela paz e contra a opressão de negros e pobres.
O espetáculo passeia através da linha do tempo, mostrando diferentes cenas da vida do poeta através de imagens poéticas que costuram movimento cênico, performance, música e dança. O roteiro da peça foi feito todo a partir das poesias de Solano, que lançam reflexões sobre a fome, identidade racial, ancestralidade, e a vida do pobre e do trabalhador.
Nascido em 24 de julho de 1908, no bairro de São José, no Centro do Recife, Francisco Solano Trindade foi um artista negro que contribuiu com a literatura brasileira com produções artísticas antirascistas e que exaltam a cultura afrodescendente. Foi também operário, comerciário, colaborou com a imprensa negra e apoiou espetáculos ligados à cultura popular. Tem quatro livros publicados, além de obras póstumas e antologias. Morreu esquecido há 50 anos, em 1974, em Embu das Artes, interior de São Paulo.
Completando cinco anos de trajetória, “Negra Palavra – Solano Trindade” vem realizando temporadas de sucesso desde 2019, com plateias lotadas no Rio de Janeiro, em São Paulo e Belo Horizonte. Agora chega pela primeira vez ao Recife, recuperando o legado de Trindade para as novas gerações e afastando-o do apagamento histórico.
A apresentação integra a programação da Ocupação Espaço O Poste, ação cultural do Grupo O Poste Soluções Luminosas que leva apresentações culturais de diversas linguagens à sede do grupo, no bairro da Boa Vista. A iniciativa é realizada com incentivo do Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas 2023 – Espaços Artísticos.
>> Espetáculo “Negra Palavra: Solano Trindade”
Com o Coletivo Preto e Companhia de Teatro Íntimo (Rio de Janeiro/RJ)
Sexta e sábado, 30 e 31/08, às 19h
Ingressos: R$ 40 inteira / R$ 20 meia
À venda na bilheteria do evento e antecipadamente pelo Sympla
(Link disponível na bio do Instagram @oposteoficial)
>> Confira 3 poemas de Solano Trindade:
Canta América
Não o canto de mentira e falsidade
que a ilusão ariana
cantou para o mundo
na conquista do ouro
nem o canto da supremacia dos derramadores de sangue
das utópicas novas ordens
de napoleônicas conquistas
mas o canto da liberdade dos povos
e do direito do trabalhador…
Conversa
– Eita negro!
quem foi que disse
que a gente não é gente?
quem foi esse demente,
se tem olhos não vê…
– Que foi que fizeste mano
pra tanto falar assim?
– Plantei os canaviais do nordeste
– E tu, mano, o que fizeste?
Eu plantei algodão
nos campos do sul
pros homens de sangue azul
que pagavam o meu trabalho
com surra de cipó-pau.
– Basta, mano,
pra eu não chorar,
E tu, Ana,
Conta-me tua vida,
Na senzala, no terreiro
– Eu…
cantei embolada,
pra sinhá dormir,
fiz tranças nela,
pra sinhá sair,
tomando cachaça,
servi de amor,
dancei no terreiro,
pra sinhozinho,
apanhei surras grandes,
sem mal eu fazer.
Eita! quanta coisa
tu tens pra contar…
não conta mais nada,
pra eu não chorar –
E tu, Manoel,
que andaste a fazer
– Eu sempre fui malandro
Ó tia Maria,
gostava de terreiro,
como ninguém,
subi para o morro,
fiz sambas bonitos,
conquistei as mulatas
bonitas de lá…
Eita negro!
– Quem foi que disse
que a gente não é gente?
Quem foi esse demente,
se tem olhos não vê.
Tem gente com fome
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
pra dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Piiiii
estação de Caxias
de novo a dizer
de novo a correr
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Vigário Geral
Lucas
Cordovil
Brás de Pina
Penha Circular
Estação da Penha
Olaria
Ramos
Bom Sucesso
Carlos Chagas
Triagem, Mauá
trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Tantas caras tristes
querendo chegar
em algum destino
em algum lugar
Trem sujo da Leopoldina
correndo correndo
parece dizer
tem gente com fome
tem gente com fome
tem gente com fome
Só nas estações
quando vai parando
lentamente começa a dizer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
se tem gente com fome
dá de comer
Mas o freio do ar
todo autoritário
manda o trem calar

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