Direto de Brasília-DF.
Quantas pessoas no mundo se sentiam “desenganadas” sociais e econômicas e ainda assim optaram consciente e livremente por não agredir, não roubar o patrimônio alheio, não matar, não cometer crimes de colarinho branco?
E quantas sofrem com pobreza e cresceram em ambiente nocivo, vivem em comunidades nas quais o crime é a regra e ainda assim optam por ser a antítese do sistema que as rodeia?
Em meu ciclo voluntário de palestras nas escolas públicas do Distrito Federal, no qual já falei para mais de 15.000 alunos, além de pais e responsáveis e em reunião de coordenação para professores, orientadores educacionais e diretores, abordo com frequência temas como “bullying”, ética, e respeito pelas diferenças.
Por três anos seguidos os relatos de profissionais do ensino mostram que violência física e psicológica perpetrada por alunos, pais e responsáveis agressores têm origem na decisão pessoal do agressor contra a vítima.
Por óbvio que o ambiente doméstico violento influi, que a pobreza geradora de fome e ressentimento influi, como também influem o fanatismo religioso, fanatismo político, incertezas sobre o futuro, desordens estruturais, desprezo pelas diferenças e o efeito multidão no qual os agressores pensam que suas ações violentas estão galvanizadas.
Todavia, atribuir ao ambiente de nascimento e criação a causa de crimes, agressões e comportamentos desviados é anular o livre arbítrio e abraçar o “determinismo” justificador de escolhas que nascem de quem poderia evitar a agressão física ou psicológica que perpetra contra terceiros, contra professores(as), orientadores(as) e diretores(as).
Abraçar o “determinismo” como vimos fazendo há mais de 100 anos é punir a vítima e “ninar” o agressor, é encarcerar quem deve ser livre e libertar quem deve ser encarcerado.
Se alguém está com um vírus letal à semelhança do Ebola ou Covid-19, então aceitamos o distanciamento social. Mas, quando alguém está possuído pelo “vírus” do mal que incendeia cabelo de professoras, destrói escolas, rouba o material escolar do colega, ameaça, causa lesão corporal física e psicológica e até morte de profissionais do ensino, então tratamos tais agressores como “coitadinhos” cuja culpa vem da pobreza ou do meio ambiente em que nasceu, é, ou foi criado. Não há lógica nem racionalidade no comportamento de quem agride, nem no comportamento de quem privilegia o agressor e pune a vítima!
Que benefício há em absolver sumariamente a agressores e condenar vítimas? Quem ganha e quem perde nessa guerra infinita entre filhos mimados de pais e (ir)responsáveis que terceirizam a educação, contra os profissionais do ensino?
Há tempos entramos em um ciclo perigoso em que aplaudimos a humanidade selvagem do presente, que segue destruindo a possibilidade de uma humanidade educada futura. Famílias, sociedade e Estado estão agindo quais tolos que seguem ausentes, mesmo quando presentes.