Direto de Brasília-DF.
Bertran Russel em seu livro “História do Pensamento Ocidental” e Quentin Skinner, em “As Fundações do Pensamento Político Moderno” sugerem que foi a partir do século XVIII, que os governos passaram a investir orçamento público no ensino médio profissionalizante e ensino superior, com a finalidade de desenvolver e treinar habilidades nos alunos, para o Mercado de Trabalho.
Observe que a escola moderna como a conhecemos não foi estabelecida com a finalidade de EDUCAR, mas de ensinar conhecimentos os mais práticos possíveis direcionados ao desenvolvimento de habilidades para suprir as necessidades do comércio, indústria, e do novo e poderoso setor mercantil, ou seja, os bancos. Não se pense em negar que tal conhecimento era científico. Claro que era! Afinal, a lista das invenções importantes para a humanidade, o gênio inventivo de um multi-inventor como Leonardo da Vinci e a criatividade literária de um William Shakespeare a adubar as mentes com a literatura, aravam o terreno cerebral desértico e infértil daquele velho mundo e semeavam as ciências que resultariam nas grandes revoluções que estavam por vir(industrial, políticas e sociais na Inglaterra, Virgínia, e França).
Nesse período a “Economia”, enquanto ciência sistematizada, gradualmente assume com o Direito, o lugar de “queridinhos” da Política e de seus arquitetos do mal, os políticos. A união proposital dessa tríade poderosa para governar o mundo deixaria para sempre órfã, a Nação. Nós, o povo, que pouco importávamos, tornamo-nos, ainda mais, gado para o arnês ou arreios cada vez mais sofisticados da Política, Economia, e Direito. Escolas e alunos, nesse contexto, eram e seguem sendo peças chaves dessa nova dinâmica mundial.
A questão que aqui sucinto não é para criar mais um fraco trauma nos fracos que se traumatizam até com um vento frio que lhes toca a face, como são as novas gerações surgidas desde meados do seculo passado até nossos dias. É, apenas, o registro de fatos, porque fatos não se negam e se são desfavoráveis o dever é enfrentá-los e, se não somos capazes de antecipá-los, ao menos, como seres racionais e poderosos que somos, reagir com honra e força quando nos são desfavoráveis. Assim, a todos os que estão aí prostrados na preguiça, no desânimo, na fraqueza, no opróbrio, vivendo a “síndrome do coitadinho”, e na inveja daqueles que são capazes de fazer, digo que o mínimo a fazer é viver e morrer com a honra dos que lutam até o fim.
Como vimos dizendo, “escolas” são agências de ensino e reprodução do conjunto de conhecimentos que literalmente eram formulados na cabeça dos filósofos e professores contratados e treinados para o novo papel que o Estado passava a desempenhar no cenário político mundial. O conhecimento, então, ganha a força da imprensa, inventada no século XVI, dos livros didáticos e das enciclopédias(nosso Google do passado), meios que se tornam ferramentas no auxílio de professores e escolas, a forjarem o comportamento cultural das novas gerações de trabalhadores e de um mundo que historicamente caminharia a passos largos para a urbanização, ou seja, para a vida nas cidades.
Faltava uma única jogada para o Estado dar xeque-mate no controle cultural das sociedades, da mesma forma que a religião fizera por séculos e segue fazendo nos países dominados por fanáticos religiosos e seus múltiplos paraísos, que até literariamente são mal construídos.
Assim, a jogada perfeita veio com a criação de órgãos e entidades politicas como “Ministérios e Secretarias de Educação”. Não estou falando literalmente de tais órgãos, mas da ideia de uniformizar e oficializar sob o controle do Estado, os conhecimentos aceitáveis e responsáveis pela fixação dos conteúdos programáticos para todos os níveis de ensino.
Tal manobra permitiria que o conhecimento se tornasse mais uma ferramenta de poder das classes que assumem sazonalmente os governos políticos. Dessa forma foi possível trocar os animais de tração, pouco racionais, e entupir comércio, indústria, setor mercantil e os demais que surgem, com os novos animais criados à imagem e semelhança da Política e do Mercado. Os novos “bois e cavalos” com arreios científicos e tecnológicos são servos mais úteis. Afinal, pensam e seguem cartilhas.
O Estado assume de vez o controle e domínio sobre as pessoas, passa a ditar o plexo cultural que deve reger a vida em sociedade e define que uma das micro partes dessa nova cultura é que educação e ensino são a mesma coisa. Essa fusão transfere para os agentes escolares o papel que antes pertencia a país e responsáveis, e de quem jamais deveria haver sido suprimido. O problema é que pessoas são animais pensantes e como tal, todos ficam mais felizes ao se livrarem de pesos, cargas, fardos. Para pais e responsáveis pareceu cômodo e agradável que o Estado quisesse assumir a carga de educar os filhos das famílias.
O único problema dessa equação, é que o Estado também se livrou da missão e a transferiu para os profissionais da educação. Eis porque pais e (ir)responsáveis quando têm qualquer queixa sobre o comportamento de seus filhos vão direto reclamar ou agredir aos “procuradores do Estado”, ou seja, aos profissionais do ensino, que existem para ensinar e não para educar filhos alheios, pois os seus próprios já são “animais selvagens” que precisam ser domados no dia a dia.
Porque essa transferência era e segue sendo estratégica para o Estado? Porque este não sabe o que se passa nas quatro paredes dos lares, mas sabe, controla e determina o que vai se passar entre as “quatro paredes” das salas de aula.
Esse domínio do conteúdo que é ensinado formata o cérebro e a cultura de cada geração, conforme o direcionamento que o Estado deseja dar ao SER, ao TER, e ao FAZER.
Assim, terminamos todos por ser o que o Estado quer que sejamos, inclusive com uma ética de vida absolutamente questionável, sendo apreendida e reproduzida por cada nova geração. A sociedade, o grande coletivo pensante, sem se dar conta passa a seguir a “cartilha estatal” na qual constam os valores que todos devem replicar. O resultado é que uma geração após a outra é “gadificada” para abastecer e servir aos fins do grande “pai e provedor”, o insensível Estado, seja ele teocrático ou democrático de direito, que se assemelha ao matadouro para o qual é levado o gado a ser abatido.
Nesse matadouro a Nação é sangrada, esquartejada e vendida aos “açougues” e “supermercados” políticos nos quais, família, sociedade, escolas e alunos, são perpetuamente bestializados para se tornam “capital humano”. Aliás, por meio dessas terminologias que coisificam o humano e humanizam coisas nos perdemos e somos enganados pela estética dos falaciosos, que transformam a verdade em mentira, o justo em injusto e o legal em ilegal, tudo para “sacralizar” escolhas políticas cotidianas que emburrecem a Nação. Educação não é o mesmo que ensino! Não é, senhoras e senhores! Definitivamente, não é!
Todavia, esse é o sistema e para não negar os fatos, registro que foi assim que a meritocracia instalou-se no mundo do pós século XVI. No reino da meritocracia as pessoas passaram a saber em torno de 20% do que os currículos estatais querem que saibam; passaram a receber salários de acordo com o nível de escolaridade atestado por certificados e diplomas.
Esse cenário propiciou a ferrenha disputa entre quem diligencia para se especializar e os que são preguiçosos e ressentidos pelo sucesso alheio, de modo que o “bulinador” entrou no palco e rotulou como “nerd”, “CDF”, “sabixão” aos que têm sede de saber. A meritocracia tem seu nêmesis, e estes são os ignorantes e “bulinadores”.
Eis porque insisto que salas de aula funcionam para ensinar e que educação é algo infinitamente mais profundo e sábio. É um processo que nos eleva à dimensão superior da razão. A mesma abençoada e maldita razão que tenta nos separar das bestas que pastam nas savanas da África e dos demais animais aos quais, hoje, humanizamos mais que aos próprios humanos.
Ascender à dimensão da razão deveria ser o anseio existencial de cada ser humano. Isto se consegue mais com educação, que com ensino escolar, porque aquela está em todo o Cosmo e estende-se por toda nossa curta vida existencial(exceto para platonistas, mas não vou entrar nessa discussão dogmática). A educação está, inclusive, onde não há escolas.
Então, não se engane nem deixe que te enganem porque uma pessoa pode possuir um ou v’rios certificados e diplomas e não possuir educação. Por outro lado, complementar a educação com a aprendizagem curricular escolar é o mínimo que a vida exige daqueles a quem ela oferece mesmo que a mínima oportunidade.
Esteja atento aos sinais porque a vida premia os diligentes e castiga os negligentes sem ter que dar explicação alguma. A sorte de cada um de nós está lançada desde a entrada na vida racional e nesta caminhada são as escolhas que fazemos que determinam nosso destino.
O preço pelo êxito passa por saber ler os sinais na estrada da vida. Dentre vários sinais que aponto em meu livro “Obstinação – O lema dos que vencem”, eis alguns outros que se forem desprezados farão o trem da tua vida descarrilar: não ouvir bons conselhos de país e responsáveis, desprezar a disciplina que a vida exige para a conquista do êxito e entrar em guerra contra professores, orientadores e diretores escolares.
Afinal, quem morde a mão que o alimenta cedo morre de fome!
Continua…
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