Direto de Brasília, DF
É aconselhável procurar estágio já no primeiro semestre ou melhor buscar emprego enquanto estuda? O mercado de Tecnologia da Informação também é machista? o profissional de TI é devidamente “valorizado” pela mentalidade do Mercado de Trabalho brasileiro? Por que tantos profissionais de (TI) optam por deixar a zona de conforto de viver em um país tão promissor quanto o Brasil e preferem imigrar?
Neste Episódio 9, entrevisto Juliana Hilário, que fez da Licenciatura em Computação seu “porto seguro”, e indago essas e outras questões, objetivando não somente dar a conhecer melhor a importância da (TI) neste nosso mundo contemporâneo, como fazer desta série um “aconselhamento” profissional para alunas e alunos de ensino fundamental e médio, e, também, a qualquer pessoa que esteja à deriva, porém em busca de uma profissão.
JV: Que área de TI, escolheu cursar e o porquê? Você teve alguma influência de terceiros para escolher o curso ou foi opção pessoal?
JH: Olá… Me chamo Juliana Hilário de Sousa, tenho 33 anos e diria que a área de TI para mim não foi bem uma escolha, ela aconteceu… Encerrei o ensino médio e marquei opções no vestibular de algumas faculdades (entre as opções marquei computação e direito. rs). Obtive a aprovação para ambos, porém decidi cursar Computação – Licenciatura por conta do tempo de curso. Outro ponto é que um tio meu havia se formado nesse mesmo curso e estava tendo bom retorno financeiro com pouco tempo de formado. E assim nasceu a escolha. Rsrs
A escolha da área de atuação dentro da TI, só ocorreu mesmo depois de formada, onde fui experimentando várias e acabei optando pela área de engenharia de requisitos. No mercado, meu cargo é conhecido como Analista de Negócios/Analista de requisitos.
JV: Descreva a duração do curso de TI, e em resumo quais e quantas especializações um estudante pode eleger para se suceder bem nesse Mercado de Trabalho?
JH:O meu curso (Computação – Licenciatura) teve a duração de 3 anos, mas isso vai variar de curso para curso e se é em faculdade privada ou universidade. A entrada no mercado ocorre muitas vezes antes do profissional estar formado, porém para o crescimento profissional é necessário estar sempre se atualizando e principalmente buscando por certificações na área. Não existe um número exato de especializações ou certificações pois vai depender muito da área de atuação, mas quanto mais melhor, pois reflete o quanto se está atualizado com as boas práticas de mercado.
JV: Há inúmeros estudantes que escolhem graduar em uma faculdade ou universidade somente para ter um diploma de nível superior. Há outros que dizem haver se formado em determinada área para satisfazer o desejo dos pais. Há outros que fazem os pais pagarem metade ou mais do curso e o abandonam, mudam de curso para fazer o que dizem realmente querer e depois de tudo, também não exercem a profissão que alegam ter sido fruto da escolha pessoal. Você se encaixa em algum desses perfis?
JH: Não. Fui a primeira pessoa a obter o ensino superior em minha casa e sempre tive como visão que para mudar minha realidade de vida, um dos caminhos mais “fáceis” (entre muitas aspas) era obter um curso superior. Pensei sim, em mudar de curso no meio do caminho, porque as matérias das ciências exatas tiram o juízo de qualquer pessoa (rsrs), mas acabou que decidi prosseguir e deu certo. Batalhei muito para pagar a minha faculdade, mas não vou dizer que seja minha vocação. Acho que vocação não é para todo mundo. Uns já nascem sabendo o que gostam e querem fazer da vida outros têm de apostar em algo. Eu sou o segundo caso. Apostei e considero que deu certo até aqui.
JV: Como foi seu processo de escolha pela TI, como profissão?
JH: Tive um professor de matemática no ensino fundamental que me ensinou a gostar de exatas. Não tinha muito nem noção do que era o mercado de TI quando escolhi entrar, mas dentre as opções me pareceu algo bom, justamente pela expectativa de retorno financeiro rápido. O que não é bem 100% verdade (rsrs), mas também não é mentira… o salário de um profissional “júnior” se comparado a outras profissões é bem satisfatório.
JV: Nosso mundo segue sendo patriarcal. Machista em alguns países e extremamente machista em outros. Várias estatísticas situam os salários das mulheres entre 17% e 25% menor em relação a homens que desempenham a mesma função. Como você interpreta o mercado de TI, no quesito igualdade salarial e empoderamento das mulheres?
JH: Segue sendo um mercado bem machista. Comumente teremos colegas de trabalho homens na mesma função/cargo e recebendo mais. Uns até com menos tempo de experiência e com menos formação que muitas mulheres da mesma empresa. O mercado de TI é conhecido também por ter cargos de chefia (cargos altos) como postos ocupados predominantemente por homens. Até hoje tive pouquíssimas diretoras mulheres e sempre rola as “piadinhas” de que estão onde estão por terem se relacionado com colegas de cargo mais alto. O que é lamentável.
JV: Há cursos de formação técnica com duração inferior a três anos que um estudante concluinte do nível secundário possa fazer e com ele ter boas chances de ser contratado por grandes empresas no Brasil e no exterior?
JH: Para o mercado nacional de TI considero que sim! O hard skills é muito mais cobrado do que especificamente qual o curso você se formou. Hoje o soft skills também tem sido muito importante nos processos seletivos. Empresas estão preferindo formar pessoas a contratar pessoas com muito conhecimento e pouca habilidade interpessoal. Para o mercado internacional as vezes em que pesquisei não encontrei restrições.
JV: Quando concluiu seu curso em TI encontrou emprego de imediato ou passou pelas rejeições tradicionais de empresas que negam o primeiro emprego, exigindo experiência de quem não recebe oportunidade para trabalhar?
JH: Um dos erros que cometi dentro da minha carreira acadêmica foi não ter feito estágio (além dos obrigatórios). Me apeguei a necessidade de pagar a faculdade, não quis trocar o emprego por estágio – Não recomendo e não faria isso novamente se eu pudesse voltar no tempo.
Então tive a sorte de assim que me formei, consegui começar como trainee em projetos de pesquisa dentro da UNB.
JV: Falemos de estágio em sua área. Que conselhos dá para quem está nesta fase e sobretudo para quem acabou de entrar no curso de TI? É aconselhável procurar estágio já no primeiro semestre ou melhor buscar emprego enquanto estuda?
JH: Siiim… busquem por estágio assim que possível… É fundamental colocar a teoria em prática e fazer network nessa fase… somente assim terá portas abertas no mercado. Como disse na pergunta anterior, foi um erro que cometi dentro da minha carreira acadêmica não ter feito estágio (além dos obrigatórios).
O mercado de TI funciona muito por indicação, então façam network. Procurem por palestras e feiras de TI.
JV: A demanda por TI proporciona trabalhar no setor privado, público e terceiro setor?
JH: A demanda de TI possibilita trabalhar em todos os setores, acho que as propostas variam muito mais de onde você mora, por exemplo em Brasília o setor predominante de atendimento é o setor Público, mas também não é o único.
JV: Em sua concepção o profissional de TI é devidamente “valorizado” pela mentalidade do Mercado de Trabalho brasileiro?
JH: Olha… acho que somos bem valorizados sim, mas falo pela minha área de atuação. Não sei as demais.
JV: O Brasil perde muitos profissionais de TI anualmente para outros países? Por que tantos profissionais de sua área optam por deixar a zona de conforto de viver em um país tão promissor quanto o Brasil e preferem imigrar?
JH: A perspectiva de morar em países de primeiro mundo é muito atraente. Além da possibilidade de ganhar em moedas mais valorizadas que o nosso real (ainda mais atualmente). O mercado em outros países seduz demais nesses aspectos. Já pensei em imigrar, cheguei a participar de várias reuniões a respeito e comecei a estudar o idioma na época… Acho que o país não perde mais profissionais pela nossa defasagem no inglês (digo isso olhando para o cenário de escolas públicas, realidade de onde sai). Tenho alguns amigos que imigraram, mas a perspectiva do Home Office abriu novas possibilidades. Já tenho alguns amigos no Brasil, trabalhando para empresas no exterior.
JV: Dá para dizer que a TI é o “paraíso” das profissões modernas?
JH: Paraíso, a meu ver não… é um bom caminho, mas a quantidade de colegas com ansiedade e outros problemas nesse sentido nos deixa distantes do paraíso… A TI ainda não consegue conciliar a saúde mental com a velocidade com que as demandas precisam ser atendidas (tudo é para ontem). O que é uma pena.
JV: É possível dizer que a TI permita trabalhar de qualquer lugar para qualquer lugar, mudar para excelentes países ou viver viajando e trabalhando de qualquer ponto geográfico, sem deixar cair a qualidade do trabalho e sem o empregador se ressentir da presença do profissional? Esse procedimento ocorre no Brasil ou a mentalidade do empresário brasileiro segue sendo a da quantidade de presenças ao invés da produtividade?
JH: A cultura tem mudado bastante, mas ainda estamos longes de termos empresas “desapegadas”. Já tenho alguns amigos trabalhando para empresas fora de Brasília e no exterior e acho que a tendência é isso crescer. Acredito que a concorrência do mercado vai estimular que o home office seja mantido. Tenho muitos amigos hoje, que já colocaram isso como condição para concorrer a vagas de trabalho.
JV: Você enxerga um cenário em futuro próximo ou distante em que a TI deixe de ser uma profissão de alto consumo pelo mercado de trabalho, ou a tendência é que ela siga devorando e absorvendo outras profissões como já vem fazendo com ramos tradicionais como mídia impressa, editoras de livros e impressos, gráficos, atendentes bancários tais como caixas, gerentes, balconistas em geral, e etc.?
JH: Acredito que a tendência é o mercado de TI crescer e alcançar novas áreas… Ainda temos muito a explorar no que tange a inteligência artificial por exemplo. As profissões vão se transformando à medida que a tecnologia evolui, porque máquinas não funcionam sozinhas. Quanto mais processos automatizados menos precisaremos de humanos na ponta, mas precisaremos sim, na construção e/ou manutenção dessas automações.
JV: Se você fosse entrar hoje na faculdade ou universidade para recomeçar sua vida estudantil de preparação para o Mercado de Trabalho, e considerando o conhecimento, experiência prática e valorização que já adquiriu escolheria TI, outra vez?
JH: Olha… acho que escolheria sim. Minha jornada não foi nada fácil, mas reconheço que muitas das minhas conquistas de vida hoje foram provenientes desta escolha. Descobri que gosto muito de arquitetura…, mas não pesquisei o mercado a fundo para dizer que seria uma boa troca de curso. kkkkk
JV: Se você estivesse diante de uma plateia de moças e moços recém-saídos do nível secundário e pudesse dar um conselho sobre o Mercado de Trabalho, que conselho daria às meninas e que conselhos daria aos meninos?
JH: Sejam pessoas que ajudam os colegas de trabalho: Conhecimento bom é conhecimento compartilhado. Hoje o mercado de trabalho se preocupa muito mais em ter um profissional com bom relacionamento interpessoal, que saiba se comunicar e trabalhar colaborativamente do que ter uma pessoa exatamente técnica, mas que não saiba se comunicar.
JV: Se você estivesse diante de uma plateia de jovens recém-saídos do nível secundário e pudesse dar um conselho sobre o mercado de TI, que conselho daria às meninas e que conselhos daria aos meninos?
JH: O mercado de TI proporciona sim bons salários e um crescimento profissional em tempo razoável, mas não é um mercado fácil. Exige dedicação, então estudem hoje, estudem amanhã, estudem para sempre! (rs) Não há como se manter como um bom profissional sem atualização. Procurem tirar certificações.
JV: Você pode explicar a importância de estudar inglês para o mercado de TI? O inglês estudado no ensino fundamental e médio ajuda em que nível no exercício de sua profissão?
JH: O inglês da escola pública da minha época, não me ajudou muito. Diria que para a área de TI ser fluente em inglês é o ideal, mas ao menos ler é fundamental. Não é um impedimento para entrar no mercado de TI não saber inglês, mas temos muitas certificações apenas em inglês e está cada vez maior o número de vagas com esse requisito desejado.
JV: Mesmo vivendo cercado por países de língua Castelhana, no Brasil chega quase a ser considerada “falta de educação” falar outro idioma com um colega estando próximo a outros brasileiros porque a pessoa se sente “ofendida” e taxa quem está falando de pedante ou arrogante. A que você atribui esse preconceito?
JH: A falta de compreensão de outro idioma causa desconforto mesmo. Já passei por isso e não me senti ofendida, mas me senti desconfortável por não poder participar da conversa. Mas vai muito do contexto de como isso ocorre né?! Muitos cenários aí…
JV: O que você recomenda aos estudantes ou mesmo aos que já terminaram seus estudos e ainda procuram uma profissão que lhes dê um mínimo de dignidade social?
JH: Experimentem… Escolham algo de interesse e arrisquem. Conversem com pessoas que trabalhem na profissão que deseja entrar para ter uma visão de como é a realidade. Não é todo mundo que nasce com vocação… então, procurem por áreas de interesse, coisas de que gosta ler, pesquisar, assistir… talvez aí encontre um gatilho para a decisão profissional.
JV: Parabéns por sua trajetória e muito obrigado pela entrevista. Tenho certeza que será luz para quem deseja enxergar.
JH: Eu que agradeço o convite… Muito bacana poder falar sobre a minha vivência em um pedacinho desse mercado tão amplo, tão promissor e que move tanto a sociedade atual. Obrigada!