Direto de Brasília-DF.
Surge a Maiêutica. O método educacional de Sócrates que atua como o contraponto ao método sofista(Paideia).
Para sorte da humanidade o processo dialético evolucionista gerou filósofos como Sócrates, Platão e Aristóteles.
Eles fizeram o contraponto ao movimento sofista. Nem tanto em relação à forma, mas ao conteúdo do processo de ensino e de aprendizagem, porque, como dizia Sócrates “a competência técnica que desconhece toda preocupação moral do processo educativo, só pode levar à tragédia pessoal e à desintegração da sociedade”, como bem registrou o Professor Thomas Giles em seu livro “A história da Educação”.
De forma contundente Sócrates assume como sua a luta contra o discurso dos sofistas, apregoando nas ruas de Atenas o valor da Ética e da busca pela verdade. Thomas Giles registra que para aquele grande mestre da filosofia “A formação do aluno depende do desenvolvimento da virtude moral, virtude que pode ser ensinada, pois resulta da reflexão e cuidadosa análise das diversas alternativas”.
Pode soar ingênuo o ensinamento de Sócrates quando diz que “O homem só comete atos imorais quando não compreende o caminho certo da ação”, mas a mim parece que acertou tremendamente quando disse que “A própria sociedade estará condenada à extinção, se seus membros só perseguirem interesses pessoais e valores particulares”. Como Professor de Direito, por vezes ensinei que este pensamento baliza princípios constitucionais como: interesse coletivo, impessoalidade e moralidade e que certamente influenciou filósofos modernos como Thomas Hobbes ao dizer que “o homem é o lobo do homem”, ou Immanuel Kant com seu imperativo categórico, por meio do qual recomenda vivermos como se nossa conduta pudesse ser tida por lei universal.
Sobre o imperativo categórico é uma alegria constatar em meu ciclo de palestras voluntárias pelas escolas públicas do Distrito Federal, que alunos das primeiras séries do ensino fundamental o explicam de forma mais contundente que o próprio Kant, pois quando peço a eles para traduzirem em linguagem de hoje o imperativo categórico dizem: “não faça aos outros os males que você não quer que eles façam a você”. Sempre que os ouço e interagem comigo penso que a filosofia só parece chata para quem detesta o conhecimento e que ela deveria fazer parte de toda a jornada escolar.
Sócrates, antepondo-se aos sofistas ensinava a Maiêutica e a conceituava como “a arte de ajudar a alma a dar à luz, ideias que são as bases da verdade e da virtude”. Esse pensamento socrático irá influenciar sensivelmente a seus principais discípulos, Platão e Aristóteles.
Thomas Giles afirma com propriedade que para Sócrates “o mais importante de todos os conhecimentos consiste em reconhecer a própria ignorância (…) e paradoxalmente é este o primeiro e indispensável passo para todo o progresso no caminho rumo à sabedoria”.
Com o Maiêutica, método que o Professor Sócrates desenvolveu, ele ensinava que “O processo educativo consiste numa continua dialética de questionamento em que o mestre, por via de implacável interrogação, leva o aluno à reconhecer que as primeiras impressões, baseadas em superficial percepção da realidade, são insuficientes e não lhe proporcionam o conhecimento dos valores eternos, conhecimento indispensável para orientar as ações”. Assim diz Thomas Giles.
É a Maiêutica que vai estabelecer que o ensino objetiva: alimentar o cérebro com o conhecimento, orientar a conduta social e esculpir o caráter do aluno. Estas verdades se tornaram “valores eternos” que resistirão aos próximos de milhares de anos vindouros, sem fechar o ciclo a novos propósitos.
A Maiêutica apregoa, ainda, que a virtude moral, ou seja, do viver honesto, pode ser ensinada e aprendida porque a jornada do conhecimento baseia-se no conhecer a si mesmo e a aprimorar-se eticamente. O entendimento sobre a ética, ou seja, sobre o que é justo será fartamente explorado pelos discípulos de Sócrates, e de forma parecida também o fizeram os discípulos de Cristo.
No próximo artigo abordaremos, em resumo, o conflituoso processo educativo entre Platão, Aristóteles e o sofista Isócrates, pois entender o processo educativo grego te fará entender muito do que somos hoje.
Até breve!