Direto do Rio de Janeiro.
Como dito no artigo passado, o Mouseion, ou, Lar das Musas era um complexo que tinha como menina dos olhos a Biblioteca de Alexandria.
A biblioteca enviava emissários que viajavam o mundo à procura de livros e nela se praticava a Filologia, ou seja, o estudo de textos literários e registros escritos, de sua autenticidade, originalidade e significado. Isto dava garantia que os livros e textos de suas estantes não eram “fake”, assim como de “fakes” estão entupidas as “estantes” da WEB.
Por exemplo, foi do Mouseion que surgiu a primeira edição crítica de Homero, as publicações de Euclides de Siracusa em Astronomia e Geometria. O primeiro Mapa com base científica, obra de Erastóstenes, foi publicado com apoio e patrocínio do Complexo Mouseion.
Os seres se adaptam e dessa adaptação depende a sobrevivência de algumas espécies. Nós, os seres humanos poderíamos estar vivendo como os homens da caverna, mas a evolução nos chamou e o conhecimento se impôs como forma de selecionar o mais apto.
O conhecimento oral advindo da simples observação dos fenômenos naturais foi aos poucos sendo suplantado pela tradição escrita. Primeiro vieram símbolos, a escrita rupestre, os hieróglifos com seus mais de 2000 símbolos, a escrita cuneiforme e, por fim a maior de todas as revoluções, o alfabeto grego com suas 24 letras, aí incluindo-se as vogais.
A educação e o ensino tiveram seu caminho pavimentado para fluir com celeridade e aprofundamento. A escrita grega, com seus signos, possibilitou ampliar ao infinito os significados e, assim, o registro, a catalogação, a crítica da razão, de modo a construirmos um pensamento lógico, sistêmico, capaz de interligar, de conectar as mais diversas áreas do saber.
É esse saber complexo, sistêmico e universal que o Helenismo vai fomentar, contribuindo para a o surgimento exponencial de inúmeras escolas que poderiam ser abastecidas por LIVROS sobre os quais os alunos poderiam se debater. Concordar ou discordar era, apenas, parte do processo. O que importava era conhecer. Essa sede por conhecer incrementa o surgimento da Geografia, da Física, da Cartografia, Filologia e fomenta a prosperidade da Astronomia, da Gramática, da Morfologia e da Literatura.
Thomas Giles diz que com esse viés escrito, o mundo iria conhecer os mais importantes autores da antiguidade: Homero, Demóstenes, Dídimo, Eurípedes, Menandro, Platão e Tucídides.
Desejo lembrar outros cujos nomes merecem gravados na História, como: Hesíodo, Sócrates, Aristófanes, Xenofonte, Sófocles, Píndaro e Aristóteles. Estes e outros escritores e pensadores traçaram o caminho para que nosso mundo seja o que hoje é, para quem tenhamos o acesso à escrita e a leitura com a facilidade que hoje temos. Mas, o que fazemos em troca?
Quem realmente você conhece que valoriza a escrita e a leitura? Nossas escolas produzem alunos que fogem dos livros como o “diabo foge da cruz”. As redações que escrevem são repletas de erros ortográficos, semânticos, de concordância verbal e nominal.
Pessoas com as quais o sistema público de ensino e os pais gastam uma “arroba” de dinheiro para formar analfabetos funcionais que não sabem ler nem escrever e, o que é pior, costumam ter raiva de quem sabe…
O processo educativo grego foi estruturado pelo Mouseion para seguir o método axiomático-dedutivo e empírico-indutivo, cujo objetivo central é perseguir a maior compreensão do mundo físico. Entender a cabeça dos deuses já não estava mais na ordem do dia.
Agora, o homem e o mundo que habita, mais que nunca tornava-se o centro das atenções da educação e do ensino. O Helenismo está para o Império Macedônico como o hidrogênio e o oxigênio estão para a água. Não há como separar uma coisa da outra.
O Helenismo irá contribuir para fazer a fusão da cultura oriental e ocidental, para criar correntes filosóficas novas centrado em vários ideais, tais como:
– Unificação do mundo sob um só governo;
– Difusão Ceticismo, Epicurismo e Estoicismo;
– Implantação de monarquias absolutas em cada território conquistado;
– Investimento e fomento do desenvolvimento econômico de cada território conquistado;
Além da universalização pensamento, na educação e ensino é possível destacar o incentivo à pesquisa científica de Ptolomeu, na Astronomia; Erastótenes, na Geografia; Arquimedes, na Física; Euclides, na Geometria; Herófilo, na Medicina e aqueles que citamos acima.
Na arquitetura e engenharia os modelos dórico, jónico e coríntio se misturam e sobrevivem até hoje na construção de templos grandiosos e palácios cercados de parques e jardins que podemos visitar pelo mundo.
Na pintura e escultura o realismo se impõe. As estátuas parecem falar e as pinturas retratam as coisas e pessoas tais elas realmente são.
A literatura floresce na medida em que os livros se multiplicam por bibliotecas que se espalham por cidades como Pérgamo, Antioquia, e Alexandria a maior de todas. Mas, as bibliotecas estavam presentes também nos templos e em casas dos ricos.
Ter uma biblioteca em casa era sinal de riqueza e gosto pelo conhecimento, ainda que muita gente sequer lessem os livros, do mesmo modo que ocorre no mundo de hoje. Há pessoas que decoram suas paredes com livros que jamais leram…
No Mouseion da cidade de Alexandria, Egito, foi aperfeiçoado o método educativo grego criado por Sócrates, Platão e Aristóteles no século IV a.C., até o século III d.C., e cujas base, de uma forma ou outra influenciam a educação e ensino até nossos dias.
Sobre Alexandre Magno (O Grande) muito já se disse e ainda há para dizer, mas alguns axiomas são inegáveis:
1 – Entendia que a tônica da vida é a diferença;
2 – Respeitava as diferenças;
3 – Tinha apreço pelo conhecimento e entendia que ele deveria ser difundido exaustivamente.
Ao deixar seu general, Pompeu, em Alexandria encontrou um discípulo que valorizava o pensamento do Mestre. Foi assim que surgiu o Mouseion e uma das mais significativas para a educação e o ensino no mundo.
Apesar de todo o progresso que citamos, no próximo artigo procurarei demonstrar que tudo que se cristaliza deixa de ser um movimento e passa a ser um monumento. Estes tendem a contar a história do que foi, não do que é nem do que virá a ser…
Até breve!… Ou não…