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EDUCAÇÃO E ENSINO NA ANTIGUIDADE. EPISÓDIO DE HOJE: Roma, o processo educativo e de ensino na República (Parte 5)

Direto de Brasília-DF.

A forte influência do Helenismo na formação de uma nova cultura romana

Como vimos dizendo, no processo educativo e de ensino romano era inadmissível que a Família transferisse a responsabilidade da educação e ensino dos filhos para a escola, para a sociedade ou para o Estado, como há muito tempo vendo sendo feito ao redor do mundo.

A consequência desta transferência de responsabilidade é a produção de uma multidão de analfabetos e/ou analfabetos funcionais, mal educados, de dura cerviz, preguiçosos e presunçosos, que não sabem e ainda desafiam os profissionais da educação que desgastam a própria vida para ensiná-los.

Assim, o que vemos é uma multidão de ignorantes que enche escolas, mas não permitem que o conhecimento ocupe espaço em seus cérebros. Uma multidão que não entende que o mundo é um vasto cenário educacional e que a vida é um processo de educação. Eis porque os pais transmitem o vazio que possuem, os filhos são vazios, os governantes são vazios e, vazio, termina por ser o “espírito” da própria Nação.

Aqui pelo Brasil, 12,5% de seus professores são agredidos por alunos que recusam-se a obedecer, a fazer silêncio quando devem, a falar quando devem, a fazer a Lição que é dever básico. Esse tem sido, faz tempo, o cotidiano de quem vive o sonho de um dia ser professor e quando o realiza descobre viver um pesadelo, em depoimentos que escuto com frequência em virtude do ciclo de palestras que faço há quase dois anos pelas escolas públicas do Distrito Federal. E, olha que aqui quase tudo se parece com uma ilha de excelência em relação ao que se passa no restante deste país continental. Como andará essa relação nas demais capitais e interior do Brasil?

Professores, aliás, que nossa cultura como um todo (inclua aí nossas leis)desvaloriza em favor da supervalorização dos direitos da criança e do adolescente, seres de estrutura familiar frágil, de mente formada à luz do entretenimento fútil. Ontem participei de um seminário do Facebook, aqui em Brasília, e o que os instrutores dizem é que nos próximos anos a comunicação vai migrar rapidamente para que as pessoas deixem de se interessar por “textos” e fotos. A tendência é que 71% dos internautas absorvam conteúdo de VIDEO e desprezem o restante. Sabe por que? Porque estas últimas gerações não gostam de ler!

Essa informação é útil ao Mercado de produção e consumo? Claro que sim! Mas, essa informação potencializa o poder da criação em detrimento do vazio de alma? Não sei dizer o quanto, mas não tenho dúvida que a aversão pela escrita e pela leitura erm algum momento futuro nos devolverá às “trevas” de milênios atrás, pois como venho insistindo “quem mal lê, mal ouve, mal fala, mal vê”, como disse certa vez um colega escritor.

Os linguistas que apostam que o mais importante é a comunicação destituída de qualquer regra formal, não sabem cultivar o belo. Querer que o “portunhol” ou o “espanglês” ou essas misturas linguísticas quaisquer substitua os idiomas originais, só porque tal comunicação resolve o problema imediato de quem aprende o suficiente para “não passar fome” é semelhante a um aborto da escala evolutiva que nos leva ao espaço e nos devolve aos tempos das cavernas.

A evolução nos diz que demorou migrar do “Uh, Uh, Uh”, em que apontávamos com os dedos e gesticulávamos para nos fazer entender, até que conseguíssemos escrever em paredes de cavernas e em outras superfícies duráveis com signos que variavam entre 2 e 3 mil caracteres. Depois de uma longa caminhada que passou por milênios de evolução os Gregos reduziram os alfabetos de mais de 2 mil para 22 letras, ensinaram o povo um idioma culto.

Os romanos sustentaram o legado e o idioma grego juntamente com o latim pariram ou influenciaram outros idiomas maravilhosos, que se organizaram e sistematizaram em regras que nos permitem expressar sentimentos de forma esteticamente bela.

Aqui no Brasil, por exemplo, essas fusões linguísticas nos permitirem evoluir do “nóis vai” para o “nós vamos”. Até entendo e uso o moderno “É noixs”, gíria coloquial, do dia a dia de quem de vez em quando quer se levar menos a sério e se fazer entender ou aceitar. Mas, é tão mais gostoso, mais bonito quando você pode transitar entre os dois campos.

Pois bem, desde o Egito antigo (3.000 anos a.C.) que o ditado era que “alunos ouvem mais com as costas que com os ouvidos”. Posteriormente, tanto na Grécia quanto em Roma o “bicho pegava” para alunos mau caráter, desobedientes ou relapsos!

Por óbvio que o melhor é que tenham desaparecido os castigos físicos e, muito por obra de Marco Fábio Quintiliano, escritor e professor de Oratória que no Século I da era cristã, sistematiza em definitivo o processo educativo e de ensino romano e adota como fundamentos a abolição da disciplina por meio de castigos físicos, o encorajamento e a premiação.

Todavia, não há que ser ingênuo e crer que sem disciplina o ser humano prospera. A ausência de disciplina e de ordem é sinônimo de Regime Anárquico (como expliquei na série de antigos anteriores: O lema da lealdade dividida entre Nação e Estado) e o fato é que o Anarquismo não prosperou em lugar alguma do mundo, de forma estável e sustentável. Então, por que deveria ser aceito na escola?

Quanto al processo educativo e de ensino romano, Thomas Giles diz que “O elemento fundamental no processo educativo são as tradições. O pai exemplificava as qualidades que a sociedade desejava ver no aluno, tais como homem bom, piedoso, cumpridor de seus deveres, patriota, virtuoso, o homem reto e corajoso e, por fim, o homem honesto e firme de caráter sério e prudente.

Naquela cultura romana da antiguidade, aos 16 anos o jovem passava pelo ritual que o fazia migrar da adolescência ao adulto e, como símbolo dessa transição recebia uma roupa chamada TOGA VIRILIS. Daí por diante, um amigo da família, um tutor ou professor contratado vai ensinar-lhe técnicas agrícolas, de guerras, a história de Roma e também o básico da leitura e da escrita.

Naquela Roma antiga, de todas as aulas a mais celebrada era a educação física no “Campo de Marte”, o local público para praticar exercícios e fortalecer o corpo para as guerras. Luta livre, caça, equitação, natação, corrida, tudo era ensinada para fortalecer a virilidade.

As escolas formais já existentes tinham meramente função suplementar ao que as famílias ensinavam. Objetivo do processo educativo era o ensino moral e não o intelectual, o prático e não o literário, a fim de formar soldados e aristocratas(os ricos que governavam).

Esse processo educativo que existia desde o século IV a.C., só começaria a mudar com a helenização da civilização romana, pois como venho dizendo o processo educativo grego seguiria dominando o mundo até o século III depois de Cristo. Apesar de tudo não nos enganemos porque da mesma forma que é possível dizer que o Império Romano venceu pelas armas, também é preciso reconhecer que o Grego seguiu vencendo pelo intelecto.

No período que intermedeia a queda do Império Alexandrino Macedônico/Grego e o surgimento do colossal Império Romano, o que não faltou foi derramamento de sangue nas três grandes guerras púnicas (entre 264 e 241 a.C.). A civilização cartaginesa ou púnica desenvolveu-se na Bacia do Mar Mediterrâneo entre o século IX e II a.C., tendo na cidade de Cartago a capital comercial, política e militar.

Roma travou três guerras contra Cartago e após inúmeras perdas de vidas e rios de sangue derramado, “herdou” o mundo. Desde a segunda guerra púnica em que anexou a Grécia, Roma leva consigo a admiração pelo processo educativo e de ensino dos gregos, assimilando a Filosofia, Artes, Ciência, Retórica, a Gramática e outros campos da investigação dos povos conquistados. Roma não aniquilava a cultura dos vencidos.

Nesse período, Cícero, o grande orador romano chega a questionar se as apregoadas virtudes romanas (sobriedade, simplicidade e seriedade) resistiriam à cultura oriental que desembarcava em Roma. Afinal, na cidade mais cosmopolita do mundo de então, não havia nem escolas nem professores nem mestres como na Grécia, Alexandria ou Cartago. O que fazer?

Suportará Roma os ventos fortes da mudança? Por qual caminho seguirá o processo de educação e ensino?

Até breve!

 

Vista do Jardim dos Imperadores, no Palatino.

(fotos de arquivo pessoal. Viagens de pesquisa e lazer)

Ruínas do palácio do Imperador Lúcio Sétimo Severo

Ruínas do Templo das Vestais.

Próximos a todos esses lugares ou até ancorado neles,

os tutores e professores da época ensinavam seus alunos

e discípulos. 

 

 

 

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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