Direto de Brasília-DF.
Roma, a cidade bilíngue: o grego e o latim catapultam a cultura, a economia e o poder militar da República e do Império
Como vimos dizendo, o processo educativo e de ensino romano que valorizava sobretudo as tradições ancestrais, a dignidade, a autossuficiência, a ordem social e a Lei (A “Lei das Doze Tábuas”), agora volta-se também para outras habilidades como:
- Ler;
- Escrever;
- Retórica;
- Gramática;
- Literatura;
- Poesia;
- Estudo de documentos oficiais;
- Fábulas;
- Sátira Pornográficas (sobretudo o conhecimento das censuradas, pois eram as que mais divertiam os aristocratas-classe rica).
Não haviam escolas públicas, como tantas são as que hoje existem destinadas a alunos que sequer as valorizam. O processo educativo e de ensino só alcançava os filhos dos ricos/aristocratas, sem qualquer distinção entre escolar elementar, primária ou secundária e os estudos superiores só existiam para filhos de famílias aristocratas que podiam pagar professores particulares.
A terceira guerra púnica termina em 146 a.C., e a efervescência política e militar não afetava o processo educativo e de ensino romano no seio das famílias ricas. Aumenta o número de escolas particulares dentro da República e Thomas Giles diz que no ano 106 a.C., já havia uma espécie de currículo comum a essas escolas com as seguintes disciplinas: Lógica, Gramática, Retórica, Arte, Música, Dialética, Aritmética, Astronomia, Medicina e Arquitetura. Nesta época já havia mais de duas dezenas de escolas para o ensino da gramática grega e latina, só na cidade de Roma.
Os governantes da República incentivam a assimilação do helenismo e de suas ideias e com o passar do tempo, especialmente Júlio César parecia extremamente simpático ao viés helenista da introdução do DESPOTISMO ABSOLUTO que marcara o Império Macedônio de Alexandre, o Grande.
Alguns historiadores, aliás, acreditam que esse flerte com o despotismo absoluto constitui uma das razões alegadas pelos membros do Senado, para o assassinato de Júlio César em 45 a.C.. O Poder Legislativo acostumado a ter a direção da República, temia a ditadura de um só.
Os aristocratas (novos ricos) eram helenizantes. Gostavam da comédia grega de Tito Mácio Plauto, escritor satírico, por vezes acusado de ser desprezar e ser indiferente à política e de ridicularizar os deuses, porque é a isto que se presta o gênero satírico. Para identificar a hipocrisia e fazer com que ela beba do próprio veneno!
Gostavam também de escritores como Públio Terêncio Afro, outro comediante genial, autor de frases que usamos até hoje com frequência, como: “Enquanto há vida, há esperança” e “Sou um homem: nada do que é humano me é estranho”. As obras destes dois comediantes ainda hoje são encontradas na íntegra em livrarias do mundo.
Impossível não citar Caio Valério Catulo, o poeta tão apreciado e um dos que fizeram a chamada “Revolução de Alexandria” ao abandonar o velho estilo de fazer poesia e optar por versos curtos com palavras novas e sempre na busca de novos sinônimos, nessa descoberta que terminaria por valorizar o “novo”, o amor e a sedução, em uma poesia cuja preocupação era a liberdade de expressão dos sentimentos e a valorização do realismo vigente.
Esses escritores, questionados e às vezes por demais mal compreendidos estavam à frente do senso comum do cidadão romano ordinário. Ora, esperar que um pensador, um filósofo de conteúdo pense e aja igual ao comum do povo é como esperar que o sol não nasça todos os dias entre os dois círculos polares.
Aqueles pensadores greco-romanos primavam pela evolução metodológica do processo de educação e ensino, apesar da resistência das mentalidades tradicionais, indispostas a evoluir, a mudar a forma tradicional ou religiosa de pensar.
E, assim, logo após o assassinato de Júlio César o temor dos antigos aristocratas se volta também contra os novos aristocratas(os novos ricos/new rich da época).
Um escritor da época, uma daquelas pessoas que não conseguem compreender nem aceitar que a vida é um constante caminhar para frente, cujo nome é Marco Pócio Catão, apesar de considerado o primeiro escritor importante a escrever “Prosa” em latim queria que o processo educativo e de ensino romano voltasse a cultuar o homem agricultor, o médico, o guerreiro, e o jurista. Nada além!
Todavia, essa luta de Catão era tardia, pois no espírito das novas gerações a cultura helênica, que pregava o universalismo, não era mais um arbusto. Estava enraizada como um Carvalho Branco, que no início cresce pouco e lentamente porque está concentrando forças em fazer suas raízes aprofundarem no subsolo, mas que após se tornar árvore adulta, dificilmente cede a qualquer vento e assim foi o movimento helênico, tanto na República quanto no Império Romano.
Por isto foi inútil a forte resistência à helenização em Roma quer pelos Editos ou Decretos; quer pelos processos e condenações falsas de escritores, filósofos e políticos que seguiam os “ventos da modernidade”, inclusive quando as mulheres romanas entraram nessa briga e resolveram contratar tutores para aprender o idioma grego e, não só isto, passaram a comprar bibliotecas inteiras para poderem ler, escrever e informarem-se.
Contra o saber e a ciência havia revoltas e ódio. Aliás, isto não mudou porque uma das mais resistentes formas de ódio é aquele que se sente contra uma pessoa que sabe.
Os cultos nos muitos templos romanos, inclusive no Templo das Vestais possuía a mente dos fiéis que resistiam à cultura do novo processo de educação e do novo processo de ensino e aprendizagem, fundamentados no dogma, ou seja, nas verdades “absolutas” colhidas diretamente nas “árvores da superstição” e do tradicionalismo que alimentam civilizações inteiras.
É ponto pacífico que o dogma mantém certas mentes em estado inalterado, quase “vegetativo”, pois neste estado não se permite pensar, evoluir, questionar, como a ciência exige. Mas, parece haver um momento no tempo e no espaço em que a História sopra com uma força tal que, “ou vai ou racha”…
Até breve!
Fotos de arquivo pessoal:
Ruínas de: Templo das Vestais/Roma.