Direto de Brasília-DF.
O processo educativo e o currículo oculto que todo religioso carrega
Como dissemos no artigo anterior o viés do processo educativo e de ensino de Orígenes tem o homem intelectual como um modelo, a igreja como uma escola e Cristo como o paradigma ou exemplo a ser seguido, além de ser a teleologia(o fim) de todo o processo ou o modelo para cada cristão.
Esses pensamentos de Clemente e Orígenes serão bombardeados por outros pensadores, dos quais destaca-se Tertuliano (160-220 d.C) que desde a cidade metrópole de Cartago apregoava que ao cristão a fé era suficiente e que a Filosofia não passava de uma rede de contradições e intrigas.
Para Tertuliano, o cristão deveria enviar seus filhos para as escolas helenistas, mas através do culto doméstico e do ensino caseiro evitar a qualquer custo que os filhos dos cristãos assimilassem a cultura helênica.
Assim, o cristão deveria aprender ortografia, o alfabeto, o idioma grego, o latim, a filosofia e tudo o mais que representava “conhecimento secular ou mundano”, sem se deixar “levar” pelos prazeres ou tentações mundanas. Afinal, deveria ter em mente que seus livros textos eram as Escrituras Sagradas e que ela é a revelação final da sabedoria absoluta e final.
Aliás, essa relação entre o conhecimento secular e o conhecimento divino, crendo ser este o fim de todas as coisas até hoje é o que se ensina nos templos das Igrejas cristãs, nas mesquitas, em sinagogas e em qualquer sociedade teocrática de crença fundamentalista, ou seja, você está no mundo mas não é do mundo, mais ou menos como registra o evangelista João ao dizer:
“Se vós fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu, mas porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.” (João 15:19)
Este pensamento de que “estou no mundo”, mas não pertenço a ele, está relacionado com o ensinamento do evangelista João (5:19) de que “O mundo está no maligno” e que este “maligno” é o diabo, satanás.
Assim, dentro da dicotomia de que o diabo é o eterno nêmesis(adversário e inimigo) de Deus, que induz a humanidade ao afastamento do divino por meio do pecado, o que resta é criar uma espécie de “bolha cristã” na qual os cristãs caminham pelas ruas do Planeta Terra ou em breve pelo Planeta Marte (Quem sabe?!?) sem se “deixar contaminar” pelas “coisas do mundo”. O entendimento cristão é que o pecado entrou no mundo pela “transgressão de Eva, que em tese teria também corrompido a seu marido Adão.
O cristianismo absorveu da tradição hebraica o culto no lar como base do processo educativo e de ensino, no qual as famílias doutrinam a seus filhos que este mundo em nada é para comparar com a vida que os aguarda depois da morte, na “Jerusalém celestial” ao lado de Deus, Jesus Cristo e do Espírito Santo (uma santíssima trindade que aproxima o monoteísmo cristão do politeísmo helênico).
Tempos depois, com o surgimento dos templos o cristianismo criou o catecismo católico e muitos séculos depois, as eficazes “escolas bíblicas dominicais”. Ambas as escolas templárias possuem viés religioso e desde o princípio foram destinadas aos filhos dos fiéis, até que o dinheiro tornou-se o motor do desenvolvimento mundial e as diversas ordens cristãs resolveram investir pesado na construção de escolas “seculares” privadas, sob o disfarce de entidades sem fins lucrativos para lucrar muito e conquistar outra vitória, influenciar os filhos de membros de outras religiões que nelas matriculem seus filhos.
Ao final, o cristão é educado e ensinado nos cultos domésticos e templários, assim como nas escolas cristãs que devem incentivar os fiéis a se separarem do pecado que há no mundo. O conceito de pecado variou e varia de denominação para denominação, mas semanticamente significa errar o alvo.
Para algumas denominações o pecado estaria em usos e costumes como tirar o cabelo de axilas e pernas, em fumar e beber, e, no sexo, então, nem se fala. O sexo foi demonizado a ponto de alcançar as mais altas repreensões dentro do espectro religioso, sendo, inclusive, menos tolerado que qualquer pecado derivado de desvio de caráter. Neste aspecto o cristianismo se distanciou completamente do helenismo e investiu no medo e na culpa como muros entre uma suposta vida de pecado e uma vida “santa”.
A culpa e o medo constituem a base do processo de educação e ensino, juntamente com a noção da salvação gratuita dada por Jesus Cristo, ao assumir o lugar de toda a humanidade com sua morte de calvário. Segundo a teologia morreu para que todos tenham vida abundante em Deus, o seu pai.
Fato é que para os cristãos o pecado sexual chega a ser mais potencializado que o pecado relacionado com os crimes contra a vida(homicídio, etc), contra a honra (calúnia, injúria e difamação, etc), etc. É possível uma multidão seguir um psicopata que matou inúmeras pessoas cruelmente; que se converteu numa penitenciária e que aperta ao peito sua bíblia surrada tanto quanto é difícil imaginar que dê crédito a alguém que tenha cometido os tais pecados sexuais, ocasião em que termina por ser isolado psicologicamente dos demais do “rebanho”.
Essa demonização do sexo foi útil inicialmente à tradição cristã nascida no seio do Império Romano, inclusive para sustentar a doutrina do celibato, ou seja, de que os sacerdotes deveriam ser solteiros. O que poucos sabiam é que esta doutrina era uma medida de economia para os cofres dos templos, que não teriam de gastar recursos sustentando famílias inteiras.
Essa formatação mental cria consciente e inconscientemente uma cultura que acompanha o religioso, como se fosse um currículo que formata toda a cultura e modo de pensar. Esse currículo oculto segue fazendo estragos no processo educativo porque a maioria dos professores, orientadores-educacionais e outros profissionais do ensino vestem a roupa de mestres, tutores, pedagogos ou cientistas, mas levam no coração uma mensagem completamente diferente, ou seja, a mensagem religiosa na qual foram doutrinados e, assim, terminam por ensinar a “ética de sua religião”, deixando de lado, ao final, o ensino precioso do pensamento crítico-lógico e a ÉTICA, como a ciência que ensina o que é Justo.
Não perca o próximo episódio!