#ÉPERNAMBUCOEMFOCO

EDUCAÇÃO E ENSINO NA ANTIGUIDADE. EPISÓDIO DE HOJE: O processo educativo e de ensino na Tradição Cristã (Parte 1)

Direto de Brasília-DF.

 

Como tudo começou

Falar de Tradição  Cristã é falar de Jesus Cristo e de um grupo de dissidentes da Tradição Hebraica.

Não há pedagogo que tenha estudado os ensinamentos de Cristo (“Khristós”grego, ou “Christu” em latim, significa  “ungido”, que negue a eficiência e eficácia do mestre dos cristãos como professor e pedagogo. Seu sucesso, sob o ponto de vista técnico-linguístico, muito provavelmente pode ser atribuído ao uso de símiles, metáforas, aforismos, analogias e parábolas e aos diversos tipos de inteligência que possuía.

Vou dispensar a história contida nos evangelhos, crendo que você ou conhece ou algum dia terá o prazer de ler, ao menos sob o ponto de vista histórico. Após a morte de Cristo (por volta do ano 33 d.C.) e a difusão de seu evangelho (evangelho significa “boas novas”) por seus discípulos, pouco a pouco o cristianismo deixará de ser uma “seita” nascida no seio do judaísmo para se transformar em uma religião universal, como de resto toda religião deseja ser.

O maior responsável pela universalização do cristianismo foi o aposto Paulo, homem instruído em grego, hebraico e latim que, com suas primeiras pregações já no ano de 37 d.C., causou um impacto profundo na região da Judéia, Grécia, Espanha, Ásia Menor, Oriente Médio e, por fim, por todo o mundo, pois a bíblia tornar-se-á o livro mais lido em todo o Planeta Terra durante longos séculos. Aliás, a bíblia já foi lida por astronauta até fora da Terra. Que escritor não amaria que um livro seu fosse lido assim?

Dentro do processo educativo e de ensino os cristãos se debatiam entre assimilar a traição helenista com seu método crítico-lógico e a tradição hebraica como seu método das escolas rabínicas de ênfase na Torá associado a algum estudo de grego e latim. De início, alguns abraçaram o judaísmo, mas Paulo, que era helenista, encarregou-se de separar os cristãos destes dilemas, a fim de criar uma identidade própria para o processo educativo e de ensino cristão.

Notável que ao adotar o método de escrever Cartas (chamadas de epístolas), Paulo tenha se tornado o mais importante escritor cristão, quer pela quantidade de Epístolas que tornar-se-ão livros quer no conteúdo do currículo que ele mesmo cria e universaliza como “livro texto” a ser seguido pelos cristãos. Paulo escreveu 14 livros que você pode achar no Novo Testamento da bíblia, que literariamente e em razão da complexidade, quantidade de personagens e trama, poderiam ser comparados a livros de Contos ou Estórias Curtas.

Note-se a semelhança entre Paulo e Platão no fato de que seus mestres jamais escreveram qualquer coisa e muito de suas falas haverem sobrevivido graças ao registro deles.

Quanto à fé cristão que aos poucos criaria sua própria tradição importa notar que por volta do ano 45 d.C., o evangelista Marcos, companheiro de Paulo,  a introduz na cidade de Alexandria que contava com sua imensa biblioteca dentro do complexo helenista do “Mouseion”(sobre o qual já falamos em artigos anteriores).

 

O processo existencial e a eterna luta entre “dois mundos” 

Entre os anos 50 ou 51 d.C., Paulo inicia sua carreira de escritor cristão com a Carta ou Epístola aos Tessalonicenses(povo da cidade de Tessalônica, norte da Grécia), cristãos que habitavam a Macedônia.

Paulo, o apóstolo, de início preocupou-se em separar o processo de conhecimento entre “conhecimento secular, terreno ou mundano”(o helenista) e o processo do conhecimento espiritual que, assim como o judaísmo era o fim de todo o processo existencial. Se para o helenismo educação e ensino tinham por fim a existência no Planeta Terra, para o cristianismo o processo de educação e ensino têm por fim a preparação no Planeta Terra para uma vida no além, no céu, com os anjos de Deus.Exemplos de textos que exprimem essa dicotomia que vai dominar a crença dos cristãos até os dias de hoje e por séculos que virão podemos encontrar em várias das 14 Cartas ou Epístolas Paulinas e de outros apóstolos.

Vejamos algumas referências nas quais Paulo inicia um processo de separação na mente dos cristãos para que aceitem  que estão neste mundo, mas a ele não pertencem. Note, também, na transcrição abaixo que para Paulo, uma é a palavra de Deus outra a palavra do “homem”:

“Por isso também damos, sem cessar, graças a Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual também opera em vós, os que crestes. 1 Tessalonicenses 2:13

 

Porque vós bem sabeis que mandamentos vos temos dado pelo Senhor Jesus. 1 Tessalonicenses 4:2″

 

Observe que em Paulo o mandamento central de Cristo é a “santificação”, ou seja, a separação de seu povo do mundo! O mundo representa o pecado e pecado significa desvio do alvo. Assim, sendo Jesus Cristo o alvo do processo educacional e de ensino quem quer que não obedeça às suas palavras peca porque errou o alvo e o fim de quem peca é… o inferno…

Este pensamento vai fazer com que os novos cristãos aceitem o helenismo apenas em parte, abstendo-se de celebrar as mesmas festas greco-romanas, de cultuar os muitos deuses pagãos e de aceitar o processo educativo e de ensino helenista com suas disciplinas curriculares somente até o ponto em que não contrariem a crença cristã.

Entre os anos 100-172 d.C, portanto muito anos após a morte de Paulo e seu evangelho “incendiário” a pergunta dos escritores e pensadores cristãos como Taciano e Justiniano da Samaria era: Quanto à Filosofia, o que de nobre se produziu graças a ela?

Justiniano, aliás, em sua obra “Segunda Apologia” diz que procurou a sabedoria de mestre em mestre, entre estoicos, platônicos, aristotélicos, pitagóricos e o que percebeu foi que todas essas ideias existiram como uma preparação para o ensinamento “superior” que o cristianismo traria ao mundo.

Apesar deste conflito existencial helenista mundano e cristão “celestial”, para muitos cristãos formados na tradição grega helenista não havia muito diferença entre o cristianismo e o helenismo. Aliás, para um dos maiores intelectuais que viveu entre 150 e 215 d.C, chamado Clemente de Alexandria, “os filósofos gregos já eram cristãos antes de haver cristianismo”, como registra Thomas Giles e como seguiremos demonstrando nos artigos que virão.

Um abraço e até breve!

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *