Direto de Brasília-DF.
Fatos contemporâneos para Roma e para o povo hebreu
Este capítulo final sobre a tradição hebraica não deve ser dissociado do que acontecia nas entranhas do Império Romano, em razão de tantos fatos contemporâneos entre aquelas duas culturas tão distintas.
Como vimos dizendo, a República Romana já se formava por volta do ano 509 a.C e entre campanhas militares diversas será contemporânea do espólio de impérios como o babilônico e medo-persa. Testemunhará a ascensão e queda do Império Macedôneo de Alexandre, o Grande e no ano de 81 a.C., quando da Batalha de Lesbos já será reconhecida como a Superpotência que governava desde a África até a Asia.
Importante dizer que semanticamente(Semântica é o estudo dos significados) a palavra “república”é formada por duas outras palavras latinas que foram postas juntas: “res”, que significa “coisa” e “publicae”, que significa “aquilo que pertence ao Povo”. Portanto, originalmente, uma República deve ser entendida como algo que pertence ao Povo. As coisas, ou seja, todos os recursos materiais pertencem ao povo e não aos governantes, seus familiares e amigos.
Outro detalhe semântico de grande importância para nossos dias e que há muito foi esquecido é que na compreensão original do que é uma República tinha por fundamento que todas as coisas pertencem ao povo, portanto, todo e qualquer governo desse povo deve trabalhar para ele e não contra ele; todo e qualquer governo deve se ver como SERVO do povo e não o contrário(pense por exemplo no título político abstrato que nos demos: República Federativa do Brasil).
Bem, se invertemos o significado da “res publicae” e não quisemos resgatá-lo mais devemos parar e analisar quantos e quais fatores nos levaram a isto(este é um tema para uma palestra que, caso queira contratar basta ligar para: 61-99988-3929).
Fato é que a República Romana nasce por volta de 509 a.C., e vai atingir seu auge com Júlio César por volta de 49 a.C., sendo que seus planos de assunção do poder começam quando contava 19 anos de idade, ainda na Batalha de Lesbos (81 a.C).
O primeiro triunvirato romano é marcado pela aliança entre os comandantes de exército, Crasso e Pompeu Júlio César e segundo historiadores antigos e modernos como Mike Duncan (livro “The storm before the storm), não houve gênio maior que o de Júlio César.
Após a grande mentira que Pompeu prega no povo romano dizendo que ele e seu exército houveram matado o escravo rebelde Espártaco, os Cônsules Pompeu e Crasso levam Roma ao quase desgoverno, como ensina Aaron Irvin , historiador da Universidade Estadual de Murray, no Kentuchy-EUA.
Nada se fazia, nenhuma legislação passava pelo Senado, que era composto inicialmente por 300, depois foi a 600, 900 senadores em tempos de Júlio César e depois para mais de 1000, com os Imperadores que viriam, todos sugando a riqueza da Nação, dando mais trabalho que trabalhando, organizando mais esquemas de corrupção do que combatendo a ela.
Júlio Cesar percebendo que divididos nenhum deles conseguiria seus intentos, os convoca para selarem uma coligação”em que os dois o elegem Cônsul de Roma e ele fará com que o Senado aprove orçamento para pagar os soldados de Pompeu, inclusive com doação de terras aos soldados, e diminuição de impostos e taxas que beneficiem a riqueza de Crasso.
Em 59 a.C., após conceder Júlia, sua única filha, em casamento como outra exigência e Pompeu, este e Crasso tornam César, Cônsul de Roma, cargo que estava acima do próprio Senado, comparável do cargo de Presidente de uma república, nos dias de hoje.
O Cônsul era o chefe do Poder Executivo, o poder supremo em Roma, como ensina o escritor Barry Strauss. Estava formado o primeiro Triunvirato(governo de três), o que parece com o que vemos hoje em todas as partes do mundo. Partidos políticos que se unem para formar uma coalizão de maioria para governar determinado país. Foi assim que os três enriqueceram excessivamente, mas não sem a tensão que o governo com “mão de ferro”, violento, de César passou a criar entre eles.
Pompeu e Crasso aproveitam o medo e insatisfação do Senado e convencem que César deve ser substituído no cargo de Cônsul. Essa armadilha que tramam dá certo e César se vê obrigado a se retirar de Roma e voltar aos campos de batalha. É assim que se tornar um conquistador e retornará como o maior de todos os comandantes dos exércitos de Roma.
César decide conquistar a Gália e suas muitas tribos, que em meio ao assalto do exército de César, se unem finalmente sob a liderança de um líder tribal chamado Vercingétorix, na Batalha de Alesia(52 a.C), vencida por César.
Após este feito, César decide voltar à Roma para reclamar o poder. Ainda assim, Pompeu e os Senadores decidem, como meio de mantê-lo afastado, prendê-lo e julgá-lo sob acusação de invadir a Gália sem autorização do Senado. Jamais serão amigos outra vez e César decide marchar com seu exército para tomar Roma, acampando às margens de um riacho chamado Rubicão, já na fronteira entre Gália(atual França) e Itália.
Cruzar o Rubicão seria abraçar a rebeldia, deixar de lado todas as dúvidas e marchar para tomar seus sonhos ou ser morto ou banido para sempre. Foi assim que em janeiro de 49 a.C., César e seu exército marcham contra Roma. O Professor Corey Brennan da Uiversidade Estadual Hutgers, de Nova Jérsei-EUA, diz que a expressão que até hoje usamos, “cruzar o Rubicão” significa “não tem mais volta”. Daí em diante Pompeu e vários senadores fogem de Roma por temer a morte sob o governo daquele que para mim foi, de fato, o primeiro imperador romano.
Reconstrução e destruição do Segundo e último Templo de Jerusalém, a diáspora e a pequena abertura para a secularização do processo de ensino
Enquanto isto, a Palestina efervescia com o domínio político e militar romano, o domínio religioso hebreu.
As dissenções na Judeia não agradavam o governo da República de Roma, que na tentativa de apaziguar a situação política e religiosa, nomeara um governador romano e fazia “vista grossa” ao funcionamento dos cultos hebraicos com sua organização político-religiosa repartida entre as classes dos fariseus, essênios e saduceus, que eram religiosos, mas também políticos que governavam sobre o povo hebreu.
Como vimos dizendo nos artigos anteriores, Herodes entrou para a história como um político e administrador eficiente do território da Judeia, que em razão dos embates religiosos com a tradição hebraica era um dos mais difíceis de ser administrado tanto pela República quanto pelo Império Romano.
Para agradar a todos Herodes fez construir templos pagãos na Judeia, mas para não causar somente descontentamentos também reconstruiu o segundo templo de Jerusalém.
O historiador Josefo registra que quando doente e pouco antes de sua morte Herodes determinou a sua irmã Salomé que após sua morte aprisionasse no anfiteatro da cidade de Jericó e mandasse matar à flechadas, os 300 nobres mais importantes de seu reino.
Por que o fizera? Por rancor dos vivos ante sua morte iminente? Por vingança contra os nobres de seu tempo que à semelhança da maioria dos de hoje alimentam-se da ganância e do equívoco de pensar que durarão para sempre? Não sei dizer e ainda não conheço uma tese final sobre o tema. O que os “Evangelhos”e a história registram é que Herodes passou para a história como déspota.
Roma jamais deixou de ser fustigada pelo povo hebraico. Nem durante o tempo da República, nem tampouco no nascente Império, oficialmente proclamado em 27 a.C., com Otávio Augusto, que assumira o poder muito tempo depois do assassinato de seu tio Júlio César, em 15 de março de 44 a.C., por um grupo de senadores liderados por Brutos, filho de Servília, amante a quem César houvera dedicado amizade e ajudado na formação política e filosófica de Brutos.
A antipatia romana seguiu uma crescente desde o ano 70 a.C., até o ano 70 d.C., quando o comandante militar Tito Flávio César, filho do Imperador Vespasiano foi enviado por seu pai para pôr fim à “guerra” judaico-romana que se passou entre 67 e 70 d.C. Tito arrasou a cidade de Jerusalém, destruiu o Templo e deu início à diáspora, ou seja, o movimento que espalhou os judeus pelo mundo.
Agora, parecia mais difícil preservar a identidade de povo “escolhido por Deus”, seguidor da Lei de Moisés e praticante de inúmeros rituais religiosos. Como fazer isto no meio de tantos pagãos pelo mundo afora?
Durante a diáspora sedimenta-se a crença de que mais que nunca, ser judeu era aceitar a Lei e obedecer suas prescrições. Só assim, o povo disperso pelo mundo poderia manter intacta sua identidade, já que não possuíam mais território nem governo soberano.
Após a destruição do templo, os Sacerdotes foram substituídos pelos Rabinos (líderes nas Sinagogas espalhadas pelo mundo), sendo responsáveis por desenvolver a tradição mosaica “fora da Torá”, como ensina Thomas Giles.
Nas escolas rabínicas o aluno aprendia a arte da tradução da Torá para os idiomas Grego ou Aramaico e também, um pouco de filosofia e literatura grega.
Em Jerusalém haviam escolas rabínicas que funcionavam como Centro de Ensino Superior com ênfase em pesquisas individuais (parecido com o que fazem as universidade dos EUA). Essa “helenização” causou conflitos entre as classes governantes dos judeus, os Fariseus(fundamentalistas) e os Saduceus(helenistas).
Os séculos passaram e a diáspora seguiu seu curso. No mais, a história relata inúmeras perseguições, sofrimentos indizíveis que o povo hebreu sofreu ao redor do mundo desde o ano 70 d.C. até nossos dias. Lembro, aqui, especificamente a Segunda Grande Guerra Mundial, época recente em que Hitler mandou exterminar mais de 6 milhões deles, em um genocídio que ficou conhecido como Holocausto (visitei o campo de concentração e extermínio de Auschwitz, em Cracóvia-Polônia, e já publiquei fotos e escrevi em artigos anteriores)
Saiba, também, que o estado moderno de Israel, criado em 28 de maio de 1948, tendo como última palavra para sua criação o voto do chanceler brasileiro Oswaldo Aranha, possui hoje um processo educativo e de ensino dos mais avançados cientificamente, mas para aquele hebreu que continua esperando o Messias, o processo educativo e de ensino segue sendo o mesmo cultivado no cativeiro babilônico, porque como diz Thomas Giles o povo hebraico cultor da Torá segue tendo em mente que “O estudo do corpo de conhecimentos que vai desde as disciplinas básicas até a Filosofia e as Escrituras leva, através da contemplação, à meta final de toda a sabedoria, que é: a visão de Deus.”
No próximo capítulo iniciaremos a escrever sobre o processo educativo e de ensino na Tradição Cristã. Siga-nos aqui e nas redes sociais: judivan.j.vieira(Facebook, Instagram e Linkedin).
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Até breve!
Fotos de arquivo pessoal:
A Menorá, símbolo dos mais importants do judaísmo,
sendo carregada pelos soldados romanos.
Coluna do Arco do general Tito Vespaziano,
que destruiu o segundo Templo de Salomão.
Arco erguido em homenagem ao general
Tito, no ano 70 d.C., em Roma.