DO INFERNO AO CÉU E DO CÉU AO INFERNO: O TURISMO NO BRASIL

Direto de Porto de Galinhas, Ipojuca-PE

 

Não vá pensar que quero me exibir ao dizer que já viajei por três continentes e, neles, por quase três dezenas de países, sempre procurando ficar nas cidades o máximo de tempo possível para conhecer os roteiros turísticos e os não turísticos, para entender um pouquinho da cultura local. Simplesmente, amo a diversidade.

Amo o Brasil, como poucos realmente o amam e não fujo das comparações sobre sermos o eterno país que não consegue dar saltos de desenvolvimento tecnológico, que vive de retrocessos ao avançar um passo e dar dois para trás nas questões sociais e econômicas.

Somos um país de língua política afiadíssima, de discursos cheios de pompa, de “adoração” cega dos “bons ladrões”, do rouba, mas faz, da guerra partidária em que cada um leva o seu durante 4 ou 8 anos, e depois que sai do governo deixa o máximo de rombo financeiro para o próximo governo cobrir, sempre torcendo para não conseguir e assim o anterior possa retornar com as mesmas promessas vazias com as quais foram eleitos anteriormente, pelo mesmo eleitor apaixonado e indolente.

Há, em meio a tudo isto, uma indústria que os governos municipais, distritais, estaduais e federal, que pode servir de alavanca para financiar projetos públicos e é ignorada de forma bestial pelo poder público: o turismo.

O turismo é uma indústria quase não poluente, de energia quase totalmente limpa(sol e lua) e que, caso cuidada, produz rendimentos contínuos o ano todo, com um mínimo de gasto de manutenção. Veja os 10 países que mais arrecadavam com a indústria do turismo até 2018:

1 – Estados Unidos: US$ 210,7 bilhões

2 – Espanha: US$ 68 bilhões

3 – França: US$ 60,7 bilhões

4 – Tailândia: US$ 57,5 bilhões

5 – Reino Unido: US$ 51,2 bilhões

6 – Itália: US$ 44,2 bilhões

7 – Austrália: US$ 41,7 bilhões

8 – Alemanha: US$ 39,8 bilhões

9 – Macau: US$ 35,6 bilhões

10 – Japão: US$ 34,1 bilhões

Já estive em mais da metade(em alguns deles várias vezes) desses países e sempre fiz e até publiquei algumas comparações entre a capacidade turística deles e do Brasil(veja em meu canal do YouTube: Escritor Judivan Vieira).

Cada um desses países possui méritos e belezas naturais únicas. Mas, convenhamos que o Brasil tem algumas variáveis que são melhor controláveis, como, por exemplo, incidência de terremotos, tornados violentos, tsunamis, guerras, explosões e vazamentos nucleares, etc.

Então, por que o turismo brasileiro deixa tanto a desejar em inúmeros aspectos? Em 2022 o Brasil faturou apenas 208 bilhões de reais, o que hoje seria o equivalente a 420 milhões de dólares norte-americanos. Uma miséria, uma miséria, uma miséria, comparando com os 10 países anteriormente citados e, principalmente, com o que poderíamos arrecadar, se:

1 – o poder público não fosse tão negligente com o turismo.

2 -as companhias aéreas não fossem tão gananciosas nos preços das passagens e tão mesquinhas para ficarem servindo bolachinhas e sequilhos ridículos com refrigerante ou água, nos voos.

3 – se os ambulantes não estivessem criando uma verdadeira máfia nas praias: hoje você chega e paga 80 reais para ter direito a sentar sob um guarda-sol(quase não há mais espaços para você sentar livremente nos bancos de areia da praia, que é pública de Direito, mas não o é de Fato). Saiba que se você sentar sob o guarda-sol, é OBRIGADO A CONSUMIR naquela barraquinha, cujos preços de um peixe qualquer são semelhantes ao que paga em um restaurante de primeiríssima qualidade no centro de Nova York. E, pior, os 80 reais para poder sentar é o preço do petisco mais barato. Olha, esse negócio de só poder sentar pagando e ainda por cima só poder consumir daquela barraquinha é VENDA CASADA, PROIBIDA PELO CÓDIGO DO CONSUMIDOR. Mas, e daí, se o poder público deveria, mas não fiscaliza e a mentalidade do barraquista ou quiosqueiro é tirar tudo que pode do cliente?

4 – Se nossas estradas não fossem tão esburacadas, tão caóticas, que neles o turista vai do inferno ao céu, mas na volta do passeio se sente outra vez passando longamente pelo inferno.

É assim, por exemplo, aqui no município de Ipojuca, com cerca de 90 mil habitantes, formado por 4 subdistritos, sendo o mais famoso, Porto de Galinhas. O Estado de Pernambuco já está “diminuído” turisticamente pela questão dos tubarões e descuida de forma absurda da infraestrutura turística. Termina fazendo festa com 2 reais, quando poderia fazer com 10.

Se você pega um pacote turístico de Porto de Galinhas para visitar Maragogi-AL(algo tradicional), você tem que passar por estradas como as que levam à praia de Muro Alto, um inferno com vários diabos a cada esquina. Falta asfalto, há perigos na estreitíssima e super esburacada estrada, há curvas mal sinalizadas a cada 200 ou 300 metros, no trajeto noturno a escuridão causada pela falta de iluminação pública é um chamamento a acidentes graves.

Quando você sai do hotel ou pousada, pela manhã, o humor e a expectativa da chegada é a de quem vai para o paraíso. Logo, é de se esperar que os múltiplos infernos pelos quais tem que passar no trajeto são toleráveis. Neste caso, até mesmo uma foto com um dos diabos que estão eternamente parados no caminho, parece valer a pena, já que a mente está no possível paraíso que vai visitar, e alguns, como Maragogi-AL, são paraísos mesmo.

Mas, quando chega a hora de voltar e o turista mergulha no inferno dos transtornos pelos quais passou na ida, o humor vai lá para baixo e acaba se perguntando como é possível os políticos brasileiros serem tão, tão, tão, tão distantes de seres humanos com um mínimo de inteligência para saber que você não pode querer ganhar o dinheiro e perder o cliente.

Quem só pensa em ganhar o máximo que pode do dinheiro de alguém, e perde esse alguém como cliente, perde a fonte perene que o alimenta a curto, médio e longo prazo.

Conheço o Brasil de sul a norte e posso dizer que essas mazelas são recorrentes em todos os lugares que visitei. Poder Público? Vai ser burro assim na “caixa prego”, na “caixa bozó”, como dizia minha mãe, paraibana, roceira e sábia.

5 thoughts on “DO INFERNO AO CÉU E DO CÉU AO INFERNO: O TURISMO NO BRASIL

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