DR JUDIVAN VIEIRA

DIÁRIO DE BORDO. ANO 2020. DIRETO DE UMA ESCOLA DA CIDADE DE PLANALTINA-DF/BRASIL. PLANETA TERRA TOMADO PELA PANDEMIA DA COVID-19. A PROFESSORA GEVANI SILVA: FIM DOS REGISTROS DE BORDO

 

Segunda-feira, 14 de setembro de 2020.

Mais um dia se inicia e com ele, esperanças de dias melhores. Após acessar a plataforma, entrar na sala e acompanhar as devolutivas e comentários das atividades do dia, atualizei minha planilha de acompanhamento dos trabalhos realizados pelos alunos, referente à semana anterior, fazendo as devolutivas, registrando aqueles que não fizeram e enviando mensagens aos seus responsáveis. Enviei mensagens por WhatsApp com indicações das páginas da apostila e do livro da semana, para os alunos que não acessam a plataforma.  Estou bastante preocupada, pois, não estão dando o retorno esperado.

Assim, ao longo do dia, houve trocas de mensagens e interações com as famílias. Os relatos são os mais diversos, desde a falta de “internet”, a problemas de ordem emocional com o aluno ou na família. Como é o caso de um aluno que não acessa a plataforma, realiza apenas atividades impressas, todavia, não está fazendo isso com a frequência necessária há muitos dias, A mãe do aluno diz que não sabe o que fazer, pois, ele está resistente e apresentando problemas socioemocionais, aliados a dificuldades de ainda não saber ler e o tempo que ela não tem de acompanhar de forma sistemática a criança desenvolvimento das atividades.

Apesar de procurar ser bastante flexível e entender a posição de cada um, suas dificuldades e anseios, muitas vezes, fico apreensiva, ao reconhecer que não está ao meu alcance resolver muitas questões.

Dando continuidade a rotina de trabalho, planejei e produzi conteúdo para as aulas, procurando considerar, vários fatores, como: alunos com dificuldades de aprendizagem, atividades mais atrativas e diversificadas, com jogos, vídeos, etc.

Às 19h, programei a aula do dia seguinte e fiz o atendimento “online” e individual de um aluno que apresenta muitas dificuldades de aprendizagem, para realizar com ele algumas atividades interativas especificas, com orientações também a família. Este foi o único horário possível, após a mãe chegar em casa do trabalho.

Sempre me coloco à disposição para atender os alunos, as famílias, com orientações, envio atividades e vídeo adicionais de recuperação contínua, que irão favorecer o desenvolvimento de alunos com dificuldades. Entretanto, nem sempre é possível atingir da forma adequada, pois, os alunos com mais dificuldades, são aqueles que enfrentam problemas de internet, celular, falta de tempo ou até mesmo interesse da família em acompanhar melhor a vida escolar da criança. Estou sempre procurando ouvir os pais, refletir minhas ações pedagógicas e repensando melhores alternativas que facilitem e sejam mais eficientes na aprendizagem. Porém, percebo que é um desafio muito grande, pois, os fatores que interferem na totalidade do processo, são diversos.

 

Terça-feira, 15 de setembro de 2020.

Hoje foi o dia de atender de forma online mais um grupo de alunos pelo Google Meet. Após a acolhida, com mensagem para os mesmos, a fim de gerar um ambiente confortável, conversamos um pouco sobre as dificuldades deles, o que gostavam e o que tinham mais dificuldades nas aulas da plataforma. A fala de um aluno, que começou a acessar e utilizar recentemente a plataforma, me deixou bastante comovida e reflexiva. Ele falou: “Ah! Tia, a plataforma é para os alunos inteligentes.  Direcionei a conversa, procurando motivar não só a ele, mas todos os que estavam participando, refletindo sobre as diferenças e capacidades de cada um, reforçando a importância do hábito de estudo e dedicação.

Eles e as famílias, relataram conquistas e algumas dificuldades, que me ajudarão planejar e direcionar as próximas atividades, assim como permanecer com algumas, como os vídeos criados por mim, com explicações de conteúdo e atividades, correções, que ressaltaram gostar muito.

Percebo que a maioria dos alunos se adaptaram bem a plataforma e atividades interativas, porém, sempre ressaltam que preferem as aulas na escola, devido aos colegas, da professora, das brincadeiras, etc.

A aula com foco na leitura e escrita, em pequenos grupos, também, me mostrou caminhos a seguir, para direcionar atividades mais favoráveis ao desenvolvimento dos alunos, quais necessitam de mais intervenções individuais, quais estão avançando e quais estão com mais dificuldades.  É muito difícil alfabetizar somente através do ensino remoto. O ideal será quando pudemos unir ferramentas digitais para todos os alunos, sem exclusão, nas aulas presenciais.

Outro apontamento que quero ressaltar hoje, é sobre a privacidade, me peguei pensando nisso durante o atendimento “online” dos alunos. De repente, invadimos a casa dos alunos, a privacidade das famílias e a nossa também.

Minha rotina diária continuou, com acompanhamento das atividades da plataforma, trocas de mensagens com os pais (dúvidas e envios de anexos nas atividades), produção e programação de conteúdo para as aulas, registro do diário de classe, etc. Alguns pais não conseguem enviar as fotos das atividades como anexo na plataforma, terminam tendo que enviar no meu celular pessoal. Ou seja, a maior parte do dia, dedicados ao trabalho.

 

Quarta-feira, 16 de setembro de 2020.

Iniciei minha rotina de trabalho hoje, com produção de atividades, gravações de videoaulas, acompanhamento e programação de atividades na plataforma, seguidas de mensagens para os pais dos alunos que não acessam a plataforma e não dão retorno das atividades de seus filhos. Quando consigo falar, alguns pais e mães informam que os filhos estão fazendo as atividades e irão enviar as fotos, mas também relatam desmotivação, preguiça e problemas emocionais dos alunos.

Mais uma vez, me coloquei à disposição para tirar dúvidas e orientar no que for necessário. Não tem como não se sentir frustrada ao não conseguir atingir meus objetivos.

O que não posso é deixar que o aluno perca o vínculo com a escola, a vontade e a motivação para aprender que as dificuldades encontradas por ele e família, não implique em desistir, porque se isto acontecer, trazê-los de volta, é sempre mais difícil.

Além do trabalho dobrado na preparação das aulas, gravações de videoaulas, intercambio de tarefas a enviar e receber dos alunos, contato com a família e com a própria instituição de ensino,  é necessário considerar as tentativas de atender a todos os alunos, incluindo ajustes da aprendizagem. Tudo isto me abala emocionalmente, e creio que também para meus colegas de trabalho. Afinal, somos seres humanos e também vemos pessoas morrerem em nosso ciclo,  nos preocupamos com o cenário e avanço da Covid-19 no Brasil, com nossa família, com amigos  e conhecidos que precisam de nós e de nosso apoio.

As aulas remotas, antecipam um tempo de inovações e o uso cada vez mais intenso de ferramentas tecnológicas, em sala de aula. Evidencia velhos problemas como a desvalorização do professor e a formação inadequada para lidar com os novos recursos e situações de ordem emocional.

Enfim, caro DIÁRIO DE BORDO, fica aqui o registro de parte de minha rotina diária como professora, minhas experiências e sentimentos.

O trabalho coletivo com a escola, com os colegas de trabalho, com a família tem ajudado bastante. As trocas, interações e parcerias estão sendo fundamentais para que eu possa prosseguir fazendo a diferença na educação, mesmo diante deste terrível cenário da Covid-19, neste ano de 2020, a exigir a desconstrução e reconstrução de pessoas, instituições e metodologias de trabalho. Quando tudo for história, espero que esses relatos sirvam como uma pequena luz…

 

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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