DR JUDIVAN VIEIRA

Dia de Zumbi e da consciência negra. Precisamos superar o discurso hipócrita da igualdade e focar no respeito pelas diferenças!

Direto de Brasília-DF.

A discussão do racismo parte sempre de fatores sociais, políticos, econômicos, religiosos, culturais, e quaisquer outros que estabeleçam relação de inferioridade do grupo étnico formado pelos negros.

O racismo deveria ser abordado primeiramente do ponto de vista científico. Mas, as pessoas preferem a polarização política, a quantificação econômica, a mistificação religiosa. Esses discursos revelam nosso desprezo pela ciência. Afinal, a verdade tem sabor amargo e indesejável quando põe fim a mitos e fábulas que alimentam a engrenagem fantasiosa da ignorância que sustenta o império politico, religioso e econômico.

Das aulinhas de ciências em nosso ensino fundamental é possível lembrar de professores(as) de biologia falando de genótipo e fenótipo, que pessoas com pele negra, devido à alta concentração de melanina na pele têm maior vantagem que os de pele clara, em relação à exposição a raios solares ultravioletas.

A professora de biologia sempre dizia a quem não fugia da aula, mesmo quando presente, que quando ocorre um defeito genético na produção de melanina a consequência é o albinismo, que é uma anomalia transmitida pelos genes dos pais, portanto, hereditária.

Há muitas notícias pelo mundo sobre casais inter-raciais com filhos de cor diferente, e que por mais que seja raro ocorre de negros casados com pessoas brancas gerarem filhos gêmeos, sendo um de cada cor (veja foto ao final).

Voltando às aulinhas de biologia, as professoras  procuravam explicar bem resumidinho que os genótipos são os genes que nos formam e os fenótipos são as características superficiais que adquirimos e que são modificáveis pelo meio ambiente em que vivemos. Genótipo, portanto, são informações genéticas interiores que já estão programadas em nossas células versus a aparência externa que adquirimos e que são os fenótipos. Por exemplo, o genótipo da pessoa branca é ser branco, mas se ficar exposta demais ao sol pode ficar vermelha feito o papo de um peru, ou a crista de um galo.

Sinto falta de artigos de professores(as) de biologia porque são eles que detém a maior parte da verdade conhecida sobre este tema. Mas, do pouco que lembro de minhas aulas, é que o genótipo diz repeito às características do DNA dos organismos vivos, portanto é algo do interior dos genes, enquanto os fenótipos dizem respeito às características observáveis externamente, em todo e qualquer ser humano, tais como cor dos olhos, cabelos, etc.

Eis porque não me conforme com discussões rasas, de ideologias políticas, religiosas ou econômicas.

A religião, por milênios, atribuía a cor  da pele negra a uma maldição lançada por Deus, tese sustentada por intérpretes do livro de Gênesis, capítulo 9, especialmente os versículos 25-26.

Por exemplo, “os clérigos Robert Jamieson, A. R. Fausset e David Brown, em seu comentário bíblico, asseveram: “Maldito seja Canaã — esta maldição se tem cumprido na . . . escravização dos africanos, os descendentes de Cão.” — (Comentary, Critical and Explanatory, on the Whole Bible)

O Papa Pio IX, cujo pontificado se deu entre 1846 e 1878, não teve o menor pudor histórico ou ético, ao instituir uma indulgência aos negros, com sua famosa oração em favor dos “desgraçados etíopes da África Central, para que o Deus Todo-poderoso remova inteiramente a maldição de Cã de seus corações”.

A “Enciclopédia Judaica” registra que em tempos passados, rabinos judeus ensinavam que “O descendente de Cã (Cus) tem pele negra como castigo por Cã ter tido relações sexuais na arca.”

Toda essa profusão de tolices religiosas até hoje segue sendo defendida por ignorantes cujo egoísmo de um paraíso particular, reflete o ódio e não o amor, a sede de poder que escraviza, e não o respeito pelas diferenças. A igualdade, para essas pessoas, só deve existir entre quem professa o mesmo credo. Diferiu, então é digno do fogo mais ardente que algum inferno puder produzir!

Do ponto de vista do fator político e econômico, que são os dominantes na maior parte do mundo(excetue poucos regimes teocráticos, como os islâmicos loucamente radicais, nos quais a religião se sobrepõe a tudo, e se transforma em um miserável chicote castigador de quem pensa diferente, caso do Irã e outros), o racismo sempre esteve em favor dos brancos colonizadores, que enxergaram nos negros africanos uma “commodity”, ou seja, uma mercadoria com valor econômico.

Em 30 de julho de 1619 a democracia nascia nos EUA através de uma assembleia realizada por George Yardley governador da cidade de Jamestown, a primeira colônia inglesa estabelecida na América do Norte.

O mesmo homem, George Yardley, que segundo o documentário do Smithsonian Channel  é o pai fundador da democracia note-americana, estabelece a escravidão dos negros, pois apenas uma semana após a assembleia democrática, um navio inglês por nome “White Lion”(Leão Branco), que havia sequestrado quase 30 negros de um navio escravagista português, os levou para o porto em Jamestown e os vendeu ao governador.

Em Jamestown os quase 30 negros angolanos tornam-se a primeira de muitas levas de escravos que mancharão a história dos EUA até hoje, e a julgar pelo processo de educação e ensino que adotam, por muito ainda seguirá manchando

Essa história de escravidão e discriminação norte-americana, a que o presidente Abrahan Lincoln tentou impedir com a proclamação da emancipação dos escravos em 1863; que Martin Luther King tentou colocar fim, entre 1960 e 1969, luta tão bem simbolizada por seu discurso de 1963, “Eu tenho um sonho”(I have a dream), segue sendo escrita com sangue, terror e ódio até agora.

Brasil e Estados Unidos, por exemplo, ocupam a primeira e segunda posição dentre os países como o maior número de negros fora do continente africano. Ainda assim, nossas sociedades se digladiam cotidianamente, tendo como armas o hipócrita discurso político, religioso e econômico da igualdade democrática ou, no caso da religião, da irmandade fundamentada na aceitação do mesmo dogma e da mesma forma religiosa de viver.

A hipocrisia de nossa sociedade já não engana mais a quem pensa minimamente sobre ela. Até quando vamos tentar nos esconder atrás do discurso hipócrita da igualdade democrática, se nossas práticas provam dia-a-dia que nossas diferenças são sempre tidas mais em conta que o valor de sermos humanos? Para que seguir ignorando que a realidade é que somos todos diferentes, até de nós mesmos?

Eis porque em meu ciclo de palestras voluntárias, que já alcança mais de 15,000 alunos da rede de escolas públicas do Distrito Federal, insisto que mais profundo e significativo que pregar igualdade democrática é educar e ensinar o RESPEITO PELAS DIFERENÇAS.

Hoje é o DIA NACIONAL DE  ZUMBI E DA CONSCIÊNCIA NEGRA, como determina a Lei 12.519/2011. Aliás, não adianta querer fugir da discussão de que “Francisco”, o verdadeiro nome por trás do apelido “Zumbi”(que significa fantasma), é apontado por vários historiadores brasileiros como um escravagista. Basta pesquisar um pouco que verá que interesses políticos de poder e dominação falavam mais alto.

A hipocrisia empurra a sociedade a falar muito de igualdade democrática, tanto quanto a agir de forma preconceituosa e discriminatória, seja à luz do dia, seja na calada da noite, nesse paradoxo cíclico entre o que dizemos ser e o que realmente somos.

Se começarmos a educar e ensinar as novas gerações de filhos e alunos, que a beleza da vida está nas diferenças, pois esta é a tônica da vida no planeta e fora dele, poderemos sentar todos juntos à mesa da existência, e parar de enfatizar que a cor de nossa pele, a religião, a procedência, a opção de gênero, dentre outros fatores, nos faz melhores ou piores. Enquanto isto não ocorre, o lugar de fala pertence a todos que não se conformam com injustiças.

 

Gêmeas de cores diferentes

As gêmeas. fontes: https://www.mdig.com.br/?itemid=14191

https://cidadeverde.com/noticias/30527/casal-ingles-tem-gemeos-de-cores-diferentes-pela-segunda-vez

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *