Direto de Clarksdale, Mississipi-EUA
A palavra “crônica” vem do idioma grego antigo e deriva diretamente do deus “Cronus”, o deus do tempo, um deus que teria gerado a si e que devorava seus próprios filhos para que nenhum passado seu o pudesse superar.
Será que é por isto que todos os dias de “ontem” se perdem e os quem perde nada mais consegue mudar? Não sei, mas nesta série pretendo explorar o gênero literário das Crônicas, talvez o mais utilizado no jornalismo e que meu escritor norte-americano preferido Mark Twain tanto apreciava.
Crônica nada mais é que uma narrativa de fatos em sequência temporal(afinal, deriva da palavra “Cronus”) em que o narrador não se priva de fazer juízo ético, ou seja, ele valora os acontecimentos.
Sendo assim, vamos aos fatos!
Havíamos chegado nos EUA na sexta-feira, tarde do dia 8 de março, DIA INTERNACIONAL DA MULHER. Já no desembarque deixamos agendado como necessidade imediata comprar planos telefônicos para os celulares. Afinal, linguagem é uma coisa e comunicação pode ser outra bem diferente. Por exemplo, quando estivemos no Egito, via placas, cartazes e ouvia pessoas falando, mas como não sei o idioma árabe, havia linguagem, mas não comunicação. Em qualquer circunstância necessitamos estar conectados, sobretudo eu e Lily.
Saímos do Aeroporto Internacional de Orlando(MCO) e fomos direto para um hotel, na cidade de Kissimme, próximo a Orlando, Flórida. Descansados, na manhã de sábado chamamos um UBER que nos levasse ao shopping “Florida Mall” para comprarmos um plano telefônico de cobertura nacional.
Assim que o aplicativo encontrou, o motorista avisou que o senhor Stradivarius estava a 2min de distância. Pensei que pelo nome seria cidadão grego ou italiano, mas logo que abri a porta do carro ele mandou um “Buen día” caloroso e nossa latinidade falou mais alto.
Acho a Lily mais inteligente que eu, em vários aspectos. Ela normalmente não conversa, trata os ambientes e pessoas estranhas muito profissionalmente. É calada e isto não é só por não falar o idioma. Ela é assim. Quem a vê comigo, sorrindo, brincando, me chamando por mil e um apelidos, não faz ideia de como é ao encarnar o papel de advogada ou com circunstâncias e pessoas estranhas.
Vou logo falando e tentando abrir estradas de comunicação porque meu cérebro fica me dizendo que a cada metro percorrido posso aprender alguma lição, trocar uma ideia cultural. Acabo pagando micos por onde viajamos, mas prefiro seguir correndo meus riscos calculados e sorrir até de mim mesmo.
Assim que entrei no veículo, perguntei ao senhor Stradivarius onde nasceu, há quanto tempo vive nos EUA, o porquê de haver deixado seu país, tudo como forma de apressá-lo nas respostas, já que oferecera perguntas específicas. Ele olhou para mim pelo retrovisor interno e notou que meu interesse também girava em torno dessa maldita gangorra social e econômica em que vive nossa fantasiosa América Latina.
Ele explicou que nasceu na Venezuela; que viu Hugo Chaves assumir o poder em 1999 e daí em diante com seus inúmeros e eternos discursos diários na TV apontar Maduro como seu legítimo sucessor, caso algo lhe acontecesse. Explicou que Chaves fez o caminho de todo ditador comunista e socialista ao investir pesado em propaganda para deificar sua imagem de amigo e “salvador” do povo.
Stradivarius seguiu narrando, dizendo que Chaves eliminou a oposição política, estatizou todos os canais de rádio e TV para garantir que as pessoas que pensam diferente não tivesse meio de se manifestar; fortaleceu o papel dos sindicatos de seu esquerdismo político, totalmente baseado nas utópicas e falidas ideias cubanas de Fidel e seu parceiro argentino Che Guevara, e depois de seu irmão e sucessor imediato, Raúl Castro.
Interrompi a ele rapidamente para dizer que havia estado em Caracas, em 2011, dois anos antes da morte de Chaves, fazendo pesquisa sobre corrupção política como parte do material que integra minha enciclopédia “COLEÇÃO CORRUPÇÃO NO MUNDO”; que tive muita dificuldade para conseguir pesquisar junto ao Poder Executivo e Judiciário e que “por baixo dos panos” é que consegui informações e material com uma pessoa no Poder Legislativo, a quem prometi não revelar o nome.
Stradivarius disse-me que Chaves fez o esperado de todo ditador. Eliminou a autonomia dos Poderes, os quais ele e Maduro unificaram sob seu comando, ao mesmo tempo, me fazendo uma pergunta retórica: – Afinal, não é isto que é comunismo e socialismo?! Stradivarius narrava os fatos sempre enfatizando autoridade intelectual e o fato de descrever a situação que vivem em seu próprio país, do qual terminou por fugir em meio a tanta miséria social e econômica.
“Hermano”, onde já se viu alguém querer fugir de um paraíso? Perguntou-me retoricamente pela segunda vez e seguiu narrando. – Essa não é a lógica da vida. Paraíso é sonho e destino desejado por todo ser humano! O comunista, socialista-boliviariano, do Chaves e seu discípulo, o Maduro, vendem aos ingênuos a ideia que o regime deles é um paraíso. Mas, pense comigo. Se fosse, não teríamos 10 milhões de venezuelanos que saíram ou fugiram do país recentemente.
Stradivarius afirma com autoridade que o que se vive hoje na Venezuela é uma verdadeira diáspora. As pessoas ingênuas falam mal de ditaduras de direita, mas cultuam ditaduras de esquerda, e estupidamente as acham chique… “¿Que mierda es esa, hermano. Que hipocrisia tan grande de esa gente?”
Então, perguntei sobre sua situação e o que o levou a fugir da Venezuela e ele explicou que trabalhara como técnico na empresa de petróleo venezuelana; que a empresa chegou a produzir 4 milhões dias de barris e foi perdendo poder econômico e se escangalhando ao ponto de hoje produzir 300 mil barris, somente; que o petróleo venezuelano era enviado para sustentar Cuba e vendido ao exterior, e o dinheiro desviado para contas bancária dos governantes ligados a Chaves e Maduro.
Stradivarius disse que terminou por sair da empresa e com as economias montou um restaurante, mas que os representantes dos sindicatos, que oferecem sustentação ao governo Maduro, não deixam empresários trabalharem em paz; que de toda compra que um comerciante ou empresário faz, os sindicatos exigem suborno de no mínimo 30%(trinta por cento), inclusive com ameaças tais quais as que vemos na TV em filmes de mafiosos, em que os capangas dos chefões vão pessoalmente ameaçar de morte aos e empresários, independente de ser micro, médio ou grande empresa.
Stradivarius explicou como os representantes dos sindicatos o extorquiam cotidianamente, na base 10 por 3, ou seja, de cada 10 bolívares ganhos com as vendas de seu restaurante tinha de pagar 3 para eles ou sofrer piquetes na frente do restaurante e boicotes ao ponto de terem de fechar o negócio; que esse tipo de extorsão conta com apoio de inúmeros escalões no governo de Maduro. A corrupção na ditadura se generalizou de tal forma, diz o senhor Stradivarius, que todo empresário do setor privado é extorquido.
Disse-me que a gota d’água foi quando começou a receber telefonemas a qualquer hora da noite ameaçando a ele, esposa e filhos, caso não pagasse a propina/suborno exigido na extorsão. Ele olhou-me fixamente pelo retrovisor, por um instante, e disse: – Socialismo é um filhote do Comunismo, Hermano. Não passa de uma merda social e econômica! Só quem não vive dentro do regime o defende, ou quem o conhece somente por meio de propaganda ideológica, ou por falas de artistas vazios que cobram caro pelos ingressos dos shows que fazem e ficam defendendo essa ideologia falida.
Stradivarius insistiu em chamar minha atenção para que a esquerda comunista, socialista-bolivariana está unida em toda a América Latina, com a firme determinação de não deixar qualquer outro governo trabalhar em paz. Insistiu que preste atenção no fato de que tão logo um candidato de direita é eleito, eles iniciam boicotes cotidianos, greves de escala nacional e campanhas difamatórias que o velho jargão de que toda pessoa que não é de esquerda é um “fascista”. Os tolos sequer prestam atenção que o fascismo era um regime de esquerda chamado de “Nacional Socialismo”, diz Stradivarius.
Quando senti que o carro havia parado em frente ao shopping “Florida Mall” desejei não ter chegado “tão rápido” ao nosso destino. Este tinha sido mais um dos momentos em minha vida em que conseguira entender que, às vezes, a paisagem do caminho já é a própria viagem… Além disso, ouvir a Stradivarius era como ouvir à música “Nocturne Op.9, No.2 In E Flat, de Fréderic Chopin…
Naquele momento segui pensando, ainda mais forte, nos caminhos tão similares e sombrios que o Brasil tem tomado e no quanto os socialistas e comunistas, cada um com seu “Auto Religioso e Profano” escondido no secreto de suas almas, em verdade adoram ao capitalismo…
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