Durante reunião em Brasília com ministros e governadores, Lula disse que pessoas que possuem problemas mentais têm “desequilíbrio de parafuso”; presidente se desculpou neste sábado (22)
A Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) enviou uma carta ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nesta sexta-feira (21), em uma reação a fala sobre pessoas com deficiências mentais.
Durante uma reunião em Brasília com ministros e governadores, para tratar de ações para prevenir a violência nas escolas, Lula disse que pessoas que possuem problemas mentais têm “desequilíbrio de parafuso”.
“A OMS sempre afirmou que na humanidade deve haver 15% de pessoas com algum problema de deficiência mental. Se esse número é verdadeiro, e você pega o Brasil com 220 milhões de habitantes, significa que temos quase 30 milhões de pessoas com problema de desequilíbrio de parafuso. Pode uma hora acontecer uma desgraça”, disse.
Assinada pelo presidente da ABP, Dr. Antônio Geraldo da Silva, a carta criticou a atitude do presidente, a fez um convite para ajudar na luta contra a Psicofobia e a desassistência.
“Escrevo essa carta aberta ao senhor com uma missão: combater o preconceito e a desassistência aos doentes mentais. Trabalho contra o preconceito desde sempre. Agora, 12 anos depois, nos sentimos mais uma vez atacados e agredidos”.
“Hoje temos no Brasil uma psiquatria de referência mundial, mas não conseguimos oferecer esse mesmo atendimento no serviço público, mesmo tendo nos dois serviços os mesmos profissionais de saúde. Ainda há muito por fazer e por isso contamos com o senhor para que juntos possamos acabar com a Psicofobia e com a desassistência em nosso país”.
Após as declarações, o presidente Lula utilizou as suas redes sociais para se desculpar. “Não devemos relacionar qualquer tipo de violência a pessoas com deficiência ou pessoas que tenham questões de saúde mental”, disse.
Veja a íntegra da carta
“Escrevo essa carta aberta ao senhor com uma missão: combater o preconceito e a desassistência aos doentes mentais. Trabalho contra o preconceito desde sempre, mas em 2011 criei o neologismo Psicofobia para descrever o estigma que padecentes de deficiências e transtornos mentais vivem, fiz com a intenção de ajudar mais de 70 milhões de pessoas em nosso país. Agora, 12 anos depois, no mês (abril) dedicado a falarmos sobre a Psicofobia, nos sentimos mais uma vez atacados e agredidos.
Hoje eu lhe afirmo que 95% dos atos de violência no Brasil não são cometidos por deficientes e doentes mentais e que eles são mais vítimas de preconceito estrutural, violência do Estado e da sociedade. Isso precisa acabar!
Presidente, acredito que combater o preconceito significa também denunciar a desassistência e o abandono. Por isso convido o senhor para fazer parte da nossa campanha contra a Psicofobia e nos ajudar a acabar com todas essas violências. Sabemos que o tratamento da doenças mentais precisa ser multidisciplinar, com serviços de promoção da saúde, prevenção de doenças e assistência primária, secundária e terciária, com capacidade para exames médicos, com acesso a medicamentos psicotrópicos nas Farmácias Populares e acompanhamento terapêutico multidisciplinar.
Hoje temos no Brasil uma psiquatria de referência mundial, mas não conseguimos oferecer esse mesmo atendimento no serviço público, mesmo tendo nos dois serviços os mesmos profissionais de saúde. Ainda há muito por fazer e por isso contamos com o senhor para que juntos possamos acabar com a Psicofobia e com a desassistência em nosso país.
Despeço-me na certeza de que o senhor aceitará o nosso convite e estará ao nosso lado nessa campanha. Colocamo-nos à disposição para quaisquer esclarecimentos.
Desde já agradecemos a atenção. Cordialmente”
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