Sidelcy Ludovico

A questão da sustentabilidade na moda

A moda constitui-se em uma das cadeias industriais que mais poluem, haja vista que usa matéria-prima que demora a decompor-se como fibras 100% algodão, cambraia, tricoline etc., em média 6 meses, fibras sintéticas, poliamida, nylon etc., em média de 30 a 40 anos, ou o couro sintético ou tecido sintético, feito de polímeros de poliuretano, a partir do petróleo, 300 anos.

Além disso, o corriqueiro uso dessas matérias-primas e o incorreto uso do solo para o despejo dos resíduos têxteis são fatores de ameaças constantes ao meio ambiente fazendo-se necessário a adoção de providências que evitem a sua degradação como o recolhimento dos resíduos têxteis por empresas especializadas garantindo o seu correto descarte.

Alie-se a isso a utilização pela indústria da moda de grande quantidade de energia, água e de produtos químicos nocivos que refletem não somente no meio ambiente, mas também na saúde humana.

Ademais, a moda constitui-se em um dos grandes vilões das agressões ambientais porque as empresas não procuram adequar seus processos de produção com a geração de uma menor quantidade de resíduos tóxicos.

Por isso o uso equilibrado dos recursos naturais na indústria da moda torna-se tema relevante pois deve considerar a necessidade de seu uso para satisfação do bem-estar atual da sociedade e a existência das gerações futuras que em tese também tem o mesmo direito ao uso desses recursos e não poderão usar do meio ambiente degradado ou sem condições deixado por nós.

Assim, importante que tenhamos uma noção do conceito amplamente divulgado de sustentabilidade. Segundo especialistas no assunto o termo “Sustentabilidade” surge, pela primeira vez, vinculado ao documento publicado pelo Clube de Roma, intitulado “Os Limites do Crescimento”, no qual existia uma proposta de crescimento zero.

A sustentabilidade de acordo com os estudiosos possui um conceito sistêmico porque relaciona-se com a continuidade dos aspectos econômicos, sociais, culturais e ambientais da sociedade humana além de estar ligada aos interesses de preservação do meio ambiente no qual vivemos, e funda-se em quatro pilares que lhes dão suporte.

Os pilares nos quais se funda a sustentabilidade são o ecológico, o econômico, o social e o cultural. O pilar ecológico funda-se na existência de classes ecológicas fundamentais para melhorar a nossa qualidade de vida pensando, todavia, nas gerações futuras.

O pilar econômico funda-se na necessidade que as empresas contribuam com a evolução da sustentabilidade reconhecendo-se que os negócios da moda necessitam de mercados estáveis, de habilidades tecnológicas, financeiras e de bom gerenciamento para que possam progredir rumo ao desenvolvimento sustentável. Um exemplo desse pilar é o  recente desenvolvimento, pelos mexicanos Adrián López Velarde e Marte Cazarez, do tecido de cacto.

Pelo pilar social propõe-se, em síntese, salários mais  justos e condições mais humanas nos ambientes de trabalho da moda e pelo pilar cultural propõe-se novas formas de interação privilegiando-se às culturas regionais e locais.

Evidente que se constitui em um grande desafio conciliar os princípios da sustentabilidade com a viabilidade dos fatores econômicos e a diminuição dos impactos ao meio ambiente no desenvolvimento da moda.

Contudo, a responsabilidade por essa conciliação não restringe-se apenas aos empreendedores de moda, mas destina-se também aos designers de moda que precisam conscientizar-se de sua importância nesse cenário pois são eles que desenvolvem e escolhem as matérias-primas que serão utilizadas no processo de elaboração do produto.

O designer de moda tem assim um papel de extrema relevância na escolha e aplicação dos materiais empregados em produtos de produção em série, como o prêt-à-porter ou ready to wear, principalmente quando contratado para gerir uma coleção de produtos de vestuário.

Ora mesmo sabendo que não vai estar envolvido com a origem ou com o fim desses materiais ao cessar o ciclo de vida dos produtos o designer de moda deve ter consciência que sua criação ao sair da indústria gera resíduos têxteis que podem causar danos ao meio ambiente e a saúde humana.

E um dos meios indicados pelos especialistas de atingir essa finalidade constitui-se no uso da criatividade pelo empreendedor e pelo designer de moda como elemento impulsionador para imaginar um produto que satisfaça as necessidades dos consumidores, com menos recursos e menos trabalho permitindo assim soluções mais benéficas para problemas cada vez mais complexos.

Nesse contexto, importante que as empresas da indústria da moda repensem o seu crescimento e busquem soluções ecológicas e tecnológicas, aliadas a produtos com mais durabilidade, com preços mais justos e estratégias de vida longa, como o slow fashion, afastando-se de forma planejada e coordenada do fast-fashion ou moda rápida utilizada para produção veloz e contínua de novos produtos.

E essa medida torna-se cada vez mais significativa porque as novas gerações estão cada vez mais engajadas com a questão da sustentabilidade dos produtos da moda e o comprometimento do empreendedor e do design de moda com essa questão fará com que a imagem da marca fortaleça-se perante esses consumidores despertando seu interesse e admiração.

 

 

 

 

 

 

 

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Imperatriz das Imperatrizes

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