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A História da Educação e do Ensino. Episódio de hoje: O período homérico (Parte 3)

Direto de Brasília-DF.

No período pré-homérico (1.200 a 800 a.C) a população grega era de analfabetos em maioria. A educação e o ensino  estavam baseados na tradição oral, sobretudo nas narrativas de Homero (a Ilíada e a Odisseia que tornam-se livros textos, no século IX a.C).

Entenda que o fato de ser designada como “tradição oral” não quer dizer que tudo era falado. A escrita já existia. A tradição oral traduz-se pelo fato de o livro texto ser os livros de Homero e no restante a ênfase ser posta na retórica e nas discussões de temas e disciplinas sistêmicas como viria a ocorrer com as escolas de Epicuro, Platão e Aristóteles e outros filósofos professores.

No Período Homérico trabalhava-se o ensino e aprendizado à partir dos atos heróicos humanos, que serviam de fundamento para fortalecer o espírito educacional grego.

Com a Ilíada e a Odisseia o processo educacional e de ensino grego se fundamenta na figura de Aquiles (o guerreiro), de Nestor (modelo de sabedoria)e de Agamenon, o grande líder.

Sobre os heróis Aquiles e Ulisses, além de grandes oradores, o escritor Thomas Giles diz que “serão também modelo da verdadeira virtude, da honra e superioridade no cumprimento do dever. São modelo daqueles que vencem apesar de todos os obstáculos”.

A dicotomia entre direitos e deveres nos tempos de Homero não era entendida como a compreendemos hoje. O sentido era mais de uma “via de mão única” em que aos homens cabiam deveres, tanto na sociedade quanto para com a sociedade em que habitavam.

O pensamento grego foi, por séculos, moldado para reconhecer os méritos de heróis que em razão de talentos e poderes especiais lutavam contra monstros mitológicos e deuses que possuíam características humanas. Os deuses de sua mitologia na verdade espelhavam os homens com suas virtudes e fraquezas. Certo, porém, é que as virtudes deveriam ser empregadas na proteção e evolução do próprio homem, como você pode ler na mitologia grega e até nos filmes que são produzidos sobre a Grécia Antiga. Quanto às fraquezas deveriam ser trabalhadas, mas sem a condenação do tradicional sentimento de culpa que outras civilizações agregaram ao viver humano, principalmente quando são mais religiosas.

O Ensino na Grécia Antiga diferiu do Egito Antigo, pois neste as crianças iniciavam os estudos aos sete anos de idade e permaneciam, em regra, até os vinte e quatro.

Entre os gregos pré-homéricos os filhos ficavam com suas famílias até os 18 anos sendo educados na tradição oral, inicialmente. Após este período eram treinados em artes militares, caça, pesca, música, história e poesia. Não havia livros didáticos. A tradição era oral. A obra do escritor Homero (Ilíada e Odisseia) só viria a se tornar uma espécie de “livro texto”, no séc. IX, ou seja, no fim do próprio período homérico.

A mitologia era parte integrante desse modus vivendis grego, sendo Zeus o maioral dos deuses, Apolo o deus do sol, Athenas a deusa da guerra e Hades, o deus do inferno ou do mundo além.

A mitologia egípcia, assíria e caldeia também era determinante na vida sócio-educacional desses povos antigos. A diferença entre eles e os gregos é que estes não viam superioridade em seus deuses em relação aos homens.

Os gregos não serviam aos deuses. O conceito que tinham é que seus deuses é que deveriam servi-los. Esse antropocentrismo vai catapultar a liberdade de pensar e alavancar a literatura, as artes, a ciência e a consciência para o progresso da humanidade. Todos os deuses da mitologia grega possuíam características especiais ou força extraordinária, mas nenhum deles era considerado MAIOR que o próprio homem!

Em verdade, ao contrário da concepção cristã de que os homens haviam sido feitos à imagem de seu Deus, para os gregos os deuses é que eram feitos à imagem de seus homens, fortes ou não, virtuosos ou não. Thomas Giles diz que “Para tal visão da religião, a moralidade não entrava em consideração”.

Aos poucos o período homérico migra do analfabetismo e da tradição oral(na qual se enfatizava a Eloquência por meio da Retórica) para o ensino da Música, da História e da Poesia e as atividades de ler e escrever começam a suplantar a tradição oral, a sedimentar e solidificar a cultura grega antiga. Por óbvio que ler e escrever são atividades absolutamente vinculadas ao surgimento de livros em quantidade e qualidade que terminarão por criar o legado científico-literário que hoje conhecemos.

A escrita e a leitura consolidam-se como atividades revolucionárias do pensar e da perpetuação do conhecimento humano e nesta jornada em que o ser humano é posto no centro do universo, com ênfase na primazia da Razão, a Grécia Antiga em cerca de 400 anos (aproximadamente dez gerações) revolucionou e segue revolucionando o pensar humano.

Até breve!

 

Sobre o autor

Formado em Direito, Pós-graduado em Política e Estratégia pela Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra (ADESG) e pela Universidade de Brasília (UnB). Concluiu Doutorado em Ciências Jurídicas e Sociais na Universidad Del Museu Social Argentino, Buenos Aires-AR, em 2012 e Pós-Doutorado em Tradição Civilística e Direito Comparado pela Universidade de Roma Tor Vergata. Professor de Hermenêutica Jurídica e Direito Penal nas Faculdades Integradas do Planalto Central e de Direito Penal, Processo Penal e Administrativo em cursos preparatórios para concursos, por 19 anos, em Brasília, Goiânia, Belo Horizonte e Porto Alegre. É Palestrante. Já proferiu palestras na Universidade de Vigo-Espanha e Universidade do Minho, Braga-Portugal, sobre seu livro e, Ciências Sociais "A mulher e sua luta épica contra o machismo". Proferiu palestra na University of Columbia em NYC-US, sobre sua Enciclopédia Corruption in the World, traduzida ao inglês e lançada pela editora AUTHORHOUSE em novembro/2018 nos EUA. É Escritor com mais de 15 livros jurídicos, sociais e literários. Está publicado em 4 idiomas: português, espanhol, inglês e francês. Premiado pelo The International Latino Book Awars-ILBA em 2013 pelo romance de ficção e espionagem “O gestor, o político e o ladrão” e em 2018 mais dois livros: A novela satírica, Sivirino com “I” e o Deus da Pedra do Navio e o livro de autodesenvolvimento “Obstinação – O lema dos que vencem”, com premiação em Los Angeles/EUA. Seu livro de poemas “Rasgos no véu da solidão”, em tradução bilíngue português/francês foi lançado em junho/2018 na França. Eleito em 17/11/2018 para o triênio 2019/2021, Diretor Jurídico do SINDESCRITORES (Sindicato dos Escritores do Distrito Federal), o primeiro e mais antigo Sindicato de Escritores do Brasil.

Judivan J. Vieira
Procurador Federal/Fiscal Federal/Federal Attorney
Escritor/Writer - Awarded/Premiado by ILBA
Palestrante/Speaker/Conferenciante

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